quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ensinos Espiritualistas – Sayonara(QUARAÍ-RS) – Mediunicamente

17/05/2012 - Quinta-feira



Recebidos por
William Stainton Moses
(A.   Oxon)

Seção XIV
(A comunicação precedente produziu em mim um efeito considerável; guardei silêncio durante alguns dias e depois rompi nestes termos:)
O paralelo entre a época do Cristo e a presente é compreensível. É fácil imaginar um saduceu instruído, desdenhando as pretensões do Cristo; aquele não tinha razão, sabemo-lo hoje, mas era muito desculpável. Examinadas no ponto de vista da razão, essas declarações deviam parecer monstruosas. Era lógico para um saduceu, cujo espírito era absolutamente contrário ao sobrenatural, recusar-se a admitir o que lhe parecia ser mentira ou ilusão. Entretanto ele estava em presença de um homem concreto, via-o, ouvia-o, podia confrontar sem custo a vida do novo profeta e verificar se ela estava conforme ao santo ensinamento que saía de seus lábios. Acho-me em uma situação inteiramente outra; trato com uma influência imperceptível, cujas expressões podem ser, em última análise, a voz do meu espírito interrogando-se a si mesmo. O que vejo em redor de mim é um espiritualismo vago, muitas vezes desprezível em suas asserções. Fiquei impressionado com o que chamais as vossas revelações, elas são indecisas ou estultas. Não acho a minha estrada. Não sei mesmo se sois uma entidade, não tenho meio de inteirar-me a vosso respeito, não ficaria mais adiantado mesmo que assumísseis a aparência humana. Tivestes algum dia uma personalidade ou sois somente uma influência? Eu ficaria baseado, de algum modo, se pudesse crer que fôsseis uma individualidade definida. Em resumo, desejo que me deixeis sozinho.
(De fato, eu estava acabrunhado, por esse enérgico conflito entre as minhas opiniões fortemente preconcebidas e as de uma inteligência poderosa em afirmações e coerente em argumentos. Achava-me dilacerado por emoções contrárias e passava por uma crise de preparação necessária, como a continuação o provou. Deram-me esta resposta:)
Amigo: simpatizamos convosco e tentaremos ajudar-vos. A vosso ver o céptico saduceu podia facilmente instruir-se, pois que tinha diante de si a pessoa definida de Jesus; mas, longe de ajudá-lo, essa presença lhe aumentava a perplexidade. Era-lhe infinitamente mais difícil associar o filho do carpinteiro de Nazaré à nova revelação, do que o é a nós associar-nos ao Supremo. Ele reconhecia a necessidade de uma reforma, mas a interrogação: “Este não é o carpinteiro?” Era a seus olhos um obstáculo mais sério do que aos vossos: “Sois uma individualidade?”
Ele não podia subjugar as dificuldades palpáveis que encontrasse. A baixa origem, a humilde fraternidade, o desprezo do mundo, a missão refutada por homens cuja opinião se lhe impunha, tudo isso formava uma invencível barreira. Se tomássemos as vossas palavras à letra, teríeis aprovado que o saduceu renunciasse a transpô-la.
Certamente, se ele não soube aproveitar a mensagem sem compreender o seu mensageiro, não seria culpado de nenhum pecado, desde que agisse sinceramente; apenas perdia uma ocasião de progresso, que aproveitaria quando estivesse mais bem preparado. Convosco o caso é outro. Nada de dificuldades exteriores; estais simplesmente agitado pela dúvida intelectual; reconheceis que as palavras que vos foram dirigidas podem ser atribuídas a um Mestre, enviado de Deus; sentis a necessidade da comunicação; admitis a sua beleza; a sua grandeza moral não pode escapar àqueles que estão em estado de recebê-la; sabeis que ele tem origem em uma fonte exterior, fora de vós; conheceis que nenhum esforço inconsciente de vosso espírito pode produzir o que contradiz o conjunto dos vossos próprios pensamentos; nenhuma teoria de interrogação interior, por mais engenhosa que possa ser, vos satisfaria. A fase de dúvida por que passais é fugitiva e não pode exercer ação permanente em vós. Quando ela cessar, admirar-vos-eis de haver imaginado que eu não era uma entidade tão real como vós mesmo, como qualquer inteligência encarnada no que chamais “homem”.
