segunda-feira, 21 de maio de 2012

HISTÓRIA: TORRES E SEUS FANTASMAS, por Bento Barcello


                  21/05/2012 - Segunda-feira
                                   


Para mim, Torres nasceu numa tarde, mais de meio século atrás. Eu era pequeno, brincava e assustei-me com um ronco que vinha do céu. Era um bando de aviões. Nunca tinha visto antes e nem sabia contar. Gente grande e simples falava de guerra. Alguém disse: ”Mataram o presidente!”.Pensei que iam levá-lo para o céu de avião. Havia medo no ar

Torres era tomada de dunas enormes com seus lagos de chuva. Tinha banhados, bosques de eucaliptos e acácias, e as poucas casas eram esparramadas, tendo no centro a vila de Torres, com sua lagoa e, na parte mais alta, o Farol que, às noites, teimava em piscar. Era cercada por matas nativas, praias, o rio e o mar. A atual e nanica SAPT era o prédio mais alto e o único que tinha elevador; lá no valão moravam os granfinos; não havia automóveis, a energia elétrica era gerada aqui mesmo e tinha a sanga da água, que abastecia a cidade .

Torres era limpa, pacata e segura, uma poesia. Porto Alegre estava longe; do outro lado do mar ficava o estrangeiro, e o Japão era bem embaixo de nós, lá no fim do mundo, e os japoneses andavam, todos, de cabeça para baixo; além da serra azul ficava o infinito, bem perto de onde a terra toca no céu.

A entrada da cidade continua a mesma, mas era de terra batida e os carros de bois, com suas cantorias, iam e vinham, carregando lenha e outras mercadorias. As redes dos pescadores nativos eram alegres e cheias de peixes enormes, tempos de farturas. A partir daí tivemos duas décadas de desenvolvimento.

Havia hospital, posto de saúde, escolas, cinema, um time de football e trabalho compatível com a cidade. A construção civil era lenta e organizada e a mão de obra era local. Havia regras de conduta ditadas pelo bom senso e um código de postura municipal, um verdadeiro plano diretor que era respeitado.

Mas, depois, a cidade cresceu irracionalmente. Muita gente veio à procura do paraíso e as regras não foram mais obedecidas. Perdemos o bom senso e o código de postura foi esquecido. Houve um inchaço que a princípio enganou. Escondeu em suas entranhas uma miséria que logo ficava, cresceu muito e rapidamente se alastrou. A demanda aumentou verticalmente e a oferta ficou estagnada; hospitais, escolas, tudo ficou pequeno. Quão grande o desequilíbrio! Quão grande a injustiça social e a especulação! Hoje predominam as mansões ao norte e as favelas ao Sul.

Agora temos uma cidade que vive de um pequeno verão de fins de semana, que alimenta um longo e doloroso inverno - época de carestia. As ruas e calçadas estão esburacadas. A cidade que já foi um exemplo nacional em saneamento, tem hoje as cloacas lavadas pelas chuvas e depositadas na sua lagoa, no rio e no mar.

A cidade, no inverno, com seus enormes prédios iluminados por uma tênue lâmpada de sinalização e com seus pára-raios semelhantes a tridentes que apontam para o nada, são como fantasmas de um só olho vermelho a velar. Temos muito lixo e poucas soluções. Parece que todos os caminhos se esgotaram..

Peixes já não temos mais, mas temos mais pescadores tristes e sem redes. Matas nativas já não existem, das dunas restam poucas; os lagos de chuva secaram. E a sanga da água boa, onde andará?

Nossos dirigentes fracassaram. Nós escolhemos mal. Nós fracassamos ao escolher. Agora só nos resta despertar. Desperta, Torres! DESPERTA...! Vivemos em um novo século, em um milênio novo.

Torres é maior que seus problemas. Torres com suas torres nasceu para ser “Eterna”. Deus a fez bela e a quer feliz. E os torrenses, com competência e com novos e honestos “ Dirigentes “ , novos caminhos farão ao caminhar.

Vamos voltar a ser um lugar bom de se viver e de se aprender e Torres vai tornar-se uma verdadeira Universidade. Os torrenses querem uma cidade nova, de vida constante, com turismo de verdade.

Uma cidade com amor à natureza e à nossa gente. Nós temos um potencial imenso, somos um povo ordeiro e trabalhador e por isso vamos criar novas oportunidades para todos neste tempo novo de mudar.

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