quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ensinos Espiritualistas – Sayonara(QUARAÍ-RS) – Mediunicamente


24/05/2012 - Quinta-feira



Recebidos por
William Stainton Moses
(A.        Oxon)




Seção XIX

(31 de agosto de 1873. Resposta a algumas objeções que eu acabava de repetir:)

Já falamos do assunto de que vamos tratar, mas não entramos em todas as particularidades.

Alegastes, e outros convosco, que o nosso ensino é vago, obscuro, impalpável, e que abala a antiga fé, sem substituí-la. Propomo-nos apresentar-vos um quadro da religião que desejamos se estabeleça entre os homens.

Comecemos por Deus, o Mestre Supremo do Universo, que domina tudo em sua calma eterna, diretor e juiz da totalidade da criação. Em solene adoração nos prostramos diante de sua majestade. Não o vimos e não esperamos aproximar-nos de sua presença. Milhões de séculos, para empregar o vosso modo de contar, seguidos de miríades e miríades de séculos, devem decorrer antes que a alma, aperfeiçoada pelo sofrimento e experiência, possa penetrar no santuário interior, na presença de Deus Todo-Poderoso, santo e perfeito. Não o vimos, mas, pelo nosso conhecimento mais íntimo das suas obras, conhecemos melhor a perfeição sem limites da sua natureza. Sentimo-la sob mil formas que não atingem jamais o vosso muito baixo planeta; achamos o vestígio dela em mil circunstâncias que nem mesmo suspeitais. E enquanto vós, pobres ignorantes, dogmatizais sobre os atributos essenciais de Deus e modelais um ser à vossa imagem, nós outros nos contentamos em sentir e saber que o seu poder é a operação de uma Inteligência sábia, toda amor e penetração em tudo; sabemos que as suas relações conosco são cheias de amor e ternura.

Não procuramos adivinhar indiscretamente o futuro, mas deixamo-lo Àquele cuja abundante misericórdia experimentamos no passado e no presente; a crença muito perfeita que temos de Deus não nos permite especular; vivemos para Ele, esforçamo-nos por conhecer a sua vontade e por obedecê-la, certos de que procedendo desse modo obteremos graças para nós e para todos os seres criados de que nos ocupamos, e sempre lhe rendemos as honras que lhe são devidas e a única homenagem digna de sua aceitação. Amamo-lo, adoramo-lo, rendemos-lhe grande culto, somos submissos a Ele e não discutimos os seus planos, do mesmo modo que não procuramos penetrar seus mistérios.

Deveis contentar-vos com saber que virá o dia em que poderemos dar-vos informações mais positivas da origem do homem, da sua natureza espiritual e do seu destino. Não estamos encarregados de alimentar a curiosidade nem de vos desviar a atenção com idéias e especulações acima da vossa capacidade. Podeis saber que a história teológica da queda original, tal como foi narrada e aceita, fazendo o homem resvalar de um estado de pureza ao pecado, é uma falácia.

Certos religiosos acalentaram a idéia de conciliar a razão com essa lenda desfigurada; fareis melhor em dirigir a atenção para o estado atual do homem, alma encarnada; indagar como pode ele aprender as leis que o governam, como a sua obediência a essas leis o conduz à felicidade no presente e ao progresso no futuro imediato. Deixai as longínquas esferas onde só os purificados residem; os olhos do mortal não podem contemplar os seus segredos. O acesso a elas só é franqueado aos bem-aventurados. Vós e todos as atingireis depois de indispensável preparo e desenvolvimento.

É mais importante falar-vos do dever e do trabalho do homem na Terra. O homem é um espírito temporariamente encerrado em um corpo de carne, um espírito com um corpo espiritual, que deve sobreviver à sua separação do corpo carnal. Um dos vossos instrutores teve razão de vo-lo dizer, ainda que tivesse errado em particularidades mínimas; esse corpo espiritual é o objeto principal da vossa educação na Terra; ele deve ser desenvolvido e preparado para a sua vida nas esferas de Espíritos, vida que, tanto quanto vos compete saber, é infinita. Não podeis imaginar o que significa eternidade.

O espírito encarnado tem consciência inata, muitas vezes informe e grosseira, do justo e do injusto; as ocasiões de se desenvolver são-lhe oferecidas, ele tem seus graus de provação, fases de preparação, auxílios para progredir, caso queira utilizar-se deles; já falamos desse assunto e mais tarde desenvolvê-lo-emos.

Hoje vos diremos o dever do homem no período da prova.

O homem, como entidade espiritual responsável, tem deveres a cumprir, para consigo mesmo, para com o seu próximo e para com Deus.

