quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ensinos Espiritualistas – Sayonara(QUARAÍ-RS) – Mediunicamente

09/05/2012 - Quarta-feira



Recebidos por
William Stainton Moses



Seção VIII
(Depois de um longo discurso, em transe, sobre os assuntos tratados na última comunicação, a escrita continuou no dia seguinte, pelo mesmo Espírito Imperator, servindo-se do amanuensis ordinário, conhecido sob o nome de Rector. Depois que foi escrito o seguinte, discutiu-se muito tempo, acrescentaram-se algumas reflexões e refutaram-se esses ataques contra o ensino dado.
No ponto de vista em que me coloquei então, estes ensinamentos podiam muito bem ser qualificados de ateístas ou diabólicos pelos fiéis. Na minha opinião os consideramos latitudinários, e sustentei opiniões mais relacionadas com o ensino ortodoxo.
Para seguir o meu argumento, o leitor deve lembrar-se que eu tinha sido educado em estrita conformidade com os princípios da Igreja Protestante, havendo-me aplicado ao estudo das teologias grega e romana e ligando-me às opiniões da facção anglicana, da Igreja da Inglaterra, como melhor adaptáveis às minhas. Algumas das minhas idéias se tinham modificado, mas, em substância, eu estava solidamente ligado à Alta Igreja.
A época de que falo remonta a esse estado, de grande exaltação espiritual, a que aludirei algumas vezes, exaltação causada pela presença de uma Inteligência dominante, da qual eu tinha perfeita consciência; a ação que ela exerceu sobre mim produziu um trabalho de pensamento equivalente a uma regeneração espiritual.)
Censurais a incompatibilidade das nossas instruções com o credo reconhecido como ortodoxo. Temos ainda algo a dizer sobre esse assunto.
A Religião, a vida sã do espírito, tem dois aspectos, um dirigido para Deus, o outro para o homem. Que diz de Deus o credo espiritualista?
Em vez de um tirano ciumento e irritado, revela um Pai amoroso, na verdade justo, bom e cheio de afeição, mesmo pela mais baixa das suas criaturas. Não reconhece nenhuma necessidade de propiciação para esse Deus; rejeita como falsa toda noção que apresente esse Ser Divino sob o aspecto de um senhor vingativo, punindo violentamente o transgressor ou exigindo o sacrifício de uns para resgatar o pecado dos outros. Ainda menos ensina ele que esse Ser Onipotente reine em um céu onde o seu prazer consista em receber o culto dos eleitos e em olhar as torturas dos condenados, privados para sempre de luz e esperança.
Tal antropomorfismo não pode achar lugar em nosso credo. Deus, tal como Ele se nos faz conhecer pela uniformidade de suas leis, é puro, amoroso, santificado e perfeito, incapaz de crueldade, tirania e outros vícios humanos. Deus, centro de amor e de luz, age em estrita conformidade com as suas imutáveis leis morais, que regulam necessariamente a existência. Deus é o grande objeto da nossa adoração, nunca do nosso terror.
O que sabemos dEle, o olhar humano não pode perceber, não podeis mesmo figurar em vossa imaginação, e entretanto nenhum de nós o viu. Não nos seria dado apreciar os sofismas metafísicos pelos quais uma indiscreta curiosidade e uma especulação extra-sutil obscureceram a primitiva concepção de Deus, aceita pelos homens; ela era superior à que se seguiu. Não espreitamos; esperamos apenas que nos seja permitido um saber mais elevado. Deveis também esperar. Falamos, em geral, das relações entre Deus e suas criaturas, entretanto podemos desfazer muitas pequenas invenções humanas que de século a século foram acumuladas ao redor e sobre as verdades centrais, como, por exemplo, a escolha de um pequeno número de favorecidos. Não há outros eleitos a não ser os que trabalham por si próprios a fim de se elevarem de acordo com as leis que os governam.
Não conhecemos nada da onipotência da fé cega ou da credulidade. Reconhecemos o valor de um espírito acessível, leal, separado das angústias suspeitosas; este se aproxima de Deus e atrai a si a direção angélica. Mas rejeitamos altivamente a doutrina destruidora que afirma que a fé, a crença e o consentimento amoldados às opiniões dogmáticas têm o poder de apagar as transgressões; que uma vida terrestre viciosa, manchada, pode ser abolida e o espírito elevar-se, purificado pela cega aceitação de uma idéia, de uma imaginação, de uma crença irracional. Uma tal doutrina avilta maior número de almas, que qualquer outra superstição que indicássemos.
Não ensinamos, além disso, que uma crença seja sumamente eficaz com exclusão das outras; nenhuma forma de culto encerra o monopólio da verdade, todas lhe possuem o gérmen; todas estão sujeitas ao erro. Conhecemos, como não conheceis, as circunstâncias que determinaram a forma religiosa adotada por um encarnado, apreciamo-la por conseqüência. Conhecemos inteligências muito superiores, altamente colocadas na hierarquia espiritual, que têm progredido apesar do culto que professavam na Terra. Apenas damos valor à investigação zelosa da verdade, que anima os propagadores das doutrinas mais diferentes. A pura especulação nenhum valor tem para nós. Repudiamos com desgosto as pesquisas frívolas pelas quais as vossas teologias pretenderam resolver os mistérios da ciência transcendente; não nos inquietamos com as pueris discussões que os homens provocam e não nos ocupamos com o sectarismo, salvo com o que sabemos ser o mais perigoso agente provocador, semeando o rancor, o ódio, a maldade e a má-vontade.
Tratamos da religião no que vos afeta e a nós outros em um sentido mais simples. O homem, espírito imortal, segundo cremos, colocado na vida terrestre como em uma escola, tem simples deveres a preencher; preenchendo-os, prepara-se para trabalhos mais elevados. Ele é governado por leis imutáveis, cuja transgressão lhe proporciona males e detrimentos e cuja obediência, ao contrário, lhe assegura o adiantamento e a satisfação. Ele obedece à direção de Espíritos que seguiram antes a mesma estrada e que têm a missão de guiá-lo se ele próprio os ajudar. Há nele uma necessidade de justiça que o atrairá mais diretamente para a verdade se ele permitir que o dirijamos e o protejamos. Se recusa o socorro oferecido cairá de transgressão em deterioração. Por seus pecados castiga-se a si próprio e só experimentará a miséria sem consolação.
Essa existência mortal é apenas um fragmento de vida, mas os seus atos comportam resultados sobreviventes à morte do corpo carnal; é preciso, pois, quando os atos foram maus, expiá-los na dor. As conseqüências das boas ações são igualmente permanentes, atraem, ao redor da alma pura, influências que a acolhem e ajudam nas esferas. A vida, vo-la ensinamos, é una e indivisível. Única em seu desenvolvimento progressivo e única no efeito, por toda parte semelhante, das leis eternas, imutáveis, que a dirigem. Não há favorecidos; ninguém é punido sem piedade, por erros inevitáveis; a justiça eterna é relativa ao amor eterno; a misericórdia não é um atributo divino, porquanto é inútil, uma vez que implica a remissão de uma pena infligida, e nenhuma remissão pode ser feita, salvo se os resultados já foram expiados.
A Piedade é divina; a Misericórdia é humana. Não reconhecemos a piedade sensacional que se absorve na contemplação e despreza o dever. Sabemos que isso não é glorificar a Deus. Pregamos a religião do trabalho, da prece e da adoração.
Explicamos o vosso dever – corpo e alma reunidos – para com Deus, para com o vosso irmão e para convosco mesmo. Deixamos aos ineptos, que tateiam na escuridão, as pueris disputas de palavras sobre ficções teológicas. Ocupamo-nos da vida prática e o nosso credo pode ser assim resumido:

Honrai e amai o vosso Pai. Deus.
(Adoração)      Dever para com Deus
Ajudai o vosso irmão na estrada do progresso.
(Amor fraternal)      Dever para com o próximo
Cuidai do vosso corpo e conservai-o.
(Cultura corporal)
         – – – – –
Aumentai o vosso saber tanto quanto possível.
(Progresso mental)
         – – – – –
Procurai descobrir cada vez mais a verdade progressiva.
(Crescimento espiritual)         Dever para consigo mesmo
Procedei sempre corretamente e conforme o vosso conhecimento.
(Integridade)
         – – – – –
Cultivai a comunhão com o mundo espiritual pela prece e freqüentes relações.
(Educação espiritual)      Dever para consigo mesmo
Essas regras, no conjunto, indicam o que vos é importante. Não obedeçais a nenhum dogma de seita; não vos submetais cegamente a instruções que não se apóiem na razão; não aceiteis, sem reserva, comunicações de aplicação particular, feitas em uma época especial. Aprendereis mais tarde que a revelação nunca cessa e que é progressiva, sem horas nem limites; não pertence a nenhum povo, nem a pessoa alguma. Deus se revela gradualmente à Humanidade.
Aprendereis também que toda revelação, sendo produzida por um instrumento humano, está relativamente sujeita ao erro. Nenhuma revelação é inspirada diretamente. Diversos dizeres dos médiuns, em épocas diferentes, não parecem estar de acordo, entretanto não se infere disso uma derrogação da verdade. Essas narrações podem ser verdadeiras, cada qual em seu gênero, ainda que de aplicação diferente. Baseai o vosso julgamento somente na justa razão. Refleti sobre o que se diz e recebei ou rejeitai. Se se vos faz uma oferta prematura e sois incapaz de aceitá-la, então, em nome de Deus, ponde-a de lado; ocupai-vos somente com o que vos satisfizer à alma e puder ajudá-la, em sua marcha para diante.
Tempo virá em que aquilo que vos mostramos da verdade divina será reconhecido e apreciado entre os homens. Contentemo-nos com esperar, e as nossas preces ao Deus Supremo, sempre sábio, se reunirão às vossas a fim de que Ele guie os pesquisadores da verdade para onde possam obter conhecimentos elevados e penetrem com a vista o interior da mais completa e abundante verdade. A sua bênção recaia sobre vós.

Leia na próxima Edição: Seção IX

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