terça-feira, 22 de maio de 2012

ELIAS JOSÉ DO COUTO, HERÓI RIO-BRANQUENSE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

22/05/2012 - Terça-feira

  ELIAS JOSÉ DO COUTO
Ex-Combatente da 2ª Guerra Mundial
      

  1919 † 2002
11º RI - Regimento Infantaria - Regimento Tiradentes
São João del-Rei - Minas Gerais 

Certificado da Medalha de Campanha
Retificação do Nome
Certificado de Ferimento em Ação
Certificado de Reservista
Certificado da Medalha de Sangue do Brasil
Identidade militar


Título de Cidadão Benemérito Riobranquense
Diploma por Ocasião da Passagem da Linha do Equador



HISTÓRIA DE UM PREDESTINADO
 A história que vamos narrar, não é fruto da imaginação criadora.  É a vida real de um cidadão rio-branquense que, embora o seu feito engrandeça a nossa raça, continua vivendo na mesma humildade de antes.  Elias José do Couto é o seu nome.  Elias é dessas almas grandes, que não contrariam ninguém, amigo de toda gente, trabalhador, honesto, prestativo, ótimo filho, exemplar esposo, pai extremado, ex-craque de futebol (foi goleiro do Nacional Atlético Clube por muitos anos) e célebre pelas suas gostosas gargalhadas.  

Em síntese, passamos à sua triste e comovente história.

Em 1942 foi convocado para servir a Pátria contra o nazi-nipo fascismo, o cidadão Geraldo José do Couto da cidade de Visconde do Rio Branco, Minas Gerais. O Secretário da Junta Militar desta cidade, de então, não obstante as alegações e provas apresentadas por Elias José do Couto, desprezando o prenome para somente argumentar com o nome de família, impôs a ida do pacato cidadão, trocando-lhe, sem a menor formalidade, o prenome.  O zelo no cumprimento da lei do então Secretário à semelhança de Javert, personagem de Victor Hugo, transpôs as raias do normal para fazer passar por duras provações humilde pedreiro de nossa cidade, que nem ao menos parentes tem com o nome de Geraldo.
Seguiu para Juiz de Fora com o nome que lhe deu o zeloso funcionário.  Daí foi para São João del-Rei.  Quarenta e oito dias depois, rumou para o Rio de Janeiro para integrar o 11o Regimento de Infantaria.
 
Em 1944 no 2º escalão embarcou para a Itália como expedicionário brasileiro, sob o comando do Cel. Delmiro Pereira de Andrade, Comandante do 3o Batalhão, do 11o R.I.
 
Depois de uma viagem apreensiva, cheia de sobressaltos  e de grande tensão nervosa, acompanhados de angustiosa saudade dos seus entes queridos, desembarcou em Nápoles, indo em seguida para Fornovo onde descansou 31 dias.
 
O predestinado herói fora escolhido aí para em companhia dos colegas  Wanderley Antonio de Melo e Nestor Alves da Costa observar os combates do 6o R.I. que estava em ação.
 
Depois de dezoito dias de convivência com os combatentes voltou com seus companheiros para explicar ao comandante da



companhia e aos seus colegas, os processos de combates empregados no “front” da Itália.
 
Após um mês de instruções para o ataque, seguiu todo o batalhão para o front de Monte Castelo.  Começaram a subir o morro no dia 28 de novembro de 1944, tendo às 18 horas alcançado o ponto almejado para o início do histórico acontecimento.  Duas horas depois receberam ordens do comando geral para o ataque e tomada de Monte Castelo, não conseguindo o objetivo, dada a resistência da tropa alemã, que ali se achava concentrada.  Tornando-se necessária a retirada das tropas da 8a Companhia da qual fazia parte o herói de nossa terra, ficou mantendo o fogo a fim das outras se recuarem para tomar posição.  Houve perdas e ferimentos na sua Companhia por esta ocasião, porém o mais trágico foi a sua retirada.  Esta se deu debaixo de forte tempestade, com relâmpagos, raios e fogo contínuo do inimigo.  Nesta retirada, dois sargentos e seis soldados se congelaram.
 
Transferido com sua Companhia para Bombiani onde seu capitão esperava fazer um bloqueio no inimigo, não o conseguindo, foi que Elias consagrou-se herói da 2a Grande Guerra!
 