Sim, amigo, o tempo é tudo o que vos falta, tempo de paciente reflexão, tempo para meditar sobre os fins, tempo para apreciar a evidência e para adicionar os resultados. As palavras que vos abalaram tão profundamente são as de alguém que vê os vossos pensamentos e simpatiza com as dificuldades, com as objeções, que vos causam tanta perplexidade. Durante minha vida terrestre, exerci um papel proeminente em uma época difícil, bem semelhante à que precedeu a vinda do Cristo, e à que atravessais atualmente. É a lei em todos os ciclos onde o curso rotatório do tempo torna a trazer um estado de coisas semelhantes em intervalos certos. O homem é mentalmente o mesmo no curso dos séculos; quanto mais se desenvolve, progride e pensa, mais sabe. Mas também, tão certo como no mundo a noite sucede ao dia, virá tempo em que a sua concepção sobre a Divindade se apagará e em que a divina centelha nele existente implorará ao céu conhecimento mais completo de seu Deus.
Urge uma nova revelação; a antiga fez a sua obra e, das suas cinzas surge, à solicitação do homem, a nova que é, para a alma preparada, a voz do Alto a fortificá-lo e a consolá-lo. Isso sempre aconteceu, já o sabeis. Achareis vestígios, em toda a história, das relações de Deus com a Humanidade. Por que deixaria de ser assim? Por que ficaria muda a voz no momento em que o homem tem mais que nunca necessidade de socorro?
Não conheceis nada a meu respeito, dizeis. Por que quereis confundir o mensageiro com a mensagem? Por que persistis em associar o que é divino ao veículo que o transporta?
(O resultado desse argumento foi que, em consideração à fraqueza da minha fé, obtive o que eu tinha tão obstinadamente pedido. Depois de haver triunfado, vi a nulidade do dote pelo qual tinha eu lutado tanto. Comecei a apoderar-me da tendência do ensino e a não mais o identificar com a individualidade do mensageiro. Repassei em minha memória o tempo consagrado a esse argumento (do qual só parte posso publicar) e compreendi, como ainda o não tinha conseguido, o que era verdadeiramente para mim uma nova revelação. O mensageiro foi ofuscado pela importância da mensagem, e o desejo de provar ínfimos pontos de minudências perdeu-se no pleno brilho da convicção, que me deslumbrou então pela primeira vez.
Esse estado foi passageiro. Eu estava muito ligado aos antigos hábitos de análise para ceder a uma impulsão entusiástica; demais, a primeira educação religiosa se firmava, e eu voltava às minhas velhas objeções teológicas. Dissipado o primeiro efeito, continuei a discussão dois dias depois. Nesse intervalo, tinha eu lido e relido tudo o que está impresso aqui e em muitas outras páginas íntimas demais para serem publicadas. Recordara os trabalhos de um ano e, não descobrindo neles nenhum desvio da verdade, cheguei à convicção de que o poder em atividade era:
1º)    exterior a mim;
2º)    verídico e consistente em suas afirmações;
3º)    puro e elevado no ensino religioso que trazia.
Parecendo-me isso claro, comecei a examinar a questão de identidade e as pretensões alegadas.
Quanto às questões materiais, senti que podiam esperar. Os pontos já estabelecidos em meu espírito me afirmaram no pensamento que a inteligência verídica do passado era ainda verídica. Mas então veio a dúvida: até que ponto tudo isso podia ser a obra de Satanás transfigurado em anjo de luz trabalhando para destruir a fé? Eis exatamente a minha objeção:)
Não se pode dizer com espírito de crítica leal que o vosso ensino tenda ao que os homens chamam deísmo, panteísmo; não avilta a Deus colocando-o ao nível de uma força; mas não tende a entreter no espírito do homem uma dúvida quanto à verdade, qualquer que ela seja? Começa-se a crer que Deus é apenas um nome para designar a influência que penetra o Universo. A revelação de Deus vem “ab intra”, criada pela imaginação de modo algum revelada ao espírito. O Cristianismo é uma das numerosas formas de fé, todas mais ou menos enganadoras. O homem tateia cegamente desenvolvendo por e para ele mesmo idéias mais ou menos errôneas. Se Deus existe somente por concepção, cada homem tem o seu deus pertencente só a ele. A verdade absoluta, fora das matemáticas, não existe. E assim o homem, partindo do mais favorável ponto de vista, torna-se uma unidade insulada, a sós com o seu próprio espírito, respondendo às suas próprias perguntas, emitindo idéias que, depois de o terem satisfeito por um momento, dão lugar a outras que, por sua vez, cedem o passo a novas especulações; a menos em verdade que, quando o intelecto se torne fóssil, as velhas idéias fiquem permanentes por deixarem de viver.
