quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ensinos Espiritualistas – Sayonara(QUARAÍ-RS) - Mediunicamente

25/04/2012 - Quarta-feira, 16:24



Recebidos por


William Stainton Moses

Introdução
As comunicações que formam o conjunto deste volume são oriundas do processo bem conhecido sob o nome de escrita automática, ou passiva, que é preciso distinguir-se da psicografia. No primeiro caso, o psíquico segura a pena ou o lápis, ou coloca a mão sobre a prancheta, e a comunicação é escrita sem a intervenção consciente do seu espírito. No segundo, a escrita é direta ou obtida sem que a mão do psíquico seja empregada e algumas vezes mesmo sem pena nem lápis.
A escrita automática é um método muito conhecido para a comunicação com o mundo invisível, a que vagamente chamamos o dos Espíritos. Emprego esta palavra por ser a mais inteligível, sem querer entrar em discussão com os que a julgam imprópria. Os meus interlocutores chamam-se Espíritos, talvez porque eu os qualifique assim, e Espíritos ficam sendo para mim.
Há exatamente dez anos, em 30 de março de 1873, essas comunicações começaram a ser traçadas pelo meu punho, cerca de um ano depois das minhas primeiras investigações sobre o espiritualismo. Antes de escrever, tinha eu recebido várias comunicações e esse meio foi adotado já por ser mais cômodo, já por conservar um corpo de ensino seguido. O laborioso método de dar as comunicações por meio de pancadas era evidentemente pouco apropriado para receber instruções como as que compõem este volume. Se elas tivessem sido enunciadas pelos lábios do médium em transe podiam perder-se em parte; demais, seria impossível confiar na passividade mental do psíquico sem temer algum reflexo das suas idéias.
Habitualmente eu levava comigo um caderno e descobri logo que a escrita era muito mais corrente quando o caderno era impregnado com a aura psíquica, assim como as pancadas eram mais facilmente vibradas na mesa que serve habitualmente às experiências. Quando Slade não podia receber comunicações numa ardósia nova, conseguia-o se segurasse a dele. Não sou responsável por esse fato, cuja causa é suficientemente inteligível.
Primeiramente a escrita era muito miúda e irregular; via-me forçado a escrever lentamente e a vigiar a mão, seguindo as linhas com a vista; sem essa precaução, o ditado tornava-se logo incoerente e acabava em garatujas.
Passado pouco tempo, prescindi desses cuidados. À medida que a escrita se tornava cada vez mais exata, a sua regularidade e beleza aumentavam. Algumas páginas são soberbos espécimes de caligrafia. As respostas às minhas consultas (escritas no alto das folhas) estão em parágrafos e arranjados como para a imprensa; o nome de Deus era sempre traçado em letras maiúsculas, lentamente, e por assim dizer com veneração. O assunto tratado era sempre de caráter puro e elevado; muitas dessas comunicações são-me pessoais, ditadas para me guiar. As comunicações escritas sucederam-se sem interrupção até 1880 e nunca se afastaram do alvo visado e repetido incessantemente: instruir, esclarecer, guiar por Espíritos dignos de preencher essa tarefa; nelas jamais descobri nem de leve nada de incoerente; nem gracejos, nem vulgaridades, nem inconveniências; nem, a meu ver, afirmações falsas ou capazes de transtornar alguém. Esses Espíritos, julgados assim como eu próprio queria sê-lo, eram o que diziam ser: sinceros, graves, sérios.
As primeiras comunicações foram todas de estilo uniforme, escritas em pequenos caracteres e assinados por Doctor (o instrutor). Durante os anos que se seguiram, nunca variou a forma dessas comunicações. Qualquer que fosse o local ou a ocasião em que ele escrevia, a sua escrita era idêntica, sofrendo menos mudança que a minha nos últimos dez anos. O fraseado era o mesmo, breve; sentíamo-nos em presença de uma individualidade bem determinada. Para mim, era alguém com todas as particularidades mentais e morais tão nitidamente definidas como as dos seres humanos com os quais estou em contato, se na verdade não erro fazendo essa comparação.
