24/05/2012 - Quinta-feira
Faz tempo que a população manifestava a intuição de necessitar descentralizar as atividades do Município.
A Praça 28 de Setembro e seus arredores suportaram, enquanto puderam, o giro de todos os negócios em seu entorno. Há mais de quarenta anos, ouvíamos desabafos sinceros de quem se expressava da maneira mais espontânea:
- A cidade tem que se expandir, gente! Crescer para os cantos! Por que tudo tem que ser na Praça?
Pefeitura, Matriz, Balaústres. Imagem: Isah Baptista.
Parece que os idealizadores do Hospital São João Batista foram os primeiros a pensar longe, com muito tempo de antecedência, quando em frente mal passava uma trilha de morro em direção a Ubá.
Hospital São João Batista. Imagem: Isah Baptista
A idéia de Paróquia, vinda dos tempos coloniais, predominava, ainda mais que, como tantas cidadezinhas mineiras, havia a estação ferroviária muito perto da Igreja Matriz e da Prefeitura, em cujo prédio funcionavam a Câmara de Vereadores e o Fórum.
Estação Ferroviária. Imagem: Isah Baptista
O Largo, como era chamada a Praça, parecia o centro de um trevo, com a Água Limpa, a Rua Nova, a Santo Antônio, o Barreiro e a Rua do Rosário a fazer ligações com as cidades vizinhas e a zona rural.
Enquanto os carros de bois eram o principal meio de transporte no município, tudo se arranjava lentamente, conforme sua natureza. À medida que os veículos motorizados foram chegando e aumentando, o centro da cidade sentiu-se congestionado e pequeno, tanto para o movimento, quanto para o estacionamento.
Praça 28 de Setembro> Congestionamento e desarmonia das construções. Imagem: Isah Batista.
A população residente crescia pouco, porque o emprego durante somente os seis meses de safra das usinas era insuficiente para o trabalhador manter-se o ano inteiro. Quem chegava à maioridade e tirava os documentos necessários ia para o Rio de Janeiro ou São Paulo logo depois da Revolução Industrial dos anos 30.
Mas foi um ciclo que teve limites. As cidades grandes cresceram demais; o pleno emprego deixou de ser pleno. O inchaço urbano ficou violento e os rio-branquenses pararam de sair. Muitos voltaram.
Sem planejamento, começaram a surgir os barracos sobre barrancos. Nasceram os primeiros bairros com traços de urbanização: São Jorge e Jardim Alice. Isto por volta dos anos 50 do Século Passado.
Vista panorâmica, a partir do Bairro Jardim Alice. Imagem: Edgard Amin
A partir dos anos 90, a inversão do êxodo rural passou trazer números elevados de pessoas que haviam deixado a roça a troco de São Paulo. E a explosão dos bairros foi acontecendo para os altos dos morros de maneira desordenada, sem observância dos impactos ambientais e dos aclives fortes.
O conceito de que “a cidade tem de crescer para os cantos” estava em marcha de maneira explosiva. Os que preconizavam esse tipo de crescimento pareciam antever que o centro não comportaria tal inchaço. Ao mesmo tempo, havia um temor inconsciente de que o patrimônio histórico e cultural pudesse ser abalado se todas as atividades permanecessem no centro “paroquial”. Afinal de contas, os moradores dos subúrbios e dos bairros periféricos teriam que “vir à missa”, procurar saúde, fazer suas compras, e resolver seus negócios nos mesmos lugares.
Agora são muitos os veículos motorizados, não mais os lentos carros de bois. As vias públicas são limitadas. Congestionam-se. Há pouco espaço para estacionamento.
Agora podemos ver construções novas misturadas a verdadeiras relíquias históricas. O perfil estético fica desqualificado. O novo, com cara de bons negócios, tem pouco ou nada de qualidade artística, criatividade, toque artesanal. O antigo está tremendo de medo de ser derrubado para dar lugar a um espigão de aluguel caro e altas despesas de condomínio.
Praça 28 de Setembro. Imagem: Isah Baptista
Depois que acabaram com o Estádio do Bouchardet, do Esporte Clube Brasil e ameaçaram transformar o Estádio da Boa Vista Joseph Lambert em condomínio fechado, todo o patrimônio histórico e cultural se vê ameaçado. O centro está congestionado. É tempo também de os bons negócios imobiliários se descentralizarem. Há muito espaço fora do centro histórico.
Na própria Rua Floriano Peixoto, onde derrubaram de uma vez só três prédios inventariados – em vias de tombamento – existe do outro lado do morro, pouco antes de chegar à Voluntários da Pátria, um terreno vazio à direita de quem desce, logo depois da entrada para o Bairro Centenário.
O Terminal Rodoviário está dois quilômetros distante da Praça 28 de Setembro. A Rua Santo Antônio tem Supermercado funcionando, além de oficinas de mecânica e de lanternagem; a Rua Major Felicíssimo também; do mesmo modo que a Av. Theophille Dubreil – Barra dos Coutos, o final da Av. Dr. Carlos Soares – Filipinho; a Rua Avelino Cardoso – Piedade; e o grande Barreiro.
Em quase todos os cantos da cidade existem atividades que lhes dão vida própria, sem dependência do Centro.
Até a “sagrada vida paroquial” está se expandindo. O Barreiro tem a sua Paróquia de São Sebastião. A antiga Igreja de Santo Antônio está em vias de se transformar em paróquia.
Paróquia de São Sebastião - Barreiro. Imagem: Isah Baptista
Por que essa fixação no patrimônio histórico que tanto mexe na alma e na identidade de nossa gente?
Para se ter uma idéia, o que tem de rio-branquenses movimentando-se na Internet com exposições de imagens antigas, é uma coisa inusitada. Ninguém esperava um despertar de consciência tão grande. Está sendo como mexer em um sentimento adormecido.
Aeroclube à noite. Imagem: Danton Ferreira
O melhor para acontecer é os empreendedores imobiliários baixarem noutro centro, porque este que gira em torno da Praça 28 de Setembro já foi muito maculado. E merece o respeito ao sentimento dos que preservam o amor pela sua história e sua imagem. Há muitos outros espaços onde as construções serão benéficas e bem-vindas em nome do progresso e do bem estar da população.
Uma solicitação final: planejem!
(Franklin Netto – taxievoce@hotmail.com)
quero me informar sobre minha casa minha vida nessa cidade
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