Os vossos guias instrutores esboçaram suficientemente o código moral que diz respeito ao espírito do homem, mas, ao lado e além do que puderam ensinar, se estende um vasto domínio. A influência do espírito sobre o espírito, apenas reconhecida entre os homens, é o mais poderoso socorro ou o mais formidável obstáculo ao progresso humano. Resumamos. Pela palavra progresso ou conhecimento de si mesmo, compreendemos o dever do homem, entidade espiritual, que deve fazer um constante esforço para ativar o seu desenvolvimento anterior. O dever do homem, ser intelectivo e racional, define-se pela palavra, cultura ou pesquisa dos conhecimentos, não em uma única direção, mas em todas; não por interesse material, mas para estimular faculdades que, destinadas a perpetuar-se, devem aumentar incessantemente. Enfim, diante do seu espírito, oculto sob uma forma de carne, o dever do homem é a Pureza, pois Progresso, Cultura, Pureza, totalizam no conjunto os deveres do homem para consigo mesmo, considerado como ser espiritual, intelectivo e material.

Quanto ao dever do homem para com a raça de que é ele unidade, a comunhão de que é membro, experimentamos cristalizar em uma palavra a idéia central que lhe é o motor. Caridade ou Tolerância para com as divergências de opinião, caridosa apreciação de atos e palavras duvidosas, benevolência nas relações, ardente desejo de ajudar o seu próximo, sem aspirar a recompensas; cortesia e doçura de conduta; paciência diante da injustiça ou interpretação malévola; integridade nos negócios ou projetos, aliada a uma indulgente e afetuosa bondade; simpatia perante os sofrimentos de outrem; misericórdia, piedade e ternura de coração; respeito à autoridade em sua esfera; respeito aos direitos do fraco; essas qualidades e outras que tais, do mesmo gênero, que são a verdadeira essência do caráter do Cristo, exprimimo-las nós pela palavra Caridade ou Amor ativo.

Quanto à relação entre o homem e o seu Deus, é a de um ser que, colocado em um dos mais baixos graus de existência, aproxima-se da Fonte de Luz incriada, do Grande Autor, do Pai de tudo.

A sua alteza é definida por estas palavras da Bíblia: “Os anjos ocultam a face com as asas quando se inclinam diante do seu trono.” Essa figura simboliza a veneração e a adoração que deve possuir o espírito do homem. Veneração e temor, mas sem terror. Adoração, Amor, tais são as qualidades que devem inspirar o espírito em sua relação com Deus.

Este vago esboço dos deveres humanos pode ser completado, mas o homem, observando-os, fica em estado de realizar grandes progressos, de ser um bom cidadão, podendo servir de modelo em qualquer situação da vida. Não falamos do dever exterior, cuja importância não conhecemos. Por isso, durante todo o tempo em que o homem é um ser físico, os atos físicos ocupam-lhe grande lugar; não receamos que se deixe de ligar a isso uma importância suficiente, e eis por que não nos apoiamos sobre esse lado da questão. Ocupamo-nos sobretudo com atrair-vos a atenção sobre o vosso verdadeiro eu, e insistimos para que considereis tudo o que fazeis como a manifestação exterior de um espírito interior que determinará a vossa futura condição de existência ao deixardes esse ciclo.

Quando reconhecerdes o espírito, que é alma de tudo, que é a realidade e a vida ocultas sob a Natureza e a Humanidade, e que se manifesta sob as formas mais diversas, estareis inspirado pela verdadeira sabedoria. Temos agora de tratar dos resultados que derivam da observância ou da não aceitação do dever do homem. Aquele que o preenche conforme a sua capacidade com o honesto, sincero e único desejo de o executar o melhor possível, é recompensado em progresso. Dizemos progresso, porque o homem é inclinado a não reparar que o seu espírito tende a encontrar no progresso a mais real felicidade. A alma pura goza apenas um contentamento relativo, não pode descansar no que é passado, onde só vê um estimulante exortando-a a caminhar; vai para o futuro, na esperança e na expectativa de um desenvolvimento sempre mais extenso. A alma que adormece satisfeita, imaginando atingir a meta, estaria em perigo de retrogradar. A verdadeira atitude do espírito é a do esforço ardente e ascensional, e a sua felicidade está na progressão perpétua. Não há finalidade alguma, absolutamente alguma!

Isto se aplica não somente ao fragmento da existência a que chamais vida, mas à totalidade do ser. Sim, as ações efetuadas durante a encarnação têm a sua continuidade na vida do espaço; a barreira a que chamais morte nada limita, pois, longe disso, a condição do Espírito, ao recomeçar a sua vida real, é determinada pelos seus atos corpóreos. O Espírito que foi indolente ou impuro gravita necessariamente em esfera congênere e começa o período de provas, que têm por objeto purificá-lo dos hábitos adquiridos durante a sua vida terrestre, inspirar-lhe a vergonha e o remorso, que despertam nele o desejo de se elevar; isso é o castigo da transgressão e não um julgamento arbitrário; é a inevitável sentença que condena ao remorso, ao arrependimento – retribuição do pecado consciente; é a vara que castiga, não porém aplicada por uma divindade vingadora; é a lei de um Pai terno que mostra ao filho a sua falta e o modo como repará-la. A recompensa não é um repouso inativo, monótono ou sensual, porém a consciência do dever cumprido, do progresso realizado, da capacidade acrescida para progredir ainda, do amor de Deus e do homem, aumentado pela verdade servida e conservada.

