terça-feira, 15 de maio de 2012

Ensinos Espiritualistas – Sayonara(QUARAÍ-RS) – Mediunicamente

15/05/2012 - Terça-feira



Recebidos por
William Stainton Moses
(A.   Oxon)

Seção XII
(Tenho grande repugnância em publicar coisas tão íntimas, mas sou a isso forçado pela idéia de que a história das minhas lutas mentais e espirituais pode ser útil àqueles que atravessarem uma crise semelhante. Depois de um intervalo de alguns dias, durante os quais não recebi comunicação sobre os ensinos da religião espírita, pedi que me fosse permitido formular outras objeções. Devo referir que eu estava profundamente agitado e sentia-me incapaz de aceitar essas novidades, e o ponto que eu pretendia esclarecer era o da “identidade dos Espíritos”. Na disposição em que me achava então, era-me preciso a prova irrecusável da identidade do Espírito que se comunicava; sem ela eu não podia subscrever as declarações que me eram feitas. Convencido de que ela me podia ser dada, afligia-me por não obtê-la. Eu não sabia então (em julho de 1873), como o sei hoje, que a evidência de convicção é a única que se pode ter e que o meu plano deliberado não podia chegar ao que eu desejava. Achava-me, além disso, muito perplexo, porque muitas comunicações, que passavam perfeitamente por ser espíritas, eram estultas e frívolas, comparava-as, com grande desvantagem, com as lições dos moralistas cristãos e achava que havia profundas divergências entre elas e os ditados dados pelos Espíritos, que emitiam singular variedade de opiniões. Eu era pessoalmente hostil à maior parte dessas opiniões, que, a meu ver, não constituíam vantagem para as pessoas que as recebiam, e a idéia de que elas eram acolhidas por fanáticos repugnava-me. A mim não mais me seduzia a evidência interna ou externa. As minhas observações firmavam-se sobre a prova das verossímeis relações de Deus com a Humanidade, sobre o caráter geral e o resultado do espiritualismo. Deram-me a seguinte resposta:)
Amigo, apraz-nos conversar novamente convosco; e se nos é impossível resolver todos os problemas que vos preocupam, podemos retificar os erros nos quais caístes quanto às relações de Deus com a Humanidade e às tendências da nossa missão.
A página da história humana, que conheceis, relata também a marcha da revelação uniformemente progressiva de um único e mesmo Deus.
Na aurora da história do homem, a noção de um Deus, em sua natureza espiritual, toma a forma de um ídolo alternadamente invocado com veneração ou destruído com desprezo, conforme a prece era atendida ou ficava sem efeito. Os homens ignoravam que o bloco que adoravam nenhum poder possuía e que ao redor deles se moviam sem cessar Espíritos missionários prontos a socorrê-los, a defendê-los e a trazer respostas às suas preces racionais. Eles só podiam compreender Deus sob uma forma tangível, que encarnasse a sua idéia. Notai bem: a idéia deles sobre Deus não vinha do próprio Deus. Julgaram, pois, o seu Deus de acordo com eles, atribuíram-lhe as paixões que achavam dignas de respeito entre os seus semelhantes e o cumularam de algumas fraquezas, inseparáveis da Humanidade tal como a conheciam. Finalmente, fizeram dEele um homem glorificado, dotado de onipotência, de onisciência, de onipresença, e o fizeram agir de acordo com a sua concepção.
Por conseqüência, a revelação de Deus é proporcionada ao desenvolvimento intelectual e ao progresso do homem, porque o médium humano torna-se apto para receber idéias menos obscuras sobre a Divindade à medida que, libertado dos óbices da primitiva ignorância, ele mesmo procurou a luz e o saber.
Repetimos já muitas vezes que o homem apenas recebe o que pode suportar. Deus é revelado por meio dos médiuns, e é impossível que o conhecimento de Deus exceda a capacidade do homem. Tivéssemos a liberdade de vos falar da nossa mais perfeita teologia e ela vos pareceria estranha e ininteligível ainda hoje. Por fracas doses vos instilaremos tanta verdade quanta podeis suportar. Quando a tiverdes assimilado, tereis consciência dos vossos erros. Quando atribuís a Deus motivos e dizeis: “Isso não pode ser, Deus age em contrário à sua natureza; Ele não pode fazer isso agora, pois que o não fez outrora” dizeis simplesmente: “A idéia que formo de Deus é tal ou qual, e não posso agora conceber uma outra.” E nós vos dizemos: “Formastes o vosso Deus e o fizestes agir segundo os vossos raciocínios.” À medida que o vosso espírito se dilatar, seja em vosso estado atual de existência, seja em um outro, percebereis novas luzes e direis: “Eu não tinha razão, reconheço-o agora, pois Deus não é absolutamente o que eu imaginava; como pude identificar-me com semelhantes noções!”