Essa pálida teoria suplantaria um Evangelho, que traz o divino “imprimatur”, cujos preceitos são precisos, cuja moralidade está em um grau de elevação acessível à maior parte dos homens e que é reforçado por um sistema – de recompensas e de punições – sempre reconhecido como necessário pela experiência nas relações com o homem. Esse Evangelho, assim apoiado, não teve bom êxito, como o dizeis, para elevar os homens até a um altíssimo cume de perfeição moral. Como posso então esperar que uma filosofia tal como a vossa, com uma sombra de bem, é verdade, mas somente uma sombra encoberta, vaga, impalpável, que destrói o passado sem construir o futuro; como crer que ela possa subjugar os espíritos rebeldes que resistiram a uma religião precisa em sua direção moral, poderosa por seus apelos aos interesses humanos, autorizada por uma origem divina, santificada pelo halo que emana da mais santa vida, que nunca foi oferecida à imitação humana: Isso me parece muito improvável. Não repito hoje o que disse a propósito da fonte nebulosa donde provém esse ensinamento. Não insisto sobre os perigos que prevejo, se ele fosse geralmente adotado; esse perigo está ainda muito afastado. Ao mesmo tempo – e é importante o fator no argumento – o vosso ensino, a meu ver, relaxa muitos laços que foram úteis, moral, social e religiosamente, à Humanidade. E quando mesmo o que conhecemos sob o nome de espiritualismo invadir o mundo, receio muito que depois de ter entusiasmado e fanatizado os homens por algum tempo, estes, longe de se melhorarem, mergulhem na mais cega superstição e na mais inepta credulidade. Posso enganar-me absolutamente, mas estou convencido do que afirmo. O vosso ensinamento, mesmo se fosse o que pretende, não poderia substituir aquele em que os homens crêem; eles não estão mais aptos a ser governados por ele do que a viver da nutrição dos anjos. Mesmo sob a forma mais elevada, ele é de utilidade duvidosa e, em seus aspectos mais vulgares, é pernicioso e desmoralizador.
Em nome do Supremo vos saudamos. Não está em nosso poder ajudar-vos agora. As nossas palavras vos parecem diferentes do que o são. O abalo que comoveu o vosso espírito deixou-o em um estado pouco propício para ponderar e distinguir, sendo-vos preciso, pois, esperar o momento favorável. O aprendizado todavia vos é útil. Sabereis o porquê. A impulsão e o entusiasmo cederão ao conhecimento experimental e à convicção calma. A venerável crença, antes consentida que aceita, se amortecerá diante da descoberta de uma verdade nascida da investigação lógica. O que vos dissemos merece o mais aprofundado estudo.
Desejamos que vos utilizeis de todas as ocasiões para reler com cuidado o que foi escrito e para meditar maduramente sobre o conjunto das nossas relações convosco. Exigimos ser julgados de acordo com a nossa inteira comunhão convosco, e também aos nossos atos; pelo efeito moral do nosso ensino, tanto quanto pela sua relação com os precedentes credos; pela atmosfera espiritual que nos acompanha, tanto quanto pela imperfeita enunciação que permite facilmente a uma lógica sutil achar evasivas.
