30/05/2012 - Quarta-feira
CASTELOS DE
ILUSÃO...
Sylvio
Passos
Os lindos fogos de artifício que, nas
noites de maio e junho, enfeitam os céus rio-branquenses, recordam-me do meu
primeiro ideal de menino: ser fogueteiro!...
Menino
criado no Largo, à sombra da Matriz, assistia, fascinado, da minha janela,
àqueles espetáculos: empolgantes girândolas e castelos que fulguravam nas
noites festivas, sobre a cidade, sobre o Grupo Escolar, sobre as altas árvores
do Jardim e a torre da Matriz... Poemas de luz e fogo nas amplas páginas do
céu!...
Ser fogueteiro, como o velho
Teodolindo!... Ser como ele – como eu o imaginava – uma espécie de deus do fogo
e do trovão!...Ser o dono daquele misterioso, daquele invejável e fascinante
poder de encher os ares de estrondos e de raios luminosos e coloridos!... Este,
o meu primeiro sonho de menino!...
Como os lindos fogos de artifício,
porém, este sonho logo se desfez em fumo, deixando apenas na memória um rastro
fulgurante... Outros sonhos, outros castelos se acenderam depois na minha
imaginação, enchendo-a de fantasia: castelos de ilusão, que ardem em todas as
almas na infância e na adolescência!...
Veio então o
tempo feliz das leituras de Júlio Verne!... Viagens maravilhosas à Lua, ao
centro da Terra, ao fundo dos oceanos, no submarino Náutilus e nas aeronaves
interplanetárias... Ah!!! Ser como
aquele “herói de quinze anos”, ou enfrentar os tártaros como Miguel Strogoff...
Atravessar a Sibéria para levar a mensagem secreta do Tzar!...
A Júlio
Verne, o prodigioso romancista de aventuras, devo algumas das horas mais gratas
de minha adolescência. Ele foi, também, um outro fogueteiro, que me fascinou
com seus espetáculos coloridos e deslumbrantes... Soube utilizar a pólvora das
palavras para construir castelos de ilusão com seus romances de fantasia!..
Não fui, afinal, ser fogueteiro na vida.
Nem fui herói de nenhuma façanha como as das histórias de Júlio Verne. Não me
lamento por isto. Contento-me com ter realizado tudo isso na imaginação. No meu
ofício de professor lido dia e noite com as palavras humanas - espécie de
pólvora do espírito - que tanto serve para construir grandes coisas, como
também para fazê-las voar pelos ares... Impérios... Doutrinas...
Instituições... Tudo isso se constrói ou se destrói com a perigosa pólvora das
palavras!...
Com ela, procuro preparar os meus alunos
para que possam, como os rojões, subir aos céus por conta própria e cumprir o
seu destino. E, de longe, vou acompanhando a sua trajetória em busca do ideal.
Sinto as suas derrotas e alegro-me com as suas vitórias!...
Como professor, sou, pois... um fogueteiro
espiritual! ... E, nas horas vagas, ainda me sirvo da pólvora das palavras para
compor estas girândolas festivas... castelos de ilusão... e, às vezes, também
foguetes de lágrimas que, por esta emissora, se elevam aos céus de Rio
Branco!...
Vou, assim, de outro modo, realizando
minha vocação de fogueteiro, com que sonhei na minha infância, quando, da minha
janela, eu via, fascinado, nas amplas páginas do nosso céu, maravilhosos poemas
de luz e fogo, que fulguravam sobre a cidade nas nossas noites festivas!...
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