21/05/2012 - Segunda-feira
Recebidos por
William Stainton Moses
(A. Oxon)
Seção XVI
(Quando tentava formular novas objeções, que se apresentavam em tropel ao meu pensamento, fui detido por esta comunicação:)
Queremos resumir o que já foi dito. Não apanhastes suficientemente o fato de que a religião exerce apenas fragilíssimo poder sobre a massa da Humanidade; não compreendeis do mesmo modo a oportunidade das nossas palavras e da sua adaptação às aspirações da Humanidade. Em vosso estado atual, no meio das vossas relações e ocupações, não podeis ver como nós; é necessário lembrar-vos a indiferença que invade os homens quanto ao seu destino futuro. Entre os que pensam, alguns têm descoberto facilmente que o que lhes é dado, como revelação direta de Deus, não pode suportar a prova de um exame experimental, que as noções prevalecentes são vagas, contraditórias e desagradáveis. A fórmula clerical de que a razão não pode sondar a revelação e deve parar no limiar da pesquisa, inspirada na fé, parece aos pensadores um plano hábil, para prevenir a descoberta dos erros e contradições que inçam a doutrina infalível que se quer impor ao mundo. Os homens, que não querem ou não ousam refletir, refugiam-se com os olhos fechados na fé, de conformidade com a rotina na qual se educaram, tornando-se fanáticos, carolas, irracionais. Seria difícil inventar um sistema mais eficaz, para restringir a inteligência, do que o que consiste em provar ao homem que ele em matéria religiosa não deve pensar. Seria paralisar o homem e colocá-lo quase na impossibilidade de se elevar. O que deve ser a nutrição vital, tornou-se uma questão de nascimento ou de localidade; o homem é condenado a uma religião hereditária, quer o Deus de sua raça ou de sua família seja o grande Espírito do Indiano vermelho, o ídolo do selvagem idólatra, quer o seu profeta seja o Cristo, Maomé ou Confúcio. Enfim, do Norte a Este, do Sul a Oeste, o homem por toda parte estabeleceu uma teologia de sua lavra que vai ensinando a seus filhos, ligando-os, por assim dizer, à força, a uma doutrina que lhes apresenta como indispensável à salvação. Já atraímos a vossa reflexão sobre esse ponto. Aprofundai o assunto.
Qualquer religião, de qualquer raça, em qualquer ponto do globo, que tenha a pretensão de possuir o monopólio da Verdade Divina é uma ficção humana nascida da vaidade e do orgulho do homem.
Nenhum sistema de teologia tem o monopólio da verdade; cada um, em qualquer grau que seja, é imperfeito; cada qual tem as suas partes de verdade em relação com as necessidades daqueles a quem foi dado ou para quem evolveu. Mas nenhum pode ser recomendado aos homens como sendo a única nutrição espiritual por Deus concedida. O homem, em sua vaidade, gosta de crer que é possuidor exclusivo de algum gérmen de verdade (sorrimo-nos ao vê-lo alimentar essa ilusão) e, glorioso dessa posse imaginária, ele persuade-se de que é preciso enviar missionários aqui e ali para levar o seu específico a outros povos que lhe ridicularizam os pretensos direitos.
E é surpreendente que os vossos sábios tenham sido e sejam incapazes de ver que o raio de verdade chegado até eles, e que eles obscureceram o melhor possível, é apenas um entre os inúmeros clarões espalhados sobre esse planeta pelo sol da Verdade. A Divina Verdade é uma luz muito deslumbrante para a vista humana; deve ser amortecida por um médium terrestre e velada para não deslumbrar o fraco órgão visual. Somente quando o corpo terrestre for abandonado e a alma voar para as altas regiões, é que ela poderá ser dispensada da interposição do veículo humano que obscurecia o brilhante esplendor da luz celeste.