Presentemente, basta que reiteremos solenemente a nossa pretensão de sermos os portadores de uma comunicação divina. As palavras que pronunciamos são as de Deus, compreendei-o; nenhum argumento adicional pode aumentar de importância a nossa asserção. Não sois mais o joguete do malefício, assim como não estais transviado pelas fantasias de um cérebro doentio. O mal não fala de Deus como falamos. Nenhum credo pode exprimir o que dissemos nem apresentar a evidência tal como vo-la demos. Quando estiverdes mais calmo, vê-lo-eis. Se estivésseis com outra disposição, falar-vos-íamos do pecado de curiosidade, procurando descobrir o mal que pode ser ligado ao que é santo e divino, do mesmo modo como, quando o Santo Jesus vivia na Terra no meio das maldições e corrupções, os demônios que Ele expulsava se voltavam contra Ele pela boca dos devotos ortodoxos, que o acusavam de pactuar com Belzebu. Não nos inquietamos com responder a tais objeções que trazem em si mesmas a suficiente refutação. Quando puderdes pensar calmamente, daremos às vossas observações a resposta que nos parecer conveniente. Presentemente, o melhor é vos entregardes à meditação e à prece. Orai, amigo, com zelo e ardor, insisti a fim de serdes guiados para a verdade.
Não deveis recusar este pedido, pois foi ditado pelo próprio tentador! Orai incorporado a nós para serdes esclarecidos, terdes paciência e ficardes desembaraçado dos óbices dogmáticos que prendem vossa alma aspirante. Orai para que, depois de libertado desses laços, recebais uma direção em vossa marcha ascendente, a fim de não irdes muito alto e de não tornardes a cair. Orai para que a opinião dos outros não influa sobre a vossa e para obterdes a graça de escolher o caminho reto que convém às necessidades de vossa alma, pois cada um deve determinar o que lhe é preciso. Orai para encarardes claramente a vossa responsabilidade, que é aceitar sem precipitação e rejeitar sem preconceito obstinado. Além disso tudo, orai para serdes humilde, sincero, honesto, para que não altereis a obra de Deus por orgulho, obstinação ou indignidade. As nossas preces se juntarão às vossas para atraírem uma comunicação de amor e de consolação emanada daqueles que velam ansiosamente pela propagação da verdade divina. Respondemos à vossa objeção no que concerne ao resultado genérico do movimento em seu conjunto. Mostramos-vos, oculto profundamente sob a superfície, algo que, sozinha, a vista não descobre.
Em todas as épocas em que o conhecimento de Deus se desenvolve, há muitos adeptos silenciosos, ignorados do mundo, que avançam resolutamente para um saber mais perfeito; o mesmo sucede atualmente. Numerosos são eles, muito numerosos os que deploram a corrupção ilimitada dos pensamentos que os chocam e os afligem, mas não têm força para diminuir a fé baseada sobre a experiência.
Demais, podemos informar-vos que as nossas relações com o plano material são governadas por leis que a vossa ciência ainda não definiu. Finalmente, nem nós nem vós conhecemos todas as coisas que se interferem ao nosso poder. Não estamos em estado de promulgar leis para vos dar uma direção, pois apenas o conseguimos para nós outros. A importância capital do assunto é pouco apreciada entre vós, e aqueles mesmos que se interessam pela nossa obra não a penetraram bastante. Muitas vezes neles predomina uma curiosidade banal, e até motivos baixos. Não tomam conveniente cuidado com os médiuns, quando o instrumento não está de acordo com o diapasão, por afrouxado ou cansado. As condições atmosféricas variam. Nem sempre sabemos como proceder em presença dos diversos efeitos que são assim produzidos. Os grupos não são convenientemente compostos e muitas coisas mal combinadas impedem que os fenômenos sejam sempre semelhantes em sua natureza ou provocados com precisa regularidade.
O caráter incerto do fenômeno é proveniente disso e da obstrução contínua que os curiosos exercem atraindo Espíritos seus similares, perturbadores das esferas. Há muito a dizer sobre esse assunto, mas há outras matérias mais urgentes. O que indicamos pode induzir-vos à indulgência na apreciação das variantes de algumas reuniões. Não falamos daquelas em que a mentira é aceita: lá, os Espíritos menos desenvolvidos penetram a sós e o que nelas se passa é indigno de crença.
Podeis ajudar-nos a esmagar a pueril curiosidade e a fraude. Pudestes verificar, em nosso próprio grupo, como as manifestações se desenvolveram progressivamente quando seguistes o nosso conselho; podeis convidar os outros a usar dos meios. Com o tempo, a nuvem se dissipará, pois as causas que a produzem dependem de vós, pelo menos tanto quanto de nós.

Leia na próxima Edição:  Seção XV

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