Todos os Espíritos progressistas tendem para esses graus. O período de desenvolvimento não se acentua para todos nesta vida, ainda que vários recebam um influxo de noções, mesmo na fase presente de existência.
Pois bem! obtivestes ou estais em vésperas de obter a vossa revelação. O vosso espírito dilatou-se, diriam uns, e imagina-se um Deus mais de acordo com suas faculdades adiantadas.
Recebestes de uma fonte exterior, a mesma donde todo divino ensinamento dimana para o homem, uma revelação do Supremo, mais nova e mais rica, diriam outros.
Dizei como quiserdes; as duas operações de revelação e de compreensão, de conhecimento e de capacidade devem ser correlatas; o homem só obtém uma revelação superior quando está bastante adiantado para sentir a necessidade dela, pela simples razão de que é ele o próprio agente pelo qual chega a revelação recebida.
As vossas invenções teóricas sobre Deus têm-vos vindo por canais humanos; são a encarnação das aspirações humanas, a criação de seres não desenvolvidos, cujas necessidades não eram as vossas necessidades, cujo Deus, ou antes, cujas noções sobre Deus não eram as vossas. Tentastes unir idéias que não podiam concordar umas com as outras, pois que eram o produto de inteligências dessemelhantes, desigualmente desenvolvidas. Dizeis que não vimos de Deus, porque as nossas idéias não concordam com as vossas, que derivam de certas noções tiradas de alguns livros dos anais religiosos. Dizei com qual Deus o nosso ideal está em oposição. É com o Deus que, sob uma forma humana, passeava ao lado de Adão e exercia horrível vingança sobre ignorantes criaturas culpadas, diz-se, por ter cometido uma transgressão que vos parece agora singularmente venal? Ou com o Deus que ordenava ao seu fiel amigo imolar o único filho do seu amor, única oferenda aceitável? É com o Deus que reinava como rei terrestre sobre Israel e que a fábula mostra dedicado à promulgação de leis sanitárias ou à construção de um tabernáculo, que era levado à batalha com os exércitos de Israel e promulgava sanguinárias proclamações para exterminar povos inocentes e inofensivos? Ou por acaso é o Deus que autorizava o seu servidor Josué a paralisar o sistema solar, para permitir aos israelitas fartarem-se de algumas horas mais de sangue e de saque? É com o Deus que, exasperado porque seu povo escolhido reclama um monarca visível, condena esse mesmo povo por uma vingança sutil a castigos que devem durar muitas centenas de anos? Ou finalmente com qual dos deuses dos profetas estamos em desacordo? Com o Deus de Isaías ou com o de Ezequiel; com a lúgubre divindade saída do cérebro mórbido de Jeremias ou com a de Davi, semipaterna, semitirânica, fraca ou cruel, sempre irracional? Com o Deus de Joel, de João? Com a concepção calvinista de Paulo e as suas horríveis fantasias de predestinação, de inferno, de eleição, de um paraíso triste e nulo? Estamos em desacordo com Paulo, João ou Jesus?
Não há que insistir sobre o fato de ter sido a revelação sempre proporcionada à capacidade do homem e colorida pela sua imaginação. A idéia de Deus foi, através dos séculos, a concepção mais ou menos vibrante dos intermediários da revelação, e essa idéia, implantada, tomou forma segundo os contornos mentais do médium. A ninguém a verdade completa foi confiada; mas somente tal parte de verdade, tal aspecto de verdade, necessárias para uma época e um povo particulares. Resulta, pois, que as concepções sobre Deus, às quais se fez alusão, são divergentes. Nós e o nosso Deus não somos nem Josué e seu Deus, nem Paulo e o seu; mas provocamos a comparação entre o Deus que conhecemos e revelamos e o Deus cujo pálido esboço era traçado diante de um povo que não o conhecia, por Aquele que melhor o conhecia, que vivia mais perto dEle, o homem Jesus-Cristo. Ele tinha um conhecimento de Deus, conhecimento que nenhum dos seus discípulos pôde atingir. A sua religião era simples, clara, ardente. A sua teologia era igualmente pura. O grito “Pai Nosso que estais nos céus” difere inteiramente das dissertações complicadas, pelas quais o Supremo é primeiramente informado do caráter que lhe é assinado, e implorado, em seguida, para agir de acordo com as paixões ou as necessidades imaginárias do seu ignorante adorador.
