quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ensinos Espiritualistas – Sayonara(QUARAÍ-RS) – Mediunicamente

10/05/2012 - Quinta-feira

Recebidos por
William Stainton Moses

Seção IX
(Essas declarações não concordavam de modo algum com as minhas opiniões de então; objetei que eram incompatíveis com o ensinamento reconhecido das Igrejas ortodoxas e que de fato aniquilavam alguns dogmas essenciais da fé cristã; sugeri que a comunicação podia ter sido adulterada na passagem e que nela faltavam muitas coisas que eu considerava principais; acrescentei que se se pretendesse que um tal código fosse completo e pudesse ser tomado como regra de vida, eu estaria pronto a argumentar contra ele. Recebi a seguinte réplica:)
O que vos foi dito é correto, como esboço, mas não se pretende que isso seja uma imagem perfeita da verdade. É um pálido contorno, obscurecido e ofuscado em muitos lugares, mas verdadeiro em substância. Sem dúvida, as nossas palavras violam o que se vos ensinou a crer como necessário à salvação. Sem dúvida, o espírito não preparado julga-as novas e destruidoras. Não é assim. Em suas grandes linhas, o credo espiritualista poderia ser aceito por todos aqueles que têm pensado um pouco nos assuntos teológicos, com o espírito livre, encarando, sem receio, as conseqüências da pesquisa da verdade. Ele se recomenda àqueles cujo pensamento não está detido pelos antigos preconceitos. Dissemos que era preciso operar uma grande limpeza, que o traba-lho de destruição devia preceder ao de construção, enfim, que devemos sanear antes de construir.
Sim; mas as imperfeições que quereis afastar são precisamente as que os cristãos têm considerado em todos os séculos como as doutrinas fundamentais da fé.
Não, amigo, absolutamente não; exagerais. Se relerdes as imperfeitíssimas narrações da vida de Jesus, nelas não descobrireis que Ele tenha jamais reclamado para si nada que o aproxime da atitude que a Igreja cristã lhe impôs à viva força. Ele estava muito mais de acordo com o que declaramos do que com o modelo apresentado pela Igreja cognominada com seu nome.
Não posso admitir isso. E a expiação (a reconciliação de Deus com o homem pela morte do Deus-Cristo), que dizeis disso?
Há verdade em um certo sentido, não o negamos; combatemos somente essa grosseria humana que torna Deus desprezível, sob a forma de um cruel tirano, que só pode ser acalmado pela morte de seu Filho. Não somos detratores da obra de Jesus quando conde-namos as fábulas desonrosas que, agrupadas ao redor de seu nome, desfiguraram a grandeza simples de sua vida, o fim moral de seu sacrifício. Teremos, mais tarde, outras coisas a dizer-vos sobre a formação gradual de um dogma, que chega a ser estabelecido de fide, visto como rejeitá-lo ou negá-lo significa cair em pecado mortal. Se o homem fosse entregue às suas próprias conclusões, ter-se-ia por irremissível heresia, digna do fogo eterno, a negação desse fato: que o Deus Supremo delegou a um homem uma das suas inalienáveis prerrogativas. Um importante cisma da Igreja cristã reivindica para seu chefe uma ciência infalível e persegue na vida, até à vergonha, e condena na morte até aos suplícios eternos, aqueles que não querem aceitar essa afirmação. Isto é, entretanto, um dogma recente que nasceu no meio de vós, assim como nasceram todos os dogmas. Por conseqüência, tornou-se quase impossível à razão humana, quando não auxiliada, distinguir a verdade de Deus sob as glosas com que o homem a cobriu. Assim, todos os que tiveram a audácia de pôr a mão sobre esse acervo foram considerados malditos. Isso é a história de todos os tempos e não é justo acusar-nos de maleficência se, de acordo com o nosso ponto de vista superior, vos pomos de sobreaviso contra as ficções humanas, que tentamos destruir.