Depois de um certo tempo, vieram comunicações de outras fontes; cada qual se distinguia pela sua própria escrita e característicos pessoais de estilo e expressão, que, uma vez manifestados, continuavam invariáveis. Cheguei a poder dizer imediatamente quem escrevia, lançando os olhos para a caligrafia.
Pouco a pouco descobri que muitos Espíritos, não podendo por si mesmos influenciar-me a mão, recorriam ao auxílio de um Espírito, Rector, que, sem dúvida, escrevia com mais desembaraço e causava-me menos fadiga, porquanto a escrita feita por um Espírito estreante era muitas vezes incoerente e produzia sempre uma tensão dolorosa no meu sistema nervoso. Ignorava ele que a reserva das minhas forças se esgotava com rapidez, fazendo-me sofrer proporcionalmente.
A escrita do Espírito que servia assim de secretário era corrente, fácil de se decifrar, enquanto a de outros Espíritos era acanhada, de forma arcaica, penosamente traçada e quase ilegível. Desse modo e como uma coisa perfeitamente natural escrevia Rector; mas, quando um Espírito se apresentava pela primeira vez ou quando desejávamos se confirmasse a comunicação, o Espírito responsável por ela era o próprio que escrevia.
Não se deve concluir que todas as mensagens proviessem de uma inspiração única; entretanto, a maior parte das contidas neste livro estão nesse caso. Este volume é o resumo de um período durante o qual somente Imperator se ocupou comigo, sem que nunca tentasse escrever, pois Rector lhe servia de amanuensis. Mais tarde as comunicações pareciam emanar de um grupo de Espíritos associados que empregavam esse secretário Rector para transcrever suas instruções; isso cada vez mais se acentuou durante os cinco últimos anos em que recebi as comunicações.
As circunstâncias que acompanhavam o recebimento dos ditados variavam ao infinito. Entretanto, em regra geral, era necessário que eu ficasse insulado; quanto mais passivo estava o meu espírito, mais facilmente se obtinham as comunicações; todavia, tenho-as recebido em todas as condições. O começo foi difícil, pois era preciso adquirir com o hábito o mecanismo e, quando isso se realizou, as páginas encheram-se rapidamente. Os espécimes de assuntos contidos na presente obra podem permitir ao leitor apreciar-lhe o valor.
O que está impresso hoje foi revisto por um método semelhante ao empregado para o escrever. Publicadas primeiramente no jornal O Espiritualista, as comunicações foram revistas, sem ser alteradas em substância por aqueles que as tinham ditado. Quando iniciei em O Espiritualista a publicação, eu não tinha nenhum intento de fazer o que se executa agora. Alguns amigos desejaram que fossem publicados alguns espécimes, e as escolhas foram feitas sem que se pensasse na continuação. Dominava-me o escrúpulo de dar à publicidade o que me era íntimo e pessoal e por necessidade excluí tudo o que podia conter alusões a pessoas ainda vivas, que eu não tinha o direito de pôr em evidência. Algumas das mais notáveis comunicações foram suprimidas, devendo o que está impresso ser considerado uma simples amostra do que não pode atualmente ser apresentado ao domínio público, e que deve ser reservado para uma época futura em que a ninguém mais magoará o assunto.
É interessante saber se os meus próprios pensamentos exerceram uma influência qualquer nos assuntos tratados nos ditados, apesar de ter tomado as maiores precauções para que esse fato não acontecesse. Ao começo, a escrita era lenta, sendo eu obrigado a segui-la com os olhos, mas, mesmo nesse caso, as idéias não eram minhas. De fato, as comunicações tomaram logo um caráter sobre o qual não podia eu ter dúvidas, pois que as opiniões emitidas eram contrárias ao meu modo de pensar. Distraía-me propositadamente durante o tempo em que a escrita se produzia e cheguei a abstrair-me na leitura de um livro e a seguir um raciocínio cerrado, enquanto a minha mão escrevia com constante regularidade. As comunicações assim dadas enchiam inúmeras páginas, sem haver correção nem faltas de composição, revelando muitas vezes um estilo belo e vigoroso.
