17/04/2012 - Terça-feira, 19:37
Com certo consolo, a população vê interrompida a destruição dos casarões históricos da Rua Floriano Peixoto. Pouco resta do que existia. O porão e a varanda da casa da Mariazinha estão à vista de quem sobe o Morro do Cemitério. Não sabemos se a interrupção acontece por decisão judicial, ou por outro motivo.
O que foi a Casa da Mariazinha, ao lado a do Sr. Chicre Amin. Imagem: Isah Baptista
A demolição de maneira precipitada causou comoção na sociedade rio-branquense e quantos haviam se habituado ao cenário de prédios de valor histórico e artístico, com os detalhes de suas fachadas trabalhadas de forma artesanal e de muita criatividade. Faziam parte do conjunto construído em passado remoto, juntamente com o prédio principal - transformado no Conservatório Estadual de Música - pelo Dr. Jorge Carone, ancestral de numerosa prole que participou de maneira ativa na vida política e social de Visconde do Rio Branco. Dois de seus filhos foram aqui prefeitos eleitos: Jorge Carone Filho e Júlio Carone. O Julinho morava em uma das três casas demolidas, a que ficava entre a Caixa Econômica Federal e a do Sr. Chicre Amin.
O que foi a casa do Sr. Chicre Amin; ao lado vê o telhadado do que foi a casa de Júlio Carone. Imagem: Isah Baptista
Dr. Jorge era filho do baiano João Carone. Mudou-se do Rio de Janeiro para esta terra e ergueu a mansão que hoje é símbolo arquitetônico do Município, e centro do conjunto em discussão.
Mansão construída pelo Dr. Jorge Carone, transformada em Conservatório de Música. Imagem: Isah Baptista
Aqueles imóveis eram inventariados. Isto significa que estariam em vias de tombamento, a depender de pareceres técnicos e análises instruídas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG. “O Instituto tem atuação de caráter normativo e presta serviços na execução direta ou na supervisão e fiscalização de intervenções. Além disso, dá assessoria a prefeituras municipais e comunidades, contribuindo para a preservação e divulgação do patrimônio cultural mineiro.”
Não houve divulgação antecipada se aconteceu consulta a esse órgão para proceder à demolição. Se tivesse havido, a população não teria sido apanhada de surpresa praticamente diante do fato consumado. Marco Aurélio, neto do Dr. Jorge Carone, tomou conhecimento em Belo Horizonte, através deste jornal. E manifestou tristeza e intenção de recorrer à Justiça.
A população se encontra em situação de ansiedade, sem saber do possível desfecho. Se a demolição e a consequente obra forem suspensas, fica a interrogação quanto à recuperação dos bens com as características originais.
O processo de tombamento ou não dependeria de análise sobre o inventário, que certamente apontaria a procedência de suas condições estruturais e históricas, ou negaria para ser liberado para o fim desejado por seus proprietários ou promitentes compradores.
Por enquanto, há um tempo para respirar. Se o processo correr via judicial, as partes vencidas em cada decisão poderão impetrar recursos até as últimas instâncias, a não ser que haja desistência.
Na primeira hipótese, a decisão vai longe.
Na Ata do dia cindo de dezembro de 2011 do CONSELHO CONSULTIVO MUNICIPAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO VISCONDE DO RIO BRANCO –MG, está escrito que “A Sra. Laíse Pinto faz então um pedido de laudos emitido por outros profissionais contratados ou mesmo do IEPHA, para que não se estabeleçam arbitrariedades”. Não há notícia de que esse procedimento tenha sido realizado.
Esta polêmica serve de alerta para pretensões semelhantes para o futuro. Se os interessados na demolição vencerem a contenda, adeus patrimônio público histórico e cultural de Visconde do Rio Branco! Podemos estar preparados que o restante estará com os dias contados. E o centro da cidade perderá os valores positivos de sua memória. Se acontecer o contrário, a esperança da conservação do que há de melhor será restabelecida.
O imponente prédio do ex-Grande Hotel.
Praça 28 de Setembro com prédios históricos artísticos misturados aos modernos. Imagem: Isah Baptista
Antiga Praça a 28 de Setembro, com prédios históricos perdidos à modernidade.
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