Sim, isso pode ser, mas a crença na Divindade de Jesus e em seu sacrifício não pode ser chamada dogma criado pelo homem. Precedeis sempre o vosso nome de uma cruz († Imperator); presumo, pois, que durante a vossa vida terrestre vos tivésseis filiado a esses dogmas. † Rector, um outro Espírito que se comunica, usa também uma cruz como sinal, e é possível ter quase morrido por eles, se é que de fato morreu. Parece-me que aí há contradição. Suponhamos que os dogmas são errôneos e inúteis, suponhamo-los mesmo falsos. Que posso daí concluir? Mudastes as vossas opiniões? Éreis ou não cristão quando vivíeis na Terra? Se não éreis, por que a cruz? Se éreis, qual a razão dessa mudança de sentimentos? A questão está intimamente ligada à vossa identidade. Não vejo como o vosso ensinamento coincida com a crença que professáveis na Terra. É belo, puro, mas não cristão; racionalmente, não é isso o que se espera ver enunciar sob a égide da cruz. Tal é a minha opinião. Se falo por ignorância, esclarecei a minha ignorância. Se pareço curioso, desculpai-me, pois não tenho para vos julgar outros meios senão as vossas palavras e os vossos atos. Até onde o meu estado de julgar permite, as vossas palavras e os vossos atos são nobres, puros e racionais, mas não cristãos. Desejo somente uma base racional para formar uma opinião, que possa satisfazer às minhas dúvidas atuais.
O vosso pedido será deferido oportunamente; parai por agora.
(A escrita, apesar do desejo e dos esforços que empreguei para obtê-la, não voltou senão a 20 de junho. A comunicação acima é de 16 de junho.)
Saúdo-vos, bom amigo! Vamos dar-vos maior número de informações sobre os pontos que vos inquietam. Quereis saber até que ponto o sinal da cruz pode ser legitimamente harmonizado com o nosso ensino, e isso vo-lo mostraremos.
Amigo, o sinal que é o emblema da vida e da obra de Jesus-Cristo não pode lealmente legitimar a maior parte das doutrinas que passam hoje por suas. A predisposição de todas as classes de religionistas foi sempre ocupar-se da letra e desprezar o espírito; descansar mais sobre expressões provenientes de quaisquer escritores e desprezar as tendências dominantes dos ensinos. Os homens procuraram a verdade com idéias preconcebidas e acharam o que desejavam, não o que de fato existia. Expressões e palavras insuladas foram arrancadas dos versículos e ajeitadas pelos que se aplicavam a comentar os textos, de modo a emprestar-lhes uma significação da qual os escritores primitivos nunca tinham cogitado. Outros foram buscar, nos anais, palavras que podiam servir para sustentar uma teoria, sem se preocuparem de procurar a verdade, e descobriram o que podia servir às suas intenções. Assim lentamente, laboriosamente o edifício se elevou, construído por homens que se deleitam com as controvérsias de palavras ou estão possuídos por uma idéia cuja prova acham por toda parte confirmada, não querendo ver senão a ela.
Dissemos já que um grande trecho do que queremos explicar se relaciona com o que qualificais de Divina Inspiração.
Os que reconheceis como defensores ortodoxos da fé cristã dizem-vos que uma misteriosa pessoa, uma das três individualidades que compõem a indivisível Trindade, tomou posse do espírito de certos homens e por suas vozes deu ao mundo um corpo de doutrina completa, de força permanente, da qual nada pode ser retirado e à qual é crime acrescentar qualquer coisa, pois que ele é a palavra mediata de Deus, contendo em si a verdade eterna. Os sentimentos de Davi e Paulo, de Moisés e João estão, não somente em harmonia com a vontade suprema, mas são o pensamento íntimo da Divindade. As palavras têm, não somente aprovação de Deus, mas foram pronunciadas por Ele. Enfim, a Bíblia, quer no fundo ou na forma, é a própria palavra de Deus, e cada palavra ali, sendo divina, deve ser estudada e interpretada como tal, mesmo nessa versão traduzida em vossa linguagem, por homens que, para aumentar a maravilha, supõem-se, por sua vez, depositários da Verdade Divina e guiados por ela no trabalho da tradução.
É assim que doutrinas espantosas e conclusões levadas ao extremo podem apoiar-se sobre simples palavras, pois cada palavra, cada fraseado da revelação de Deus não está divinamente ao abrigo de todo erro humano? Os defensores da ortodoxia conseguiram, pois, estabelecer uma grande quantidade de dogmas conforme a escolha que fizeram nos textos que lhes agradavam, não se importando com os outros. Para eles a Bíblia é a expressão direta do Supremo.
