quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ensinos Espiritualistas – Sayonara(QUARAÍ-RS) – Mediunicamente


23/05/2012 - Quarta-feira



Recebidos por
William Stainton Moses
(A.        Oxon)

Seção XVIII

(A 26 de agosto de 1873, tinha eu tornado a ler as precedentes comunicações e muito havia pensado sobre a natureza simbólica das expressões espíritas. Perguntava a mim mesmo se não tínhamos errado, interpretando-as muito literalmente. Apresentando a pergunta, obtive em resposta que me não achava em estado de me comunicar. Esse é um dos numerosos exemplos da dificuldade da comunicação. O dia estava chuvoso, sombrio e triste. Eu me achava doente, longe do meu lar, hospedado em casa estranha. Aconselharam-me o repouso; obedeci. Então, escrevi primeiramente com custo, em seguida mais facilmente:)

As nossas condições ainda desfavoráveis são, entretanto, melhores. Deveríeis sempre preparar-vos no moral e no físico para ficar em estado de vos comunicar. Já vos dissemos que não podemos operar quando o estômago está repleto de alimento e hoje acrescentamos que o organismo não deve estar enfraquecido.

É tão inconveniente debilitar as forças vitais, deixando de se nutrir, como embrutecer-se pela gulodice e pela bebida. O ascetismo e o completo abandono aos desejos são extremos que nada produzem de bom. O estado intermediário deixa as forças corpóreas em perfeito equilíbrio e as faculdades mentais se tornam nítidas e calmas. Requeremos uma inteligência ativa, nem débil nem superexcitada, e um corpo vigoroso sem excesso nem desfalecimento. Cada homem pode, pelo exercício de uma fiscalização judiciosa sobre si mesmo, chegar a esse estado, que o torna ao mesmo tempo mais apto a desempenhar a sua tarefa na Terra e a receber as instruções que lhe são enviadas. Os hábitos cotidianos são muitas vezes mal dirigidos, o que torna doentes os corpos e os espíritos. Não indicamos regimes fora da recomendação de ter, em tudo, cuidado e moderação. Quando estamos em contato pessoal, podemos então dizer o que convém às necessidades particulares. Cada um deve procurar o que melhor lhe convém.

Ensinar a higiene do corpo como a da alma faz parte da nossa missão. Declaramos a todos que o cuidado judicioso do corpo é essencial ao progresso da alma.

O estado de existência artificial que prevalece; a ignorância quase total no que concerne à nutrição e ao vestuário; os viciosos hábitos de excesso, que estão muito espalhados, são obstáculos sérios para atingir a verdadeira vida espiritual.

Quanto às vossas reiteradas perguntas, repetimos que tomamos o conhecimento já estabelecido no espírito, afastando dele o que é falso e insalubre e espiritualizando-o. Tratamos as antigas opiniões como Jesus tratava a lei judaica. Ele anulou abertamente a letra, enquanto lhe renovava o espírito por eloqüentes e novas explicações. Procedemos com as opiniões e com os dogmas do Cristianismo moderno como Ele procedeu com a lei mosaica e com a ortodoxia dos fariseus e rabinos. Uma adesão rígida à letra estrita da lei conduz quase inevitavelmente a desprezar o sentido verdadeiro. O homem que começa a observar servilmente as minudências do ritual acaba por tornar-se qual o orgulhoso, arrogante e antipático fariseu, cuja religião desaparecera na sua teologia, e que ainda agradecia a Deus por não se parecer com o seu próximo.

É contra essa forma capciosa da religião que travamos uma guerra obstinada. É mais aproveitável, ao ente que procura seu Deus, andar às apalpadelas, sem auxílio, com a confiança de finalmente encontrá-lo do que ser imobilizado nas malhas de uma ortodoxia terrena, que prescreve o Deus e a estrada conducente a Ele, estrada que se acha através de uma porta cuja única chave só ela possui; Ortodoxia que aniquila todas as aspirações naturais, obscurece todos os pensamentos que se querem elevar, condena o ser livre a uma ação mecânica. Tudo é preferível, dizemos, a essa paródia de religião espiritual.

Para alguns homens – e não são os mais nobres da vossa raça – o livre-pensamento espiritual significa dúvida, indecisão, desespero, morte; eles querem uma religião ao seu alcance, mas, não podendo galgar as alturas vertiginosas, donde o homem é chamado a desvendar as verdades eternas, sentem vertigens; entretanto, preciso é que eles palmilhem os caminhos por onde outros marcharam antes. Que importa que a estrada seja sinuosa, se está circunscrita entre duas paredes por cima das quais os seus olhares não ousam elevar-se? Caminham com precaução, passo a passo, com medo de tropeçar ou de cair à menor desigualdade do terreno. Apóiam-se sobre os dogmas prescritos pela inflexível ortodoxia. Assim o decidiu a sabedoria da Igreja: a dúvida é a ruína; o pensamento ousado acaba desviando-se; a fé é a garantia única; crede e sereis salvo; negai e sereis condenado.

