02/05/2012 - Quarta-feira
DIA MUNDIAL DA TOLERÂNCIA : 16 de novembro
Roseli Fischmann - Correio Braziliense 20 de novembro de 2000
Celebrou-se em 16 de novembro o Dia Mundial da Tolerância. Em 1993, a Assembléia Geral da ONU decidiu que 1995, se quando se comemoraria seu cinqüentenário, seria o Ano Internacional da Tolerância. A decisão vinculava-se ao reconhecimento humilde e apropriado de que, cinqüenta anos após sua criação, a Organização das Nações Unidas se encontrava longe de alcançar o objetivo para o qual havia sido criada, ou seja, o de alcançar a paz mundial. No contexto da época, a Guerra da Bósnia e conflitos étnicos na África, além de diversos outros pontos conflagrados no planeta, principalmente por motivo de intolerância étnica e religiosa, faziam constatar que seria necessário, meio século depois, pensar ainda o primeiro passo, o mais básico, que, embora inicial, e embora tardiamente, traz, em si, o todo da jornada.
Ao longo de 1994 e 1995 foram realizados diversos encontros regionais preparatórios, sob patrocínio da Unesco, escolhida como responsável pelo evento, tendo sido criada a Unidade de Tolerância na sede da Organização, em Paris. Tais encontros discutiam o conceito “tolerância”, tendo em conta as diversas realidades regionais. Culminaram com a elaboração e aprovação pela Conferência Geral da Unesco, em 16 de novembro de 1995, da Declaração Mundial de Princípios sobre Tolerância.
No Brasil, a Unesco promoveu, em âmbito preparatório, em 1994, o Encontro so sobre Tolerância na América Latina e Caribe, em coordenação com a UFRJ e, em 1997, o Seminário Internacional Ciência, cientistas e a Tolerância, em cooperação com a USP, do qual resultou a criação da Rede Unesco para a Tolerância e a Solidariedade, com amplo apoio de órgãos governamentais, não-governamentais, agências financiadoras e mídia. A rede de escolas associadas da Unesco, no Brasil, também tem se mobilizado, ao longo dos anos, para promover o 16 de novembro no ensino fundamental e médio.
Desde a época dos debates regionais, o uso do termo “tolerância” foi muitas vezes duramente criticado. Muitos lembram que seria até indesejável “ser tolerado” , quano o mínimo que se espera é ser respeitado. Contudo, o conceito de tolerância, como mobilizador de consciências , não pode ser confundido com o uso trivial. Vale transcrever o artigo primeiro da Declaração: “A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, abertura do espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e de justiça. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz” A declaração trata do papel do Estado, da educação, da sociedade, dos meios de comunicação. Apresenta-se, sempre, de maneira central, a perspectiva do pleno respeito aos direitos universais e às liberdades fundamentais de todos, como base da construção da paz. Voltando-se para a temática dos riscos da intolerância, a declaração afirma, no artigo 4º, que “a educação para a tolerância deve visar a contrariar as influências que levam ao medo e à ex exclusão do outro e deve ajudar os jovens a desenvolver sua capacidade de exercer um juízo autônomo de realizar uma reflexão crítica e de raciocinar em termos éticos”
As repercussões de atitudes de respeito ao outro ocorrem nos campos político, social, cultural e econômico. É interessante observar que o prólogo da Declaração Universal dos Diretos Humanos articula a imperiosa necessidade de livrar o ser humano do medo, ou da opressão, e da miséria. Ou seja, quando se fala em pleno respeito aos direitos de cada um e de todo ser humano, eliminar o medo é crucial para garantir que não se pratica a violência como forma de defesa contra alguém que se teme, porque nem se sabe quem é. O sentido de educar para a tolerância e de praticar a tolerância
está também aí: conhecer o outro, todos os outros, que vivem de forma distinta daquela que conhecemos. Apenas o conhecimento pode levar à superação do medo que gera preconceito e discriminação. Por isso, o sentido da tolerância é o da valorização da diversidade humana e o da busca de viver com o outro de forma respeitosa, saudável , pautando a resolução de problemas e desacordos pela via do diálogo.
Da mesma forma, falar em respeito é falar de como é inaceitável a miséria, a injstiça da desigualdade, que não se confunde com a diversidade. Por isso, falar de tolerância é falar também do intolerável: a violação de direitos, a injustiça, a desigualdade, as muitas faces da violência.
Não é à toa que os documentos preparatórios da Conferência Mundial contra Racismo, Xenofobia e Intolerância, que se realizará na África do Sul, em 2001, voltam-se para a temática da tolerância. É a forma de provocar o tratamento dos muitos matizes em que se manifesta o racismo, já que é o tema pelo qual se têm tratado de forma integrada, no campo internacional, a articulação e a composição da valorização da diversidade, com a denúncia e a busca de superação da desigualdade. A proximidade das datas permite que essa reflexão seja feita hoje. Por isso, com este artigo, saúdo a todos os irmãos afro-descendentes, em particular a todos que têm dedicado suas vidas a ajudar a construir de um jeito novo, mais digno e mais justo, a história de nosso país. Como se vê, tolerância é um assunto do qual ainda há muito a tratar. Sem dúvida, cada q um pode , desde logo, refletir sobre o que existe em seu cotidiano que pode ser agregado a essa reflexão. Ao trabalho!
-- Roseli Fishmann é professor de pós graduação na USP e na Universidade Presbiteriana Mackenzie, coordenadora do Instituto Plural e Membro do Júri Internacional do Prêmio Unesco de Educação para a Paz.
Olgária Matos entre Direitos, Desejos e Utopia By admin - – 17/05/2011
http://www.outraspalavras.net/2011/05/17/olgaria-matos-entre-direitos-desejos-e-utopia/
Entrevistada pelo projeto Revoluções, filósofa vê em 1968 o momento em que a ideia de transformação social começou a mudar
Recomeça esta semana, em São Paulo, uma experiência político-estética de rara atualidade. No instante em que ressurgem, no mundo árabe, os grandes movimentos de transformação social promovidos pela multidão, o projeto Revoluções debate conceitualmente esta forma de mudar o mundo. Iniciado em abril, ele desdobra-se, agora, em três novas atividades: o seminário Revoluções: uma política do sensível (20
e 21/5); a abertura de uma exposição de fotos organizada por Henrique Xavier, a partir de trabalho de Michel Löwy (21/5); e a instigante oficina Mídia e Revolução: culturas de vanguarda (22 e 24/5).
Muito mais que uma série de eventos, Revoluções – um projeto que Outras Palavras ajudou a conceber – é um convite a refletir. Por isso, produz, em certos momentos, diálogos e entrevistas, disponíveis em seu site. Autora, entre muitas outras obras, de As barricadas do desejo, sobre o Maio de 1968 francês, a filósofa Olgária Matos é uma participantes ativa destes momentos. O texto abaixo traz a síntese de uma destas conversas, mantida com a equipe de organizadores do seminário. No diálogo, ela falou sobre 1968 – abordando, em especial, seu papel na criação de novos projetos superação do capitalismo (que afloram mais intensamente hoje). Também abordou o sentido e atualidade da noção de direitos humanos, as armadilhas da libertação do corpo conjugada com aprisionamento do espírito e (com viés um tanto conservador…) as redes sociais e o mundo virtual. Ao final, expressou, a respeito da noção de Utopia, uma visão que vale a pena conhecer e discutir.
Leia na próxima Edição: Projeto Revoluções:
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