Os pensadores que não conseguiram aceitar essa maneira de ver chegaram, estudando a Bíblia, a prejudicá-la. Isso conduz às reflexões que vamos apresentar-vos; eles meditaram sobre os anais que compõem a Bíblia e os consideram a história das formas sob as quais a verdade de Deus foi, de séculos em séculos, revelada ao homem; estudam essas narrações, que indicam a marcha progressiva do homem desde que ele começou a procurar o conhecimento de Deus e o destino do espírito; seguem o de-senvolvimento gradual dessa revelação desde os tempos de brutal e bárbara ignorância em que Deus, amigo de Abraão, comia e conversava no umbral da sua tenda, e era também o juiz que governava o seu povo, o rei que marchava à frente dos exércitos ou o tirano revelado por intermédio de algum vidente; depois, chegam ao período em que Deus aparece sob um aspecto mais verdadeiro de ternura, amor e compaixão paternais. Essas investigações os conduzem a verificar a continuidade do progresso e, se prosseguem nelas, adquirirão a certeza de que essa progressão tem sempre sido contínua, de que a revelação progressiva não cessou nunca e de que, se o conhecimento que o homem pode ter do seu Deus está longe de ser completo, a sua capacidade para compreendê-lo aumenta à medida que a sua aspiração se desenvolve. Chegado a esse ponto, o pesquisador da verdade estará preparado para receber o nosso ensinamento. É a ele, aos seus semelhantes a quem nos dirigimos. Nada dizemos àqueles que, loucamente, se persuadem possuir o perfeito conhecimento. Antes que nos possamos ocupar deles é preciso reconhecerem a sua completa ignorância; tudo quanto pudéssemos dizer resvalaria sobre a impenetrável barreira, atrás da qual estão eles entrincheirados pelo dogmatismo e a presunçosa ignorância; é preciso que estudem além, na dor, o que lhes retardou o progresso espiritual, terrível obstáculo contra eles. Se compreendestes exatamente o que acabamos de expor, podemos conceber e acrescentar algumas palavras sobre a natureza da revela-ção e o caráter da inspiração.
Diremos então que os livros sagrados, componentes da Bíblia, como muitos outros, que nela não estão incluídos, são os anais dessa marcha gradual para o conhecimento de si que o grande e bom Deus deu ao homem. O princípio dominador dessas narrações é idêntico ao que governava as nossas relações convosco. O homem só recebe a verdade que pode compreender, nada mais, sob nenhum pretexto, mas tanto quanto possa receber para satisfazer as suas súplicas. Essa verdade é revelada por intermédio do homem, mas vem sempre mais ou menos impregnada dos pensamentos, das opiniões do médium. Os Espíritos que se comunicam são forçados a empregar os materiais fornecidos pela inteligência do médium, a quem eles preparam, para que sirvam aos seus desígnios, apagando erros, inspirando novas exposições sobre a verdade. A pureza da comunicação do Espírito depende da passividade do médium e das condições nas quais a comunicação é dada. Acham-se em todas as partes da Bíblia os traços da individualidade do médium, erros causados por um controle imperfeito, e a impressão das suas opiniões, assim como as particularidades referentes às necessidades especiais do povo ao qual a comunicação foi primeiramente dirigi-da.
Numerosos exemplos desse fato podem ser verificados. Quando Isaías repetiu ao povo a comunicação de que estava encarregado, o seu discurso foi caracterizado pela sua própria individualidade e adaptado às necessidades particulares do povo que o ouvia. Falou, é verdade, do Deus Supremo, porém, num estilo poético, com imagens patéticas, mas diversas das metáforas características de Ezequiel. Daniel tem visões de glória; Jeremias, os seus estribilhos vazados nas palavras do Senhor; Oséias, o seu simbolismo místico. Cada um, conforme o seu modo individual, fala do mesmo Jeová, tal como o conhece. Semelhantemente, mais tarde a natureza característica das comunicações individuais é conservada. Con-quanto Paulo e Pedro falem da mesma verdade, quase a consideram sob aspecto diferente. No entanto, a verdade não é menos real porque dois homens de espírito diverso a vejam por prisma oposto e falem dela conforme a compreendem. A individualidade do médium é palpável no estilo, senão no assunto da comunicação.
