quarta-feira, 23 de maio de 2012

CRÔNICA SEMANAL LITERÁRIA - Sylvio Passos - Recordação - Sortilégios da Cidade dos Canaviais

23/05/2012 - Quarta-feira


Sortilégios da Cidade dos Canaviais
Sylvio Passos

Vem de longe, vem das raízes do nosso passado, esse fascínio que a nossa terra exerce sobre o coração daqueles que a visitam.

Quando à margem do rio Xopotó ainda existiam os aldeamentos indígenas dos Croatas e Cropós, piedosos missionários de Cristo aqui plantaram nas terras e nas almas o símbolo da Cruz...  Sob a invocação do Precursor de Jesus, nasceu, então, a Vila de São João Batista.  Depois, os homens da Lei ergueram aqui um calabouço. A nossa pequena vila era, na vastidão das selvas da Zona da Mata mineira, um baluarte da Lei e da Justiça. Daí, o seu antigo nome de Vila de São João Batista do Presídio.

Presídio... o nome era amargo, mas a terra era doce... Tão doce que nela vicejavam pelos vales e colinas milhares e milhares de canaviais... Tão doce que um poeta juiz-forano, Belmiro Braga, ao conhecer a terra e seu povo, teceu-lhe esses mimosos versos:

“ Ó que terra boa e lhana!”
(Pudera que assim não fosse...)
Em terra de tanta cana,
Até nas almas há doce!...


Outro juiz-forano ilustre, Menelick de Carvalho, quando aqui veio instalar a Guarda Civil, em nome do governo do estado, disse que Rio Branco continuava a ser o Presídio...  Mas que, em seu entendimento, era um verdadeiro presídio de corações... Presídio do coração dos seus filhos e de todos aqueles que vêm conhecer esta terra tão encantadora e que tem um povo tão hospitaleiro!...

Uma conhecida canção popular diz que “quem vai ao Pará... parou. Comeu açaí, ficou!...”

Nós temos, também, uma lenda rio-branquense, segundo a qual quem bebe água da Pedra da Água Limpa fica eternamente preso a Rio Branco pelos laços do coração... Acaba sempre voltando para revê-la, tocado pela saudade desses ares e desse povo!... Aqui deixando um amor e um dia voltando para ficar!...

Esta lenda surgiu, possivelmente, quando a nossa cidade ainda não possuía o serviço de água canalizada, que hoje nos vem dos mananciais da Serra de São Geraldo. Por esse tempo, toda a população bebia água de minas ou de cisternas. E uma de nossas fontes mais famosas era, justamente, a da velha Pedra da Água Limpa, que fica à margem do Xopotó, perto da atual fábrica de manteiga. A sua água fresca e cristalina era conduzida em potes e latas de querosene, na cabeça de seu Eleutério, do preto Bonifácio e de outros carregadores tradicionais, que fizeram parte do passado da cidade.

Hoje, ninguém mais bebe água da Pedra da Água Limpa, mas o sortilégio da Cidade continua.O fascínio permanece, as moças da cidade continuam inspirando amores, os rapazes também!... Quem vem até aqui, acaba se apaixonando por alguém da terra e aqui estabelecendo seus laços afetivos para sempre!...

Continua o fascínio que a terra exerce sobre os corações humanos, que ficam para sempre presos a ela pelos misteriosos laços do amor e da saudade...

Rio Branco... Rio Branco...   Doce presídio de corações!... “Terra onde há tanta cana que até nas almas há doce!...”

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