03 05 2012 - Quinta-feira
Recebidos por
William Stainton Moses
Apêndice à Seção IV
Na seção IV, narram-se particularidades sobre a vida de Arne, músico compositor. A 25 de março de 1874, foi-me dada espontaneamente uma grande quantidade de datas e de fatos sobre outros compositores cujos nomes eu ignorava, a saber: Dr. Benjamim Cook, Pepuxh, Wellesley, Conde de Mornington. As indicações vinham cheias de minúcias e redigidas como breves notícias destinadas a um dicionário biográfico. Seu autor, Doctor, os qualificava sem valor, a não ser para dar a convicção “do fim em que prosseguimos, pois as particularidades da vida terrestre nos oferecem agora pouco interesse”.
A 16 de julho de 1874, doente e retido em um quarto, recebi uma outra comunicação a propósito desses Espíritos músicos, que me não interessavam absolutamente, mas que tinham, entretanto, uma íntima relação com uma pessoa que eu via todos os dias. Dessa vez falava-se de John Blow, compositor desde a infância, citado como discípulo de Cristóvão Gibbon e o sucessor de Purcell na abadia de Westminster. Uma pergunta trouxe a data de 1648-1768. Suponho que o meu estado supra-sensitivo criava um laço entre mim e esses Espíritos e tinha atraído essa visita de acaso.
A 5 de outubro de 1874, foi-me facultada uma prova mais pessoal. O mesmo Espírito (vede seção IV), que tinha sido designado como capaz de escrever um resumo tirado de um livro, transcreveu observações sobre antigas crônicas que, em seu conjunto, não me eram desconhecidas, pois que se achavam no curso dos meus estudos. As particularidades eram dadas com tanta precisão que estavam fora da minha capacidade mental, pois há dificuldade na minha mente em reter ou reproduzir fatos em suas minúcias ínfimas, assim como sou refratário a reter datas e lembrar-me delas; longe de experimentar corrigir-me, auxiliei antes essa disposição natural, para me entregar à cultura das idéias gerais que me parecem infinitamente mais úteis.
Um fato singular é que quase todas as comunicações escritas por meu punho, exceto as ditadas por Imperator, se distinguem por um luxo de minuciosidade e uma ausência de amplitude e diversidade de idéias.
Nessa mesma época (1874) escrevi vinte e seis linhas, extratos das obras de Norton, velho alquimista, em caracteres curiosamente arcaicos, muito diferentes de todos os empregados até então. Pude verificar, não sem dificuldade, a certeza da citação, pois pouca coisa se sabe de Norton; a data de seu nascimento e a de sua morte não são mesmo bem conhecidas. Disseram-nos que o Espírito era de um antigo estudante de ocultismo, médium durante a vida, o que lhe permitiria voltar mais facilmente à Terra. Seu poema se intitulava O Ordinal ou Manual da Arte Química, redigido por seu patrono, o arcebispo Neville, de Iorque.
Eu poderia multiplicar os exemplos, mas eles não provariam mais nada. Escolhi, quase ao acaso, no conjunto dos fatos um certo número de casos para citar.
Eis aí mais um, de que tratarei por causa da circunstância singular que permite verificar a autenticidade da comunicação. Parece que o mesmo produtor do fato forneceu o método de verificação. Esse fato tinha o mérito de ser absolutamente desconhecido de todas as pessoas presentes; reproduzo-o segundo as minhas notas.
25 de março de 1874 – Um Espírito comunica pela mesa um nome e particularidades completamente ignoradas de todos os assistentes. No dia seguinte pergunto: que significa isso? O Espírito disse a verdade declarando chamar-se Carlota Buckworth. Ela não tem relação especial conosco, mas foi autorizada a falar, porque se achava presente, por acaso, e porque isso podia oferecer-vos uma prova. As condições eram desfavoráveis ao nosso trabalho e não conseguimos harmonizá-los, de modo que ficaram perturbados – o que é inevitável depois de um dia tal como o que acabastes de passar. As influências contraditórias, no meio das quais vos atirastes, introduziram elementos de desordem, que não podemos deter.
(Eu tinha ficado com quatro pessoas mais ou menos médiuns e esse gênero de sociedade impressionava-me sempre.)
Não sabeis quanto sois sensível a semelhantes influências. O Espírito que se manifestou deixou a Terra há mais de cem anos, entrou repentinamente e sem preparo na vida espiritual em 1773, desencarnou na casa de um amigo, Jermyn Street, onde tinha ido para divertir-se. Ele poderá provavelmente ser mais explícito.
