sexta-feira, 25 de maio de 2012

CRÔNIA SEMANAL LITERÁRIA - Sylvio Passos - Recordação - A Escola da Dona Zilah

25/05/2012 - Sexta-feira



                  A Escola da Dona Zilah

Sylvio Passos

Encontrei, ontem, um retrato dos alunos do antigo Externato Sagrado Coração de Jesus. Esse externato foi uma pequena escola primária, dirigida, há alguns anos, por minha irmã Zilah, e que funcionava em nossa casa, naquele chalé amarelo que fica atrás da Igreja Matriz. A escolinha foi crescendo, crescendo e tomando conta da casa. Por fim, já era quase um grupo escolar e tinha três professoras: Zilah, Esmeralda, (então minha noiva) e Teresinha Esmeraldo, hoje a Irmã Maria da Assunção.

A “Escola da Dona Zilah”, como era conhecida, era uma alegre colméia de crianças, que enchiam a nossa casa com sua algazarra, seus cantos, seus risos e festas. Todos nós acompanhávamos as suas atividades e participávamos de sua vida. Meu pai era uma espécie de diretor da disciplina e, nos piqueniques e excursões, ajudava a controlar as crianças, divertindo-se com elas e divertindo-as também com seu gênio brincalhão.

Nas horas de recreio, os meninos faziam do quintal o seu campo de futebol. Entre os garotos, já se distinguiam pela sua classe futebolística o Jair Barreto, que anos depois se transformaria no famoso craque do Nacional e, posteriormente, brilharia nas canchas da Capital Mineira. No gol, o Zoca e o Maurício Berrault, que mais tarde defenderiam, com arrojo e elegância, a cidadela dos esquadrões rio-branquenses, e muitos futuros craques, como o Namir, o José Barreto e outros. Havia grande rivalidade entre os times de guris. Enquanto jogavam, um dos garotos, trepado num caixote, fazia, com muito entusiasmo, a irradiação das partidas, imitando os locutores esportivos do Rio de Janeiro: era o Zezinho Macarrão, o futuro espíquer esportivo José Carlos da nossa Rádio Cultura.

Havia lá, também, um menino que, desde o segundo ano primário, já lia as suas composições escolares com solene voz de homem: era o Antônio Ribeiro, que aqui está ao meu lado, no seu posto de locutor da nossa emissora. Elzio Costa, hoje astro da Rádio Inconfidência, figurava entre os alunos. Também o Mauro Lopes da Costa, espíquer da ZYV –25, vestiu o uniforme carijozinho do Externato.Também duas estrelas do nosso rádio-teatro, Olga Bicalho e Edir Soares, lá estavam na turma de meninas. E algumas, que são hoje jovens mamães, por esse tempo, ainda embalavam nos braços os seus filhinhos de brinquedo: Maria Begnami, Irene Bicalho, Ana Maria de Almeida e outras meninas de então.

Havia no Externato, alguns garotos curiosos. Por exemplo, o Dold Siqueira, que, nas horas de lazer, construía, com suas próprias mãos, brinquedos muito engenhosos: uma pequena usina, onde fazia açúcar, uma estrada de ferro e aviõezinhos de brinquedo; o Clóvis Antunes, sempre muito sério, muito calado e que, depois que adquiriu no Ginásio os primeiros conhecimentos de inglês, escrevia para Hollywood, pedindo fotografias à Dorothy Lamour e outras estrelas de cinema!...

Muitos dos rapazes e moças que hoje freqüentam o Colégio Rio Branco  e a Escola Normal, outros que estudam em colégios distantes, outros, ainda, que já estão em plena vida profissional, aprenderam a ler, a escrever e tiveram suas primeiras aulas de catecismo na pequenina e alegre “Escola da Dona Zilah”.

Todos os anos, na entrada do inverno, eles faziam, com entusiasmo e alegria, a “campanha do cobertor para os pobres”. E, num determinado dia, excursionavam aos bairros e à Vila Ozanan, levando, jubilosos, os embrulhos de presente.

Bem, amigos, a história desse Externato é comprida e cheia de aspectos variados e pitorescos. Não poderíamos resumi-la numa só página. Em outras oportunidades, relembraremos novos episódios da vida daquela pequena, humilde e alegre colméia infantil, entre cujas abelhas talvez você mesmo estivesse!... São episódios simples, despretensiosos como os da vida quotidiana de qualquer escola.

Mas na evocação da , sempre, aquela doce, aquela singela e comovente poesia que há nas páginas de “O Coração”, livro em que Edmundo de Amicis nos conta a vida de escola dos meninos da Itália.

Como diz o velho provérbio:

“Recordar também é viver...”


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