É a recompensa do espírito, vinda como o descanso depois do labor, como a água ao sequioso, como a sensação de alegria ao viajante ao avistar a casa; é gratificação penosamente ganha. O aguilhão impelindo a outros progressos.

Tratamos o homem, bem o sabeis, como uma inteligência viva, só com as suas responsabilidades e os seus esforços; não achamos necessário tocar no auxílio administrado pelos Espíritos-guias nem nos impulsos e impressões que inundam a alma frágil. O que nos ocupa é essa fase da existência do homem, oferecida à vossa investigação e manifestada aos vossos olhos. Não fazemos menção de uma reserva ilimitada de mérito, adquirida e conservada à custa da morte do Filho de Deus, sem pecado, para que o homem aí colha à vontade, entregando-se a espécies de permutas para resgatar as suas próprias faltas a fim de se apresentar em seguida diante do Eterno, mesmo depois de uma vida manchada de crimes. Não devemos falar dessas concepções nascidas de uma imaginação estúpida e perversa. O homem tem sempre ao seu alcance socorros poderosos, mas não há aí sacrifício expiatório para o qual ele possa apelar, e quando o seu cobarde coração é oprimido pelo temor do aproximar-se da dissolução, nenhum mensageiro vem consolá-lo, deixando a ele que ao sentir o perigo possa, pelo terror, medir o seu pecado e arrepender-se.

Ignoramos que haja uma outra reserva de mérito a não ser a que o homem acumula para si à custa de lentos e laboriosos esforços; apenas conhecemos a estrada seguida pelos próprios bem-aventurados para chegarem às esferas da felicidade. Nenhum encantamento mágico existe transformando em santo o condenado endurecido. Essas invenções blasfematórias desviam o homem do auxílio da proteção que o rodeia. Não possuímos o poder, em verdade, de trabalhar, em benefício do homem, pela salvação que ele deve obter pelo seu labor, mas podemos assisti-lo, reconfortá-lo, apoiá-lo, e ele pode atrair a si os socorros pelo poderoso meio da prece. Ah! ignorais que força abandonais, não procurando pela prece contínua comungar com os Espíritos puros e bons que estão prontos a vir consolar-vos e instruir-vos. O impulso de louvor que põe a alma em harmonia com Deus e a prece, que faz moverem-se os agentes espirituais, são os grandes motores sempre ao serviço do homem; no entanto, este passa por aqueles e entrega-se a ficções em vez de sacudir a sua indolência e de estudar os fatos.

Pouca importância ligamos à crença individual, que bem cedo tende a reformar-se, pois as suposições feitas, no decurso da vida terrestre e defendidas até com veemência agressiva, são dissipadas como o seria uma leve nuvem pela luz das esferas. Ocupamo-nos muito com os atos; não perguntamos: “Que crença tendes?” mas sim: “Que fazeis?”

Sabemos que os costumes, as disposições e os caracteres são formados pelas ações, que decidem assim da condição dos seres; sabemos também que esses costumes e caracteres só podem ser mudados depois de longa e laboriosa marcha progressiva. É pois para os atos, não para as palavras, para as realidades, não para as profissões de fé, que olhamos. Ensinamos a religião do corpo e da alma, religião pura, progressiva e verdadeira, que não pretende finalidade, mas faz o seu adepto subir a altura cada vez mais vertiginosa; os amargores da Terra eliminam-se durante essa grandiosa ascensão, onde a natureza espiritual apurada, elevada ao sublime, aperfeiçoada pela experiência da dor e do trabalho, se apresenta gloriosamente pura diante do seu Deus. Nessa religião não há nem inércia, nem indiferença. O tema de ordem do ensino espiritual é a boa-vontade leal e zelosa. Nada de evasiva às conseqüências dos atos, pois tal fuga é impossível. A falta encerra o seu próprio castigo. Não achais nessas instruções a doutrina que permite sobrecarregar com fardos que preparastes, mas deveis suportá-los e o vosso espírito deve gemer sob o seu peso, pois cada um trabalha, sofre e expia por si; os atos e costumes têm muito mais importância que as crenças; nenhuma formalidade religiosa protege o espírito maculado. Obtereis misericórdia quando tiverdes alcançado o arrependimento e o melhoramento, a pureza e a sinceridade, a verdade e o progresso com a sua própria recompensa, e então não precisareis implorar nem misericórdia nem piedade.

É essa a religião do corpo e do espírito, que proclamamos. Ela é de Deus, conforme sabereis em breves e próximos dias.

† Imperator

Leia na próxima Edição: 

Seção XX

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