A inspiração é divina, mas o médium é humano. Resulta daí que o homem pode achar na Bíblia o reflexo do seu próprio espírito, qualquer que seja o gênero desse espírito. O conhecimento de Deus é tão fraco, o que o homem pode dEle compreender é tão pouca coisa, que toda pessoa que se apóia sobre as revelações passadas, sem querer nem poder desenvolvê-las, deve achar na Bíblia o reflexo do seu espírito. Ela procura o seu ideal e acha-o nos dizeres daqueles que falaram para pessoas colocadas no mesmo nível mental. Se nenhum vidente a satisfaz, procura nos versetos o que lhe agrada, rejeita o resto, e de peças e fragmentos elabora a sua própria revelação.
E assim se formam as seitas, construindo o seu ideal, que provam por citações tiradas da Bíblia. Ninguém pode aceitar o conjunto, porque o conjunto não é homogêneo. Quando aqueles que assim arranjam uma revelação se acham à frente dos partidários de outras revelações produzidas pelo mesmo gênero de trabalho, as batalhas de palavras se travam, as explicações (conforme as apelidais), os comentários de textos se acumulam. Tudo se obscurece; as palavras deformadas são interpretadas em um sentido que nunca foi nem o do Espírito que se comunica nem o do profeta ou do Mestre, e assim a inspiração se torna o veículo das opiniões de seitas, a Bíblia em um arsenal no qual cada combatente encontra a sua arma favorita, e a teologia, que é apenas uma noção de natureza privada, apóia-se sobre interpretações dilatáveis.
Somos acusados de discordar da opinião dessa teologia; nada temos de comum com ela, que, por ser da Terra, é baixa e desonro-sa em sua concepção de Deus, degradante por sua influência sobre o espírito, insultante à Divindade que faz profissão de revelar. Em verdade a contradizemos e a reprovamos. É nossa missão destruir o seu ensino e substituí-lo por idéias mais nobres e mais verdadeiras sobre Deus e o espírito.
Uma outra razão, pela qual muitas falsidades com relação a Deus têm curso entre vós, como derivando da Bíblia, é que a idéia de inspiração infalível conduz os homens não somente a ligar muita importância a palavras ou a frases, mas a cair no erro de interpretar literalmente o que tinha apenas uma significação espiritual típica. Comunicando ao vosso plano mental idéias que lhe parecem inconcebíveis, somos obrigados a empregar expressões tomadas à vossa ordem de pensamento. Cometemos freqüentemente faltas, aplicando mal os termos, que são às vezes deficientes para exprimir o que queremos dizer. Quase todas as expressões mediúnicas são figuradas, especialmente quando os Espíritos tentaram exprimir idéias sobre Deus, tão grande!, e que eles próprios conhecem tão pouco! A linguagem empregada é necessariamente imperfeita, às vezes mal escolhida, mas é sempre simbólica, e deve ser assim compreendida. É loucura sustentar a exatidão literal de qualquer ensinamento espírita.
Demais, as revelações sobre Deus foram feitas em uma linguagem apropriada às capacidades daqueles a quem foram originariamente dadas. É de acordo com isso que se deve interpretá-las. Mas aqueles que quiseram estabelecer a crença de uma revelação infalível, aplicável através de todos os séculos, interpretam cada palavra em seu sentido literal e deduzem delas conclusões errôneas. A hipérbole, inteligível na boca do vidente impulsivo que se dirigia a um auditório oriental ardente, habituado às imagens poéticas, torna-se exagerada, falsa, enganadora, quando explicada friamente em termos precisos a homens cujos hábitos de linguagem e de pensamentos divergem ou são totalmente diferentes.
É a essa causa que devemos atribuir a propagação de certas idéias falsas, que, se fossem verdadeiras, desonrariam o Eterno. A linguagem original era bastante defeituosa, mas foi mais ou menos colorida pelo médium, por meio do qual se fez compreender, e ainda hoje é mais desproporcionada do que outrora, tornando-se positivamente falsa por não ser de modo algum a revelação de Deus, quando se quer interpretá-la ao pé da letra.
Torna-se uma criação do homem que formou, de fato, uma divindade, como a que o selvagem talha à faca para fazer dela o seu fetiche.