Esses homens não estão sequer no limiar do conhecimento das coisas. Como poderiam eles entrar no santuário onde brilha a verdade em sua plenitude?

Outros não são somente incapazes, mas opostos a aceitar a menor modificação à antiga teologia, que consideram como a encarnação da verdade divina. Foi por meio dela que os santos cristãos ampararam os mártires e exortaram os moribundos nos séculos passados, e ainda o fazem no presente. É a fé dos antepassados, o evangelho de salvação que aprenderam dos lábios maternos, dos quais receberam o depósito transmitido a seus filhos, que, por sua vez, o confiaram às gerações seguintes como sendo a verdade inteira, inalterável. E, assim dominados por um sentimento de crença determinada, eles não querem nem mesmo tocar no que parece violar uma fé consagrada por tantas instituições, fé que se tornou cara por tantas reminiscências suaves. São os defensores da fé, a quem o zelo do mártir inflama, e a quem nenhuma influência pode atingir. Não queremos, aliás, perturbar voluntariamente uma crença tão confortadora. Experimentar esclarecê-los seria inútil, pois devem conquistar o que lhes falta, em uma outra esfera de existência.

Outros homens há que até hoje ainda não pensaram em matéria religiosa; têm uma espécie de opinião convencional sobre a vantagem de uma profissão exterior de religião, porque não se considerariam bem estabelecidos sem ela. É em verdade um fraco verniz que apenas aparece. Contanto que o apercebam de longe, ele satisfaz aos que o empregam e aos que nos fazem a oposição mais encarniçada. Obrigá-los a ocupar-se de religião é um vexame. O assunto é desagradável, tolerado somente sob a sua forma mais ligeira, quando há necessidade mundana absoluta.

Aos sacerdotes compete determinar-lhes o que é bom e inspirar-lhes confiança no que é indispensável. Obrigá-los a ver as falhas da fé estabelecida ou a admirar as excelências da novidade é um duplo peso correspondendo a duplo castigo. Eles apegam-se ao passado e vivem dele. São felizes assim, detestando o progresso social e religioso. O livre-pensamento significa para eles dúvida, cepticismo, ateísmo, todas as coisas desastrosas e inconvenientes.

É claro que não temos nada a fazer com essas três classes e com as intermediárias, confinadas nos pólos da incapacidade, da má-vontade ou positiva aversão. A sua hora soará.

Esforçamo-nos por inculcar a todos que a estrada conducente ao conhecimento de Deus está aberta e livre. O homem que prefere o estacionamento ao progresso viola uma das primeiras condições do seu ser. Não tem o direito de proibir tal ou qual credo dos seus semelhantes nem a obrigá-los a adotar o seu. Repetimos ainda que a ortodoxia, as severas linhas inflexíveis sob as quais é mister nos curvarmos, sob pena de nos perder, são ficções humanas, cadeias fabricadas pelas paixões do homem para reter na Terra as almas que querem elevar-se a Deus. Melhor será, repetimo-lo, que o homem se desvie sem outro apoio além do seu guia designado, que ore, pense e trabalhe por si mesmo, em vez de renunciar à liberdade ou de aceitar uma religião por um motivo qualquer. É preciso lealdade e coragem para pesquisar a Verdade, pois sem o seu socorro a criatura não pode dominar, ao passo que com ele o progresso lhe é garantido.

A nossa tarefa é fazer com o Cristianismo o que Jesus fez com o Judaísmo: tomar as antigas formas, espiritualizar a sua significação e infundir-lhe uma nova vida. Desejamos a ressurreição e não a abolição. Não destruímos um átomo das lições que o Cristo trouxe ao mundo; o que apenas fazemos é apagar as glosas materiais do homem e mostrar o sentido espiritual oculto, que se não soube descobrir. Esforçamo-nos por diminuir em vossa vida diária, cada vez mais, o domínio do corpo e mostrar-vos o místico simbolismo de que é impregnada a vida da alma. São bem frívolos esses que se ligam à letra do nosso ensino. Queremos elevar-vos fora da vida do corpo e aproximar-vos quanto possível do estado de desencarnado. Não podemos explicar-vos, na disposição em que vos achais, a verdadeira dignidade da mais elevada vida do homem, mesmo na Terra, e os mistérios ocultos que esta vida encerra profusamente. Antes que possais atingir essas distâncias, contentai-vos com aprender que uma significação espiritual está oculta sob cada coisa, de que a Bíblia está repleta. As interpretações, definições e glosas humanas são a crosta material que envolve a divina semente da Verdade. Se retirássemos a crosta, o tenro grão murcharia e feneceria. Nós nos contentamos, pois, com indicar-vos até onde podeis compreender a verdade palpitante, que não vedes sob a face exterior que vos é familiar.

