25/04/2012 - Quarta-feira, 16:44
( Edir Macedo)
Deus se viu às voltas com uma situação inusitada: uma greve dos anjos. Reivindicavam melhores condições de trabalho. Para começar, o fim do livre arbítrio. Não suportavam mais ter que zelar pela espécie humana, sem poder de voto ou veto nos nossos atos. Era um tal de se despencar de pára-quedas, correr de moto a mais de 250 km/h, escalar montanha, escorregar em tabuinhas pela neve abaixo... E é um tal de andar por ruas desertas à noite, se apaixonar pela pessoa errada, encher a cara, enfiar dedo em tomada, engolir grampos, alfinetes e chicletes...
Os argumentos eram sólidos, mas Deus tinha contra-argumentos também bastante concretos: o livre arbítrio era direito adquirido, não dava para tirar assim. A lei não retroage para prejudicar nem nos assuntos do Todo Poderoso.
Na mesa de negociações, o impasse instalado. O corpo celestial havia determinado a continuidade apenas dos serviços essenciais, um pequeno percentual de anjos atuando em operação tartaruga. E tome acontecer desgraça: enchente, terremoto, tsunami, terrorismo...
O Pai já começava a perder a paciência quando um querubim aproximou-se, timidamente:
- Senhor, e se houvesse alguém para nos ajudar com o trabalho?
A discussão tomou novo rumo. Todos gostaram da idéia, mas quem seriam os anjos auxiliares? Quem seria capaz de cuidar de nós, nos acompanhar em nossos melhores momentos, mas também estar ao nosso lado nos piores? Teriam que ser pessoas como nós, mas com o mágico poder de nos fazer rir ou nos permitir chorar quando for o que realmente precisarmos. Deveriam compreender a hora certa de nos incentivar a gastar ou a economizar, correr riscos ou evitá-los, amar ou proteger o coração. Precisariam esbanjar paciência para ouvir nossas velhas piadas e rir delas, nossas eternas lamúrias e nos consolar, repetindo, incansáveis e esperançosos, os mesmos conselhos de sempre e que sempre fazemos questão de ignorar.
Depois de uma longa reunião, com direito a muitos cafezinhos e até uns pães de queijo --que alguém trouxe de Minas--, finalmente, chegaram a uma conclusão. A greve se encerrou ali.
Assim, Deus criou...os AMIGOS.
"Eu não quero ter razão, eu quero é ser feliz." (Ferreira Gullar)
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