quarta-feira, 23 de maio de 2012

A polêmica revitalização da Água Limpa

23/05/2012 - Quarta-feira




Revitalizar a Água Limpa implica na recuperação visual de toda a Avenida São João Batista e da Praça Jorge Carone Filho, que, no passado, tinham as pistas de trânsito divididas por majestosa carreira de palmeiras imperiais.

Imagem: Isah Batista

Imagem: Isah Batista

Imagem Danton Ferreira
Imagem Danton Ferreira
                                           Casa da Isah Baptista - Imagem: CelsodoTrailler




Inconveniente foi começar de onde deveria ter sido o fim: a Praça Jorge Carone Filho que já tinha seu canteiro arborizado entre as duas vias de tráfego. E é o ponto mais elevado do trecho.
Av. São João Batista à noite.

Antiga Delegacia de Policia. Imagem Danton Ferreira


A revitalização deveria ter começado pelo alto, mas fora da área propriamente destinada a se transformar no cartão postal da cidade, para quem chega a Visconde do Rio Branco. Teria de cuidar primeiro da captação das águas pluviais nos morros adjacentes, a maior parte transformada em bairros.  Suas áreas, antes ocupadas por vegetação, absorviam as precipitações pluviométricas, umedeciam o interior do solo, mantinham sua consistência, e alimentavam minas e cisternas. 

A umidade era liberada em um processo natural e contribuía para o equilíbrio ecológico.  As enxurradas eram suaves e pouco influenciavam as enchentes e o lamaçal das partes baixas onde se encontram a Avenida e a Praça.    

Grupo Padre Correa - Facebook

A transformação daquelas áreas verdes em bairros leva a chuva a cair sobre o cimento armado e descer em peso para onde a lei da gravidade determinar.  E carrega em seu curso tudo o que achar pela frente: entulho, terra solta, madeira...  que vão encher de sujeira a pista de rolamento e atingir instalações residenciais e comerciais a suas margens.

Aqueles bairros construídos sem planejamento nos píncaros dos morros deixaram de observar técnicas de infra-estrutura necessárias a um escoamento equilibrado e harmonioso. Fazem parte da inobservância do bom senso de respeitar as Leis da Natureza, do mesmo modo como foram liberadas construções dentro do Rio Chopoto(Xopotó) a partir da Ponte do Dr. Lelé; e a construção da Avenida Beira-Rio nos seus dois trechos: entre a Rua Presidente Antônio Carlos(Ponte do Carrapicho) e a Ponte da Água Lima,  e, do outro lado, entre a Ponte da Cooperativa(Rua Diogo Braga) e a Ponte Branca(Av. Oscar Salermo – Barreiro). 


Gabião na Rua Major Felicíssimo. 
                            Trecho da Av. Beira Rio entre as pontes do Carrapicho e da Água Limpa
Av. Beira Rio - trche entre a ponte da Cooperativa e Ponte Branca- Barreiro. Imagem Jorcelino Batista


Toda a Beira-Rio ficou rente ao rio, cuja vala é de pouca profundidade e de pequena largura.  Qualquer leigo, se analisar as enchentes passadas, desde 1932, saberia que as margens da avenida estavam dentro do espaço ideal e necessário reservado ao curso do Rio, com suas matas ciliares e até para obras de alargamento destinadas a comportar o volume das águas em tempo de enchentes, sem as inundações com prejuízo e vítimas dos últimos anos. E mais insensato, dentro deste quadro, foram as concessões de alvarás de construção às margens da avenida e do Rio, comprovadamente áreas de risco.

A Beira-Rio, da maneira como foi feita, resultou de erro econômico, político, técnico e ambiental.  Poder-se-ia dizer erro por baixo.  E os loteamentos e bairros nos morros foram erros por cima.  A população, entre um erro e outro, fica espremida, pagando a conta, com vidas e prejuízos.

Enchente nov. 2010 - Imaem: Edgard Amin

A Água Limpa revitalizada vai ficar muito bonita como antigamente, nos tempos em que “minha terra tinha palmeiras”.  Mas é necessário começar por cima, com as obras de infra-estrutura para escoamento das enxurradas por tubulações subterrâneas.  A Natureza ensina. As tubulações devem seguir, em plano inferior,  os caminhos das enxurradas. Passar por baixo da Avenida e seguir direto para o Rio.  Deixar o leito das pistas de trânsito somente para as águas que caírem na sua área. E que essas águas encontrem logo seu destino em bueiros laterais, nas ruas naturalmente com queda para os cantos.

Se revitalizar a Água Limpa sem esses cuidados do alto, vai ser como vestir terno de linho branco e sair na chuva em estrada barrenta.


(Franklin Netto – taxievoce@hotmail.com)  

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