Foi essa a missão do Cristo, que reclamou o cumprimento da Lei, não a sua ab-rogação, descobrindo a verdade oculta sob os preceitos mosaicos, rasgando os farrapos do ritual farisaico e as glosas da especulação rabina, e reformando religiosa e socialmente a Humanidade. A grande ocupação da sua vida foi elevar o povo, o espírito e o corpo, confundir os impostores, arrancar a máscara da hipocrisia, levantar o escravo calcado aos pés, tornar o homem livre, pela virtude dessa verdade que Ele vinha declarar em nome de Deus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres e ficareis livres em verdade.”

Ele discorria sobre a vida, a morte, a eternidade, a verdadeira nobreza e dignidade da natureza do homem; sobre o caminho a seguir-se para chegar ao conhecimento progressivo de Deus. Ele veio, o grande cumpridor da lei, mostrar, como nunca homem algum o tinha ainda feito, o fim pelo qual a lei é dada: o melhoramento da Humanidade.

Ensinou os homens a olhar para as profundezas dos seus corações, a examinar as suas vidas, a sentir a razão delas, a pesá-las nessa única balança infalível: os frutos da vida como prova de religião. Disse-lhes que fossem humildes, misericordiosos, verídicos, puros, devotados e sinceros, e foi diante deles o vivo exemplo da doutrina que pregava.

Grande reformador social, ele aliviava corporalmente o homem e revelava-lhe a salvação fora da hipocrisia, do egoísmo, da estreiteza de espírito. Fazia-lhe aperceber o vislumbre de uma melhor vida além; pregava a religião da vida cotidiana e o progresso moral da alma na estrada do dever diário. Arrependimento do passado, melhora de progresso no futuro, eis o resumo dos seus ensinamentos. Ele encontrou um mundo mergulhado na ignorância espiritual, à discrição de uma teocracia sem escrúpulos, tiranizada em matéria política. Ensinou a liberdade nos dois casos, mas a liberdade sem licença, a liberdade do ser responsável que tem deveres para com Deus, para consigo mesmo e para com os seus irmãos; trabalhou para mostrar a verdadeira dignidade do homem, que é elevar-se à
Verdade, mas à Verdade libertadora. Ele não atendia à posição das pessoas, porquanto escolhera os seus associados e apóstolos entre os miseráveis; vivia no meio da plebe, com ela, sentando-se nas mais humildes choupanas; ensinava aos pobres as simples lições de que tinham necessidade; dirigia-se pouco àqueles cujos olhos estavam fechados pelas trevas da ortodoxia, das conveniências e do que se chama sabedoria humana; abrasava o coração dos seus ouvintes; inspirava-lhes o ardente desejo de obter alguma coisa de melhor, de mais elevado do que aquilo que sabiam, e mostrava-lhes como eles poderiam alcançar isso.

O Evangelho da Humanidade é o Evangelho de Jesus-Cristo, o único que se torna necessário ao homem, o único que pode prover às suas faltas e ajudá-lo em suas necessidades.

Continuamos a pregar esse mesmo Evangelho, por comissão do mesmo Deus, mas pregamo-lo purificado das falsas interpretações do homem.

Queremos retirar a verdade espiritual do sepulcro onde foi abafada aos homens. Vive ainda a simples e grande verdade do destino ascendente do homem, do cuidado incessante de Deus, da atenção sempre alerta dos seres devotados às almas encarnadas.

Despedaçamos os dogmas que hão prendido a alma e abatido as aspirações do homem, afirmando-lhe agora que caminha livremente. A nossa missão é renovar esse antigo ensino tão estranhamente desfigurado; a nossa fonte é idêntica, o curso paralelo, o fim o mesmo.

Compreendi bem julgando que o ensino, do qual uma das seções está sob a direção de Imperator, recebe a sua missão do Cristo?

Compreendestes bem. Eu já disse que a minha missão foi-me confiada, estando eu influenciado por um Espírito que passou por ciclos de trabalho nas mais elevadas esferas de contemplação. Jesus-Cristo prepara o ajuntamento de seu povo para continuar a revelação da verdade e para eliminar as crenças errôneas acumuladas no passado.

Tenho ouvido falar disso em outras partes; é então a volta do Cristo?

Volta espiritual. Não haverá volta física, tal como o homem sonhou; será volta para seu povo, pela voz dos seus mensageiros, falando àqueles que têm ouvidos abertos; Ele próprio disse: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça; aquele que está preparado para receber, receba.”

Esta revelação dirige-se a um grande número?

Sim, faz-se conhecer a um grande número, pois Deus agora influencia o homem de um modo especial; não podemos adiantar mais nada a esse respeito. Possa a bênção do Supremo repousar sobre vós.
† Imperator

Leia na próxima Edição: (amanhã, quinta-feira, 24)
Seção XIX

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