Não deixo, entretanto, de convir que o meu próprio espírito era utilizado e que o que era ditado podia depender, quanto à forma, das faculdades mentais do médium. Segundo me parece, pode-se sempre achar o traço das particularidades do médium nas comunicações assim obtidas e isso não podia deixar de acontecer. Mas o certo é que a massa das idéias que passaram por mim era hostil, oposta em seu conjunto às minhas convicções estabelecidas; demais, em várias ocasiões, algumas informações que eu ignorava completamente foram-me dadas claras, precisas, definidas, fáceis de verificar e sempre exatas. Em muitas das nossas sessões, os espíritos que se manifestavam batiam na mesa dando informações sobre eles mesmos, muito nítidas e verídicas segundo a nossa verificação. Recebi, repetidas vezes, tais comunicações por meio da escrita automática.
Posso afirmar positivamente e provar que, de uma feita, recebi uma informação inteiramente nova para mim; em outros casos creio igualmente que eu estivesse em relação com uma Inteligência exterior, porquanto me apresentava idéias totalmente diversas das minhas. A natureza do assunto e a qualidade inerente de muitas comunicações contidas neste volume conduzirão provavelmente o leitor à mesma conclusão.
Jamais pude dirigir a escrita, que aliás se manifestava espontaneamente, sendo que, quando eu a desejava, era a maior parte das vezes incapaz de obtê-la. Um repentino impulso, vindo não sei como, me obrigava a sentar-me e a preparar-me para escrever. Durante o período em que essas comunicações foram regulares, eu me tinha habituado a consagrar a primeira hora do dia em esperá-las. Levantava-me cedo e passava esse tempo matinal no quarto, unicamente consagrado ao que eu tinha em mente e, por fim, ao serviço religioso. A escrita vinha então freqüentemente, mas eu não podia de modo algum com ela. Comunicações espirituais se produziam sob outras formas; era raro que eu não recebesse alguma, salvo quando me achava doente – o que aconteceu muitas vezes nos últimos anos, dando origem ao seu desaparecimento.
As comunicações especiais oriundas do Espírito que eu conhecia pelo nome de Imperator marcam uma época na minha vida. Notei a intensa exaltação de espírito, a luta veemente e os intervalos de paz (a que ansiosamente aspirei sem a eles chegar, salvo raríssimas vezes), os quais marcaram a sua transmissão. Foi esse um período de educação durante o qual fui submetido a um desenvolvimento espiritual, que era de fato uma verdadeira regeneração. Não posso exprimir, não tento mesmo fazer compreender o que então experimentei. Mas talvez algumas inteligências conheçam em seu foro íntimo as atribuições da alma e concebam que a certeza da ação benéfica do espírito exterior sobre mim ficou finalmente estabelecida. Jamais depois disso mantive uma dúvida séria, mesmo nos desvarios do meu espírito extremamente céptico.
Esta introdução tornou-se em autobiografia de modo aliás muito desagradável para mim. Posso apenas alegar que tenho razão, por reconhecer que a história da luta de um espírito com uma alma pesquisadora tem auxiliado os outros. É infelizmente necessário falar de mim próprio, a fim de tornar este livro inteligível. Lastimo a necessidade disso, a que me submeto apenas pela convicção de poder ser útil a alguém. Suponho que duas almas não empregam jamais o mesmo método para descobrir a luz, mas creio que as necessidades e dificuldades de cada espírito têm uma semelhança de família e que vou talvez prestar serviço a alguns, no futuro, assim como ensinar-lhes o modo pelo qual me tenho esclarecido.
A forma dessas mensagens, a maneira pela qual foram obtidas, a sua influência educadora sobre mim, são ínfimos acessórios; o importante é o valor intrínseco, a afirmação, o objeto revelado, a verdade essencial que contêm. Para muitas pessoas elas serão absolutamente sem alcance, porque a sua verdade não é verdade para elas; para outras, tais comunicações serão simplesmente curiosas; para outras, ainda, serão um conto fútil. Não espero que elas tenham aceitação geral e dar-me-ei por satisfeito se puderem simplesmente prestar serviço a alguém.
30 de março de 1883.
W. Stainton Moses
Leia na próxiama Edição:  amanhã, quinta,26
Seção I

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