sexta-feira, 1 de junho de 2012

PROJETO GERALDO: FOTOGRAMAS DE UMA VIDA FILME EU É GERALDO


01/06/2012 - Sexta-feira

 

Um diário “não diário” PESSOAL de pesquisa por Erick Leite.  

  Em 2008 conheci Geraldo Santos Pereira. Fui apresentado a ele por Patrícia Lousada, uma companheira de curso de cinema, prima de Elzinha, atual esposa do cineasta. Conheci-o sem objetivos
cinematográficos, queria apenas aproximar-me de um cara que simplesmente marcou a história do cinema brasileiro. Não tinha muitas informações sobre Geraldo, a não ser que ele havia dirigido o primeiro filme colorido.

 
Em uma conversa seguida de um longo café da tarde, pude escutar várias incríveis histórias daquele cineasta. Sua vida profícua, seus encontros, sua arte de cativar e sua simpatia conquistaram minha atenção e minha admiração. Saí da casa  de Geraldo bêbado com tanta informação e com uma certeza, sua história precisava ser contada.

 Convidei amigos da quase formada Café Pingado para também conhecerem aquela incrível figura.

Na época éramos sete pessoas: José Ricardo, Daniel Ferreira, Lucas,  Denise Torres, Patrícia Lousada, Gustavo Cavalieri e eu.  

Alguns de nós retornamos à casa de Geraldo, porém percebemos que o mesmo não se lembrava de nossa última visita, foi quando Elzinha nos contou que Geraldo sofria de Mal de Alzheimer e que naquela semana a doença tinha progredido. 

José Geraldo Santos Pereira formou-se em direito na Universidade de Minas Gerais (hoje UFMG).

Naquela época a Europa, e consequentemente a França passava pelo período de Pós Segunda Grande Guerra Mundial. Vários jovens haviam morrido em combate, por isso a Europa começou a aceitar vários alunos estrangeiros. Com isso, alguns anos após formar-se, Geraldo, que desde pequeno criou afeição pela escrita, ganhou um concurso da embaixada francesa, que dava uma bolsa de estudos na Universidade de Literatura de Paris para a melhor resposta à pergunta  Pourquoi vous aimez Paris. Geraldo Santos Pereira, que não desgrudava de seu irmão gêmeo, José Renato Santos Pereira, pediu ao seu pai, juiz de Visconde do Rio Branco, que solicitasse ao governador Juscelino Kubitschek uma bolsa de estudos para o irmão, para que não se separassem. A bolsa foi concedida com a condição de que os irmãos escrevessem sobre a economia e cultura francesa para publicação em um jornal de Minas Gerais. Ao chegarem  em Paris, os irmãos se matricularam no curso de Literatura e também em Cinema, no IDEC.
 
A bolsa durou seis meses, os irmãos, porém, continuaram residindo em Paris, sendo sustentados pelo pai, que enviava mensalmente o dinheiro necessário para que vivessem  moderadamente. Mesmo com o dinheiro curto, os irmãos ficaram em Paris por dois profícuos anos. Viveram no Quartier Latin e encontravam-se, frequentemente, no Le Café de Flor, no Boulevard Saint Germant, com artistas renomados do cenário mundial, entre eles, Edith Piaf, Jean Reno, Jean Rousch, Jean Paul Sartre, Gerard Depardieu e outros atores, diretores e músicos. Foi em Paris que Geraldo ajudou seu amigo Ivo Pitanguy, que tinha perdido a namorada em um acidente de moto em que ele próprio era piloto e teve  que relatar à polícia francesa o ocorrido. 
Temendo uma represália da polícia, Pitanguy chama Geraldo para ajudá-lo. Geraldo imediatamente liga para seu conhecido amigo que trabalhava na embaixada brasileira em Paris. Poucos minutos depois chega o funcionário da embaixada, Guimarães Rosa, que a pedido de Geraldo, auxilia Pitanguy nos trâmites legais.

Passei três anos escutando os casos de Geraldo e, nesse período, juntei toda minha economia para visitar cada canto de Paris que Geraldo havia me falado sobre. Em Março de 2011 fui à Europa e passei pela França. Hospedei-me em uma linda casa, nos jardins do museu de tapeçaria de Gobelins, pertencente a uma documentarista parisiense chamada Julie Nguyen. Minha primeira parada foi exatamente no Le Café de Flore (www.cafedeflore.fr/). Tomei o metrô e parei na estação Saint Germaint. Desci e gastei meu Francês, ainda não consolidado, perguntando onde ficava o Café. Para minha tristeza ninguém lá se lembrava dos anos 50.