Podereis trazer esse Espírito?
Não temos ação sobre ele.
Sabeis alguma coisa de mais a respeito dessa pessoa?
Sabemos, ela muito ansiava por dizer mais alguma coisa, mas o seu poder tinha-se esgotado. Ocupada em sua esfera especial, depois de um longo sono, ela apenas acaba de ser posta em contato com a atmosfera da Terra. É atraída às reuniões onde reina a harmonia, pois ela própria é de uma natureza amorosa. A sua partida da Terra foi repentina, caiu dançando e logo abandonou o corpo.
Qual foi a causa da sua morte?
Fraqueza do coração, aumentada por uma dança violenta. Era uma moça estouvada, posto que de disposição meiga e amável.
Quando e em que casa isso aconteceu?
Não podemos dizê-lo, porém ela própria será provavelmente capaz de falar.
(Tratou-se de outros assuntos, mas não se falou mais de Carlota. No mesmo dia, à tarde, estando eu ocupado fora de minha casa, fui obrigado, contra a minha vontade, a ceder à impulsão de escrever a breve comunicação seguinte:)
Informamo-nos que foi da casa de um Dr. Baker que Lota Partiu, em 5 de dezembro. Não poderíamos dizer mais nada, porém isso é o bastante.
A verificação desse fato foi tão inesperada como o próprio incidente, no qual não havíamos pensado, julgando que não tínhamos meio algum de verificação.
Algum tempo depois, o Dr. Speer recebeu um dos seus amigos, muito amante de livros. Conversamos todos os três em um quarto onde havia muitos livros que raras vezes eram consultados e que estavam enfileirados em prateleiras que iam do chão ao teto. O amigo do Dr. Speer, a que chamarei A..., trepou em uma cadeira para atingir a prateleira mais elevada, que era inteiramente ocupada por volumes do Registro anual. Apanhou um deles no meio de uma nuvem de pó e começou a comentá-lo; podia-se, disse ele, nesse resumo útil dos acontecimentos anuais, achar quase todas as informações. Essas palavras despertaram-me a idéia de ver se seria oportuno verificar a informação dada sobre a morte de Carlota. Pareceu-me ouvir uma voz dirigindo-se ao meu senso íntimo. Comecei o exame no volume de 1773 e nele encontrei, dentre os necrológios, uma narração dessa morte ocorrida em uma casa da moda, durante uma festa. O livro estava coberto de espessa camada de pó. Desde cerca de cinco anos, época da organização da biblioteca, ninguém tinha cuidado em tocar nesses livros e, se não fosse o gosto literário de A..., nenhum de nós teria pensado em tomar um deles.
Citarei ainda isto: a 29 de março de 1874, foi estampada em meu caderno uma comunicação, não sabendo eu o que fazer dela; a escrita era desconhecida, muito trêmula e acanhada, parecendo traçada por pessoa extremamente fraca e idosa. A assinatura ficou sendo um enigma até ser decifrada pelo Espírito secretário. Essa comunicação emanava de uma mulher muito velha, de quem eu nunca tinha ouvido falar; morrera havia mais de 90 anos, em uma casa pouco distante daquela em que nos reuníamos para essas sessões. A residência onde ela tinha passado os primeiros anos, a idade e a data do falecimento foram dadas com muita exatidão. Não tenho autorização nem desejo solicitá-la dos meus amigos ainda vivos para mencionar essas íntimas particularidades. A comunicação foi provavelmente transmitida, porque “o Espírito” que, segundo nos disseram, tinha deixado a Terra no mês de dezembro de 1872, “estando sobrecarregado de anos de vida terrestre, repousara do seu labor”. Ao despertar, atraíra-o uma reunião que se realizava na vizinhança imediata à sua antiga residência.
Nessas circunstâncias, como em todos os outros casos em que a identidade ficou provada, creio que as informações foram devidas à insistência de Imperator, que queria proporcionar-me uma prova evidente da identidade espiritual, ou antes, da individualidade perpetuada depois da morte corpórea. Os fatos foram, sem dúvida, escolhidos de propósito. Não pude jamais obter uma prova sugerida por mim ou intervir de maneira qualquer, apesar do meu ardente desejo de ter o meio de estabelecer uma convicção racional. O plano dos meus instrutores parecia ter sido preconcebido.
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