Deus! Não o conheceis! Quando os olhos do espírito se abrirem, admirar-vos-eis da vossa ignorância. Deus é muitíssimo diferente do que imaginastes. A vossa baixa imaginação não pode representá-lo. Ele lastima o cego mortal e perdoa-lhe; não censura a ignorância, mas sim a loucura com que se recusa deixar penetrar a claridade no templo vetusto donde ela desterrou um ídolo; lastima os amantes das trevas, que se aferram às fantasias abortadas do passado e, não podendo compreender a beleza, a simples majestade do Deus revelado pelo Cristo, querem enxertar sobre essa nobre concepção as antigas ficções antropomorfas. Estes não podem ainda ouvir ensinamentos mais elevados. Não sois desse número.
Quando nos exprobrais asperamente por contradizer o Antigo Testamento, só podemos responder que contradizemos, com efeito, a velha idéia repulsiva que transforma o Deus bom em tirano cioso, mas o nosso ensino está de acordo com a revelação dada por Jesus-Cristo; revelação da qual os seus melhores discípulos desgraçadamente se afastaram, sendo ela aviltada pelo homem.
Se no que vos dizemos nada achais de satisfatório, é possível que os adversários tenham conseguido interpor entre nós e vós um fragmento da sombria nuvem que oculta Deus ao mundo. Pedimos que nos seja permitido dissipá-la e difundir uma vez mais em vossa alma os raios de claridade e de paz. Não temos de temer que isso seja um mal permanente e não lastimamos que experimenteis os alicerces sobre os quais o vosso conhecimento deve repousar. Isso não será tempo perdido.
Não vos inquieteis sobre particularidades de insignificante importância, mas concentrai o vosso pensamento sobre a imperiosa necessidade de obter um conhecimento mais claro de Deus; sobre a triste ignorância que está espalhada pelo mundo a esse respeito e ao nosso; sobre o nobre credo que ensinamos, sobre o luzente futuro que revelamos. Deixai-vos de estar agitado pelo pensamento de um diabo legendário. Não há nem diabo nem príncipe do mal para a alma reta, pura, verdadeira. Os adversários evitam-lhe a presença, pois ela é cercada de guias angélicos, ajudada por gloriosos Espíritos que velam por ela e a dirigirem. Um carreiro de progressão crescente se abre diante dessa alma, que, aliás, não está ao abrigo das tentações nem das ciladas na atmosfera que deve respirar durante o tempo da prova. A aflição e a angústia podem permanecer na alma, que poderá ficar entristecida sob o peso do pecado, acabrunhada à vista da miséria e do crime, mas, protegida por guias, ela só pode cair pela capitulação voluntária. A tristeza, a iniciação na dor e o contato do crime fazem parte da existência, em virtude da qual ela se eleva para o Além.
Aqueles a quem falta a espiritualidade e a quem levou ao excesso o desenvolvimento material, atraem Espíritos congêneres que já deixaram o corpo, sem esquecer seus desejos; atraem esses baixos seres, aproximados da Terra e sempre prontos a precipitarem-se sobre eles. Inimigos dos nossos trabalhos, eles procuram evitar-lhes os bons efeitos.
São esses dos quais falais, quando dizeis levianamente que o resultado do espiritualismo não é satisfatório. Errais, amigo. Não nos censureis pelo fato de se manifestarem os Espíritos inferiores por aqueles que lhes desejam as boas-vindas.
Censurai de preferência a estulta demência do homem que escolheu o vil e não o puro; censurai as leis insensatas que lançam diariamente, em uma vida para a qual não estão preparados, milhares de Espíritos perturbados, arrastados por hábito ou por moda a uma vida de pecado; censurai as tavernas, os hospícios de alienados, as prisões, os antros de devassidão e sobretudo o infernal egoísmo do homem. Eis o que desespera as legiões de Espíritos, não, segundo a fábula, em um mar de fogo material, mas sim nas chamas da volúpia perpétua, devorada pelo desejo sem esperança, até que a alma modificada domine as suas paixões mortais. Sim, é por semelhantes causas que tendes às vezes ao redor de vós inteligências atrasadas a aborrecerem-vos com mentiras e frivolidades. Mais tarde nos entenderemos ainda sobre isso; já dissemos mais do que pensávamos. E, quanto a mim, ouço o apelo que me convida à adoração do Supremo. Quando a minha prece subir até o trono da Divina Piedade, Oxalá possa um regato dessa graça consoladora cair gota a gota sobre a vossa alma ansiosa e derramar nela a paz de Deus, a tranqüilidade da confiança.
† Imperator
Leia na próxima Edição: Seção XIII

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