Todas as raças de homens receberam um átomo dessa luz. Desde que o mundo existe, o brâmane, o maometano, o judeu e o cristão tiveram cada qual seu brilho particular, e cada qual o considerou seu apanágio especial, vindo do céu. E para frisar mais quão enganadora é essa pretensão, olhai para a Igreja que se arroga a posse exclusiva da Verdade Divina. Que múltiplas divisões! As dissensões da Cristandade, que despedaçaram em fragmentos desiguais a Igreja do Cristo, o rancor vingativo com o qual se acometem uns aos outros, são as melhores respostas à louca afirmação de que o Cristianismo possui o monopólio da Divina Verdade. É preciso respeitar a verdade oculta na crença do próximo e aprender a primeira de todas as lições: procurar o bem e não o mal, reconhecer o Divino, mesmo através do erro humano, e honrar o que é de Deus, mesmo quando não mais possais servir-vos dEle.
Aproxima-se o tempo em que um novo raio de luz dissipará o nevoeiro da ignorância humana; as sublimes verdades que estamos encarregados de proclamar apagarão da superfície da Terra de Deus a rivalidade sectária, a amargura teológica, a cólera, a má-vontade, o rancor, o orgulho farisaico que desfiguraram o nome de religião e tornaram a teologia sinônimo – entre os homens – de discórdia. Essa nobre ciência, que devia instruir o homem no conhecimento da natureza de Deus e inspirar-lhe alguma coisa do amor que emana da Divindade, tornou-se o campo de batalha das seitas e partidos, a planície árida onde os mais mesquinhos preconceitos são imiscuídos com as mais miseráveis paixões, o deserto estéril onde o homem apenas demonstra a sua completa ignorância a respeito do assunto de que trata com tanto devotamento.
A teologia foi o pretexto para apagar os mais santos desejos, semear o ódio entre os parentes e amigos, queimar e torturar os corpos dos melhores homens; para lançar ao ostracismo aqueles que o mundo devera honrar com satisfação, para destruir os bons instintos humanos e apagar as mais naturais afeições. Sim, e é ainda a arena em que se ostentam as vis paixões humanas, estigmatizando aqueles que ousam separar-se da regra estereotipada. Aquém, onde a teologia reina, o lugar da razão está vazio. Os homens sinceros devem corar cogitando disso, pois, em sua atmosfera sufocante, o livre pensamento expira e o homem é uma figura privada de raciocínio.
É assim que foi degradada a Ciência, que devia ensinar Deus à Humanidade.
Já vos dissemos que o fim se aproxima.
Como nos dias precedentes à vinda do Filho do homem, assim agora se anuncia a aurora vinda do Alto. Os elos com que os padres acorrentaram as almas combatentes serão quebrados: em vez do fanatismo insensato e do ignorante farisaísmo, tereis uma religião racional, de mais amplas idéias concernentes a Deus, tereis noções mais exatas sobre os vossos deveres e sobre o vosso destino; sabereis que aqueles a quem chamais mortos estão vivos ao redor de vós; vivendo mais realmente do que na Terra, ocupando-se de vós com amor que não diminui; animados em sua infatigável relação convosco, da mesma afeição que vos testemunhavam enquanto estavam ainda na carne.
Disse-se que o Cristo havia posto às claras a vida e a imortalidade. É verdade no sentido mais lato, e os homens começam apenas a perceber o resultado da revelação do Cristo, que é a abolição da morte, a demonstração da imortalidade. O homem nunca morre, não poderia morrer, ainda que quisesse.
A imortalidade do homem, admitida não como artigo de fé, mas como resultado da experiência pessoal, é a base da abóbada da religião futura. Nela estão todas as grandes verdades que ensinamos, as mais nobres concepções do dever, as mais vastas perspectivas do destino, as mais verdadeiras realizações da vida.
Não podeis atingi-la ainda. O vosso espírito, por deslumbrado e perturbado, não lhe poderia suportar o esplendor. Mas, crede, amigo, bem curto espaço de tempo vos separa do momento em que reconhecereis em nossas palavras os traços da verdade, o aspecto do divino.
† Imperator
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