Com o malogro do bloqueio de Bombiani, a 8a Companhia recuou mantendo na frente uma patrulha da qual fazia parte Elias, mais 5 soldados e o 1o Ten. Seixas.
 
Em dado momento, houve um choque de patrulhas.  Alemães e brasileiros com inferioridade em número destes, travaram sangrenta luta.
 
Neste choque de extermínio, Elias depois de ferido à bala e caído no chão, recebeu de um soldado de Hitler forte coronhada de fuzil nas costelas.  Sem forças para locomover-se, sem poder dar um gemido a fim de se passar por morto na “terra de ninguém” como cognominaram o local fatídico, permaneceu 48 horas imóvel.  O seu sofrimento era terrível sendo que nem ao menos manifestá-lo podia.  A patrulha alemã, composta de 15 homens, aproximando-se do suposto cadáver, virou-o de um lado e de outro, tirou-lhe do bolso o maço de cigarros, seu chocolate, sua alimentação do bornal, sua metralhadora de mão, sua munição e sua roupa, deixando-o apenas com roupas menores e dizendo palavras que correspondiam : “um brasileiro a menos !
 
Elias, com o pensamento em Deus, em sua pátria, em sua noiva e em sua família, certo de que morreria, já tinha sido dado como desaparecido – não se acovardou.  Sentia-se feliz e honrado em sacrificar-se por uma causa justa, porém com grande tristeza, via que sua família iria ficar desamparada, pois o soldado que lutava bravamente e que ia perecer, não era o Elias querido e estimado por todos e sim o Geraldo José do Couto, figura imaginária, que entraria para o rol dos soldados desconhecidos, se não houvesse algum locupletamento.
 
Um raio de luz aclarou-lhe o pensamento.  Havia ainda uma esperança.  Um seu conterrâneo de São José do Barroso, soldado Domingos Teixeira Valente conhecia a sua história e, na qualidade e companheiro de patrulha., levaria sem dúvida, aos seus as necessárias notícias.
 
De repente, como que do céu, surgiu uma voz fraca e suave aos seus ouvidos.  Era Domingos que tangido pela solidariedade do conterrâneo e impelido pela sua bravura, voltou para socorrer o amigo, porém com a aproximação da patrulha alemã teve que voltar atrás e se esconder.
 
Momentos depois, sutil e ágil como um gato, agarrou Elias e quando o arrastava na escuridão, debaixo do fogo de barragem, ao explodir uma granada próxima de si, jogou Elias para um  lado protegendo-o com seu corpo, saindo ferido na perna.
 
Não obstante, arrastando-se, conduziu Elias até a posição de seus companheiros, onde receberam os curativos de emergência.
 
O dedicado e heróico companheiro, depois de baixar ao hospital por uns dias voltou ao “front”.
 
Elias foi levado para Washington em avião especial e graças ao espírito humanitário e a evolução da ciência médica na América do Norte, depois de 25 dias, com o enxerto de duas costelas de platina, são e salvo, voltou para o “front” da Itália tomando parte, entre outras, na batalha de Montese, a qual considera a mais dura de todas.
 
Agora, está o heróico rio-branquense cogitando a retificação do seu nome, a fim de que as condecorações a que tem direto sejam entregues a Elias José do Couto e não a Geraldo José do Couto.


Publicado no jornal “Visconde do Rio Branco” em 11/07/1948.
Texto enviado por sua filha Carmen Couto
Nasceu em 04 de Agosto de 1919, em Visconde do Rio Branco, Minas Gerais
Filho de Isalino José do Couto e Constância Pereira
Casado com Dinah Miranda Couto
Teve 5 filhos: Maria Constância, Carmen, Rita, Raquel e José.


Suas fotos no período da 2ª Guerra Mundial
 
Preparação dos armamentos - Itália
 
Preparação dos armamentos - Itália
 
Horário de folga - Itália
                    
Período da convocação - Brasil   Em guarda - Itália
                         
Poucos momentos de lazer - Itália Em guarda - Itália
 
Momento de descontração - Itália
 
Avançando o rancho - Itália

 
Em São João del-Rei, MG
 

Um comentário:

  1. Grata por tão linda homenagem! O Iliá Arado com certeza ficaria orgulhoso e feliz por ter essa cronica no Jornal Consciência da Mata.com.br
    Grande Abraço
    Rita Couto

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