..... as grandes maiorias, só realmente existem quando têm que se sacrificar para defender esses valores, nunca para viverem os benefícios desses valores
Continua....
Quando o país tem que entrar numa guerra iremos verificar que é o nosso povo humilde, sofrido, sacrificado, que vai entrar com a carne para a bucha do canhão. Mas na hora da paz, quem tira as castanhas do fogo são os contingentes minoritários. Recordo, por exemplo, que quando era Governador do Rio Grande do Sul, lá houve um acampamento de camponeses, imenso ao lado de uma grande extensão de terra completamente inexplorada. Acamparam na via pública.
No começo eram mil, no outro dia já eram mais mil, e acabaram em cerca de dez mil, ali acampados, para criar o problema e pleitearam a divisão daquela grande extensão de terra. Então, a certa altura, estive lá como Governador, depois de dar toda a assistência sanitária, enfim, de segurança, de alimentação a toda aquela gente, àquele imenso contingente de famílias. Fiz um convite às autoridades do III Exército, à Justiça, à Igreja, às Federações do Comércio, da Indústria, aos Sindicatos. Convidei jornalistas, levei lá uma grande representação e comecei a fazer com eles um diálogo público. Perguntei muitas coisas. Deve haver uma gravação sobre isso. E quando cheguei, perguntei se vinham da cidade ou não, quantos filhos tinham – uma coisa comovente! Eu convidei o General para o meu lado e disse: Olhem, aqui está o General, Comandante do nosso Exército. Eu gostaria de saber se existe aqui algum reservista. Quase todos levantaram o braço. “Somos todos reservistas, Governador”. Digam uma coisa, perguntei: “Alguém aqui esteve na FEB? Quem esteve na guerra levante o braço”. Ah! Centenas levaram o braço. É, disseram, que nos davam tudo, Governador e não nos deram nada”. E outro gritou: “Estamos na miséria, ao temos sequer um pedaço de terra para plantar mandioca”. E gritaram aqui, ali e outro e outro mais. Eu olhava para o General: “Eu estou acreditando no que vocês estão dizendo, vamos fazer o seguinte: o General está aqui e ele conhece bem esse assunto. O Sr. Aí, por exemplo, o senhor onde esteve na guerra?” – “Eu estive em tal e tal lugar, servindo ao major fulano de tal nos meses tais e tais”.
Ouvimos por meia hora o depoimento daquela gente. Depois perguntei: “É verdade, general?”. “É verdade,sim”, respondeu ele. E é bem o que ilustra o que eu estava afirmando. Na hora em que a Pátria, em que a Nação necessita, pelo o nosso povo humilde que vai dar a contribuição de sangue, de maior sacrifício. Mas depois, na hora dos benefícios, na hora da paz, na hora das benemerências, tudo isso desaparece. Então, para o nosso conceito de povo, de nacionalidade, nós temos que assumir uma outra definição. Os companheiros vão encontrar sugestões a esse respeito.
Quanto à nossa posição a respeito da liberdade, da democracia, também reunimos umas quantas sugestões para os companheiros considerarem. Essa é uma questão que considero muito importante! Nós não somos apenas comprometidos com a democracia, com a liberdade. Não. A democracia é nosso ambiente. Não é possível conceber o trabalhismo sem
que seja num ambiente democrático. Nós somos a causa das grandes maiorias, logo o nosso ambiente é a democracia. É muito importante essa definição, porque é uma bandeira que inclusive nos tem sido roubada. Ou, quem sabe, nós é que temos sido descuidados em relação a ela.
Continua na próximas Edição:
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