29/05/2012 - Terça-feira
Alain Touraine é um sociólogo francês, com 85 anos, um dos mais conceituados e prolíficos pensadores do Século XX. Touraine se tornou um dos papas da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, onde fundou o Centro de Estudos dos Movimentos Sociais, e para onde convergem cientistas sociais do mundo inteiro, há várias gerações, dos quais foi professor e orientador. Ficou conhecido como o pai da expressão "sociedade pós-industrial", pelo livro que escreveu com este nome, ainda em 1969, quando poucos percebiam o salto tecnológico já em curso. Na verdade Daniel Bell já havia usado o termo em 1962 e o usou no seu livro de The Coming of Post-Industrial Society (1973. Ele é muito conhecido na América Latina, que frequenta há décadas e dialoga, com frequencia, com os mais conhecidos intelectuais do continente, sobre uma base teórica de base fundada em Durkheim, Weber e Marx, mas fortemente influenciada pelos chamados pós-modernos. Na modernidade clássica a teoria enfatizava, de um lado, a primazia da economia como uma plataforma sobre a qual se construíam as classes e o processo de dominação e, de outro, a afirmação de um sujeito dotado de razão e liberdade, portanto, capaz de legislar sobre seu destino; para os pós-modernos a economia continua sendo importante mas relevam os processos autômos da política e da cultura, acentuados todos pela indústria cultural, com a consequente reafirmação da “alienação” do suposto sujeito cada vez mais subsumido em processos de manipulação, sedução e de integração. Nos clássicos, o sujeito romântico impera. Nos pós modernos ele sucumbe, daí o pessimismo que lhe é inerente e a depressão como sintoma do século XXI.
“Em ‘A sociedade pós-industrial’, (Touraine) afirma que a sociologia não é fruto da revolução industrial, mas somente se consolidou a partir da segunda metade do século XIX, quando a sociedade passa a ter um maior controle dos mecanismos econômicos surgidos com as revoluções industriais, os quais, no momento de seu surgimento, levaram às construções teóricas do início do século XIX que identificavam um desenvolvimento econômico intervindo na organização social. Com a retomada do controle social das mudanças econômicas é que, portanto, a sociologia pode se constituir numa ciência que não mais fetichizava o social, tal como o indivíduo da filosofia. Passa-se da identificação de uma natureza social para o reconhecimento da historicidade, ou seja, da ação social e da capacidade desta em direcionar o desenvolvimento do conjunto da sociedade.”
(wikipedia)
Em sua entrevista ao Programa Milênio, da NETNEWS, (http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1642300-17665-314,00.html) Touraine retoma os tema já conhecidos de sua visão do mundo contemporâneo e critica a velha esquerda, tanto européia, como latinoamericana, pela sua ancoragem em consignas já centenárias e desatualizadas. Para ele a sociedade vertebrada que conhecíamos dissolveu-se e, ao desaparecer, levou consigo os agentes capazes de provocar e conduzir transformações no sistema (capitalista) . Sobram as instituições, mas faltam atores. No fundo, Max Weber, no início do século XX já havia chamado a atenção para esse fenômeno da racionalização da vida moderna e que levava consigo ao desaparecimento do líder carismático e até mesmo do empresário inovador. Touraine, entretanto, vê novos elementos – não propriamente sociais – na vida moderna e que devem ser incorporados ao discurso transformador: a ecologia, o feminismo e o individualismo. Para ele a luta pela salvação do planeta é um elemento novo e fundamental às lutas contemporâneas. O feminismo, como incorporação das mulheres à direção da sociedade em suas várias dimensões, também. E o individualismo, antagônico à luta pela incorporação de valores éticos relativos à maior confraternização entre os homens, elemento indissociável à aquisição de direitos processada no século XX, como, aliás, para outro pensador, Norberto Bobbio, criador da expressão “Século dos Direitos” .
A fala de Touraine no Brasil, com o qual se diz positivamente surpreso, apesar do atraso do sistema político, coincidiu com a divulgação de outra fala, em forma de entrevista, de outro pensador, inglês, Eric Hobsbawn, 95 anos, o “último marxista”, no The Guardian, de London (http://www.torres-rs.tv/site/pags/almanaque2.php?id=1044) e coincidem em pontos de vista: O mundo mudou e a forma de pensá-lo e transformá-lo também deve mudar. A sociedade do conhecimento trouxe no seu bojo uma nova estrutura social e um novo paradigma de vida para todo mundo. De certo modo, o capitalismo coagulou-se no centro do sistema assegurando a todos os seus partícipes – cidadãos e consumidores - uma certa estabilidade social e alto nível de vida material e garantias de identidade. O que não está resolvido é o que está fora desse sistema e que, desde que a Revolução caminhou em direção ao leste, animada pela insuficiência do capitalismo nestas áreas, anima o radicalismo anti-ocidental. .
Mas, ainda assim, a Revolução vem surpreendendo a humanidade e se oferecendo como um atalho à acumulação de capital, modernização e secularização de sociedades tradicionais.
A URSS cumpriu seu papel e moldou uma nova Rússia ocidentalizada. A China, por exemplo, em 1949, ingressou no comunismo para salvar-se como nação, mas em 1966 embarcava em outra revolução para salvar o próprio comunismo já gasto; deu errado e no início dos anos 70 introduz o capitalismo para salvar um e outro: a nação e o comunismo. Hoje, 40 anos depois, salvos ambos, a China desponta como única garantia dos dólares furados americanos, de uma Europa insegura e de mercado para as nações emergentes. Capitalismo e Socialismo, enfim, não parecem ser nem tão antagônicos como pareciam sob a guerra fria, como aliás, pretendia outro pensador francês, já morto – Raymond Aron - , nem, também, tão circunstanciais. Um e outro contêm elementos fundamentais da vida contemporânea como o direito à propriedade e a presença reguladora do Estado, que, ao contrário do que se pensava, são aquisições definitivas do Ser.
Consequentemente, os valores embutidos nas ditas sociedades ocidentais não seriam exclusivos de um certo tipo de civilização herdada dos gregos e cultivada pelo iluminismo europeu, mas o indício da universalidade da espécie em seu projeto de autonomia humana.
FIM
- 1955 - L'évolution du travail aux usines Renault
- 1965 - Sociologie de l’action
- 1969 - La Société post-industrielle Em português, "A sociedade pós industrial"
- 1973 - Production de la société
- 1974 - Pour la sociologie
- 1978 - Lutte étudiante
- 1984 - Le Mouvement ouvrier
- 1984 - Le Retour de l'acteur
- 1992 - Critique de la modernité
- 1993 - La voix et le regard: sociologie des mouvements sociaux
- 1994 - Qu’est-ce que la démocratie ?
- 1995 - Critique de la modernité. Em português, "Crítica da modernidade", Vozes.
- 1997 - Pourrons-nous vivre ensemble ? Égaux et différents. Em português "Iguais e diferentes", Instituto Piaget (Portugal) e "Igualdade e Diversidade", Edusc (Brasil)
- 1999 - Comment sortir du libéralisme ?. Em português "Como sair do liberalismo?" Edusc
- 2005 - Un nouveau paradigme. Pour comprendre le monde d’aujourd'hui. Em português, "Um novo paradigma", Vozes (Brasil) e Instituto Piaget (Portugal).
- 2006 - Le Monde des femmes. Em português, "O mundo das mulheres", Vozes.
- 2007 - Penser autrement. Em português, "Pensar outramente o discurso interpretativo dominante", Vozes.
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