Com tais idéias, digamos ainda uma vez, não temos nenhuma relação. Rejeitamo-las, e a nossa missão é substituí-las por um conhecimento mais nobre e mais verdadeiro. Demais, tratando convosco, os Espíritos procedem sempre de modo uniforme; são enviados para fazer conhecer, com o concurso dos médiuns, algumas parcelas da verdade divina, porém acham no cérebro desses médiuns opiniões estabelecidas, falsas umas, outras em parte verdadeiras, além da confusa legião dos preconceitos da primeira idade e da educação. Esse Espírito deve ficar completamente emancipado das idéias preconcebidas? De modo algum. Não é assim que operamos, pois, apagando tudo, aventurar-nos-íamos a deixar o cérebro vazio e teríamos destruído sem poder criar. Não; tomamos as opiniões já existentes, mas esforçamo-nos por influenciá-las e aproximá-las da verdade, porquanto quase todas elas possuem um bom gérmen da verdade, o qual nos esforçamos por desenvolver, para que eles progridam e aumentem em conhecimentos. Contentamo-nos com deixar morrer as noções teológicas a que o homem liga tanta importância, por serem de pouquíssimo valor, e deverem dissipar-se à aproximação da brilhante luz para a qual conduzimos a alma, instruindo-a sobre os assuntos importantes. Não nos ocupamos com opiniões que não são prejudiciais. À vista disso, bem vedes que as idéias teológicas ficam tais quais eram, apenas adocicadas, menos austeras em sua aspereza. Assim os homens se certificam sem razão de que os Espíritos ensinam sempre o que o homem já sabia; nada de menos verdadeiro, e o que vos ensinamos é uma prova disso. Os guias espirituais trabalham, certamente, sobre o que acham no espírito, mas modelam, atenuam e conduzem a inteligência por graus imperceptíveis aos fins que têm em vista. A mudança obtida só se torna visível quando as opiniões, que pareciam firmadas, se modificam de modo bastante rápido. Por exemplo, um homem que negou a existência de Deus e da alma, que acreditava apenas no que podia apalpar e ver, adota a crença em Deus e em uma existência futura; no entanto, admirai-vos disso. Mas o espírito preparado, punido, morigerado, que se depurou e cujas convicções imperfeitas e grosseiras já se harmonizaram, é conduzido gradual e sutilmente, de modo a não o perceberem os vossos sentidos. Tais são, entretanto, os gloriosos resultados do nosso trabalho diário. O que era imperfeito, insensível, austero, anima-se, excita-se para o amor da verdadeira vida; o puro torna-se ainda mais puro; o nobre, ainda mais nobre; o bom, muito melhor; a alma ansiosa, agora acalmada, fica satisfeita por perceber com maior clareza mais ricas idéias do seu Deus e da felicidade futura. As opiniões não foram suprimidas, mas transformadas. É isso a real influência espiritual que existe ao redor de vós e da qual nada sabeis ainda; é o atributo bendito e vivo do nosso ministério.
Assim, quando os homens dizem que os Espíritos repetem as opiniões preconcebidas do médium, têm em parte razão. Mostramos como procedemos para modificar as que são inofensivas. Quando prejudiciais, são destruídas. Em presença de formas especiais de crença teológica, procuramos, quanto possível, espiritualizá-las, antes que destruí-las. Sabemos – como não o podeis saber – quão insignificantes são as formas, mas o essencial é que a fé seja ativa e espiritual. Aplicamo-nos pois a essa obra de construção da qual vos falamos, empregando os bons materiais, eliminando os que são falsos e ilusórios, saneando a alma, que pode então aceitar as modificações que oferecemos e compreender o que podemos ensinar-lhes sobre a verdade.
E agora, amigo, experimentareis a influência eficaz desse sis-tema, que vos ajudará em vossas dificuldades. Procuramos não extirpar do vosso espírito as opiniões teológicas que sustentais, mas modificá-las.
