17/05/2012 - Quinta-feira
O menino mais bem comportado da cidade
Professor Sylvio Passos
Andam em moda, em todo o país, e, como não poderia deixar de ser, também em nossa cidade, os concursos. Concursos de beleza, de simpatia, de elegância, de glamour, e muitos outros mais.
Entretanto, os promotores desses certames ainda não se lembraram de promover um novo tipo, em que se eleja o menino mais bem comportado da cidade. Aí fica a idéia, que poderá ser aproveitada em benefício de qualquer instituição.
E, antes que venham me propor que compre votos para algum candidato, vou anunciar aqui, já de uma vez, qual é o candidato de minha preferência ao honroso título de “O menino mais bem comportado da Cidade.”
Antes de mais nada, quero esclarecer que o meu candidato não é nenhum de meus filhos - pois são todos três bem “levadinhos da breca” – e que ele, também, não tem nenhum parentesco comigo, nem mesmo é afilhado, ou filho de algum amigo ou colega de trabalho.
O menino a quem eu me refiro é o tipo do menino bonzinho. Nunca deu trabalho em casa e nem às professoras do Grupo Escolar. Nunca fez birra, nunca incomodou a vizinhança e nunca precisou apanhar... Não diz palavrões e nem mexe com o Leba, com o Bezerra ou com qualquer outro dos tipos populares da cidade, quando estes passam defronte à sua casa!...
Acrescento mais: ninguém nunca o viu manejando uma atiradeira ou estilingue, com que outros meninos ameaçam as vidraças alheias e matam os passarinhos que alegram a cidade com seu canto!...
Também não é desses meninos que ficam rodeando a gente na porta dos cinemas, dos campos de futebol, dos parques de diversões e dos circos, pedindo para lhes inteirar o dinheiro da entrada!...
Nunca soube, também, que ele tivesse furtado canas em caminhões ou carros de bois, ou montado em traseiras de ônibus, como fazem tantos garotos da cidade. Subir em árvores, cruzar o pontilhão bem na hora de passar o trem e outras travessuras semelhantes nunca foram de seu estilo!...
As pessoas de sua casa podem ir à vontade ao cinema, sem que ele fique aborrecendo para acompanhá-las...
Conheço-o há vários anos. E vejo-o sempre que desço pela rua Governador Valadares, para ir à Rua Nova, no jardim de sua residência, que é um palacete verde claro, de varanda azul, cercado de escadarias e balaustradas, onde há, também, um poético quiosque. É ali que mora o menino de quem lhes falo.
Eu não sei se vocês o conhecem, se já estão sabendo quem é ele... Esse menino que nunca deu trabalho a ninguém, que é assim tão bonzinho e comportado, não é nenhum menino de ouro... Não é de ouro não: na verdade, é de cimento armado!...
E lá está ele sentadinho, quietinho feito um anjinho de pedra, há mais ou menos uns trinta anos, desde que construíram aquele belo palacete. Realmente, ele nunca amolou ninguém. Nunca aborreceu ninguém.
E, apesar de ser assim tão bonzinho e comportado – coitadinho - não sei como, quebrou um dos braços, e está lá, assim, há vários anos, parado, olhando para o tempo, à espera não sei de que, ao sol, à chuva, ao vento e ao sereno, sem se queixar, sem reclamar, sem incomodar a ninguém!...
Não será, portanto, aquele menininho de pedra merecedor do título de “O Menino Mais Bem Comportado da Cidade”?!...
(Matéria cedida por gentileza do Sr. Newton Dias Passos, residente em Brasília-DF, filho do autor desta crônica)
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