Se quereis recordar-vos do passado, verificareis como o vosso credo se afastou de uma base tão estreita, para chegar gradualmente a idéias racionais. Fizestes, sob a nossa direção, conhecimento com os princípios teológicos das inúmeras seitas e igrejas. Fostes conduzido a reconhecer, em cada uma, o gérmen de verdade, mais ou menos desenvolvido, porém obscurecido pelo erro humano. Estudastes os escritos dos mestres sobre religiões no mundo cristão, e a vossa própria crença está despida das suas asperezas, ao contato das doutrinas divergentes que proclamam a verdade. O progresso foi lento desde os dias em que estáveis influenciado pelo estudo dos antigos filósofos, até à hora presente em que os sistemas de teologia passaram, deixando em vosso espírito somente o que podeis assimilar. A fé inabalável e imutável do ramo oriental da Igreja cristã com os seus dogmas cristalizados que já não são mais verdades vivas e respiráveis; a crítica destruidora dos pensadores alemães que tem ferido, por golpe bem necessário, a cega confiança na exatidão verbal das sentenças humanas; as especulações do pensamento ousado em vosso país, ou em vossa Igreja; as idéias daqueles que são tão estranhos no que diz respeito ao próprio credo da cristandade, tudo isso examinastes, retendo apenas o que vos podia servir. Depois desse longo e gradual trabalho, desejamos conduzir-vos mais para diante e mostrar-vos a ideal verdade, impalpável mas muito real, oculta sob o que vos é familiar. Queremos despojar o corpo terrestre e mostrar-vos a verdade vital em sua significação espiritual. Queremos que saibais que o ideal espiritual de Jesus-Cristo não se parece mais com a versão humana, com os seus acessórios de expiação e redenção, como o bezerro imperfeitamente talhado pelos antigos hebreus não se parecia com o Deus que consentia em ser-lhes revelado. Desejamos mostrar-vos, tanto quanto elas estão ao vosso nível, as verdades espirituais que servem de base à vida daquele que conheceis como Salvador, Redentor e Filho de Deus. Dir-vos-emos a verdadeira significação da vida do Cristo e vos demonstra-remos, o melhor possível, quão baixo e indigno é o modo de encarar a sua prédica, e quão útil é restaurá-la.
Perguntais como o sinal da cruz pode ser ligado ao nosso ensino. Amigo, a verdade espiritualista, que tem esse sinal por emblema, é a verdade legitimamente cardinal que devemos anunciar de acordo com a nossa missão. O amor devotado, que quer servir à Humanidade até ao sacrifício da vida, do lar e da felicidade terrestre, o puro espírito do Cristo, é, declaramos ainda, o espírito divino. É ele que salva verdadeiramente a baixa moral da ambição vulgar das satisfações pessoais e da voluptuosa indolência. É ele que pode resgatar a Humanidade e fazer dos homens os filhos de Deus. Essa abnegação e esse amor encarnado podem, na verdade, expiar o pecado e tornar o homem semelhante a Deus. Tal é a verdadeira expiação, admissível em vez da reconciliação de uma Humanidade manchada de crimes, com um Deus irritado, reconciliação obtida à custa do sacrifício do seu filho imaculado.
Expiação é essa mais elevada e mais completa pela purificação da natureza, pela liberdade do espírito e pela fusão do humano e divino Uno. O espírito do homem pode atingir esse objetivo, mesmo durante a sua encarnação.
A missão do Cristo foi demonstrar essa verdade, e nisso era Ele uma manifestação de Deus, o Filho de Deus, o Salvador do homem, o Reconciliador, o Expiador, cuja obra perpetuamos, trabalhando sob o seu símbolo, combatendo os inimigos da sua fé e a todos os que de boa-vontade ou por ignorância o desonram, colocando-se sob a proteção do seu nome.
O que dizemos pode parecer ainda novo e estranho àqueles mesmos que fizeram alguns progressos em saber espiritual, mas soará a hora em que os homens reconhecerão a conformidade dos nossos ensinos com o do Cristo, e então o grosseiro vestuário humano, sob o qual foi abafado, será rasgado e a verdadeira gran-deza dAquele que erradamente adoram em sua ignorância lhes aparecerá sob a sua verdadeira luz. Eles o adorarão, não menos realmente, porém com mais completo conhecimento, e saberão que o sinal sob o qual nos colocamos é o emblema do puro amor impessoal, do esquecimento absoluto de si mesmo, que deve ser o seu fim supremo. O nosso mais ardente desejo é atingir esse objetivo.
Refleti sobre as nossas palavras; procurai ser guiado, se não por nós, seja por Aquele que nos envia, como enviou outrora esse Espírito sublime de pureza, caridade e sacrifício a que os homens chamaram Jesus e que era o Cristo.
Veneramos o seu nome e o adoramos mesmo hoje.
Repetimos as suas palavras; o seu ensinamento ressurge no nosso.
Ele e nós somos de Deus e vimos em seu nome.
† Imperator

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Seção X

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