Saí com uma sensação de memória perdida, Mas mesmo assim pude passear pelo Quartier Latin, pelo IDEC, onde Geraldo estudou e por também visitei Montmartre, um dos bairros que Geraldo mais gostava. Ele uma vez me contou que lá ele apreciava toda a cidade, pois o bairro era alto e permitia ver tudo. Ele esperava o pôr do sol e via La Tour Eiffel, e admirava a igreja de Sacre Couer. Eu fiz a mesma coisa. Naquele dia tive uma sensação de que estava prestes a fazer algo muito importante e, ao mesmo tempo, criei uma paixão por Paris, essa paixão se parecia com a do próprio Geraldo pela cidade da luz.
 Imagem: roteirosemdinheiro.blogspot.com

Antes de eu viajar tive a feliz notícia de que havíamos sido aprovados no Fundo Municipal de Cultura, mas a verba não poderia cobrir uma pesquisa em Paris, pois tínhamos como objetivo buscar os rastros de Geraldo pelo IDEC e, quem sabe, encontrar alguns cineastas e amigos que Geraldo deixou por lá.
Tivemos que readequar nossas propostas para caber ao orçamento.

Voltei ao Brasil inspirado para começar nosso projeto. Geraldo, por sua vez, havia piorado.

Fisicamente ele estava ótimo, porém suas lembranças variavam e de todo seu passado, apenas Paris ainda era latente. As memórias morriam e com ela  a história de Geraldo, que não eram registradas. Pior que morrer o corpo, é morrer na história. Ainda mais para um artista. Na minha pobre concepção de memória, acreditava que deveríamos logo registrar tudo que o Geraldo falava, pois estava difícil resgatar o que ele tinha para contar. 

Certo dia, em mais uma de minhas visitas à  casa de Santos Pereira, escutei uma bela frase que Geraldo creditava à Michel de Montaigne: “Não se deve voltar ao passado, é muito perigoso”.  Essa frase me
inspirou e naquele mesmo dia comecei a pesquisar e refletir sobre a noção de memória, até aprender com Freud que a memória é um apontamento para o futuro e que o esquecimento é matéria-prima para ela.

Segundo Freud, é a partir das lacunas do esquecimento que retiramos material para construir nossa memória.
CONSTRUIR. Não resgatar. 

Nosso projeto, chamado GERALDO: FOTOGRAMAS DE UMA VIDA, submetido pelo outro diretor José Ricardo Júnior para o Fundo Municipal de Cultura e aprovado, precisava de readequação teórica.

Após muitas conversas com a equipe, sugeri o encontro teórico com um autor que gosto muito, Rimbauld.
Esse autor uma vez escreveu a frase  Je est un autre  (eu é o outro). A frase é exatamente assim, com esse “erro” gramatical, muito proposital. Com essa frase o autor queria dizer que para toda vez que uma pessoa falasse “EU”, para uma outra pessoa a palavra “EU” teria uma conotação diferente. Ou seja, o EU é sempre o outro. Após constatarmos que a perda de memória de Geraldo, devido ao Alzheimer, era irreversível, entendi que o GERALDO que buscávamos estaria nos OUTROS, naqueles que o conheceram,  naqueles que conviveram com ele. Ao operarmos com a memória e não com a inocência da “verdade”, tudo seria possível.

Não trabalhávamos mais com a ideia de que o que fosse relatado seria verdade ou não, pois se memória é CONSTRUÇÃO, qualquer coisa poderia  ser parte desse filme. A partir dessa ideia José Ricardo propôs ficcionarmos a NOSSA versão, dos DIRETORES, da história do Geraldo. Com isso a produção relocou boa parte da verba para a construção de uma PARIS CINEMATOGRÁFICA, estilizada e bolada pelo artista plástico Eduardo Félix.

O filme contou então com entrevistas de artistas renomados como Carlos Vereza, Ruth de Souza, Milton Gonçalves, Maurício Gonçalves, Maria Ceiça, Cacá Diegues, Joel Zito, Neville D'Almeida e teóricos do cinema como Ernani Hefner, Ataídes Braga e a produtora da Universo Produções, Raquel Hallak.
Cacá Diegues e equipe Café Pingado

Carlos Vereza e equipe Café Pingado

Maurício Gonçalves e equipe Café Pingado

Milton Gonçalves

Neville d'Almeida

Ruth de Souza e equipe Café Pingado

Maria Ceiça
Joel Zito


Sentindo necessidade de apresentar um pouco da vida familiar de Geraldo, inserimos como entrevistados sua filha Laura, sua esposa Elza e seus amigos Eugênio e Elena Espínola, além de seu amigo, admirador e colecionador de artigos sobre o cinema brasileiro e sobre a vida de Geraldo, José Maria, o Zema.

Para as cenas ficcionais contamos com o ator Rogério Araujo, que interpretou Geraldo e Cristiano Araújo, que interpretou Renato. Cris Moreira, Naiara Jardim, Luiz Rocha e Letícia Castilho completaram o
elenco que participou das filmagens.

  A equipe do filme:
Eu é Geraldo, realização, Café Pingado Filmes.

Atores:
Rogério Araújo como José Geraldo Santos Pereira
Cristiano Araújo como José Renato Santos Pereira
Luiz Rocha
Letícia Castilho
Naiara Jardim
Cris Moreira
Direção e roteiro:
Erick Leite
José Ricardo
Primeiro Assistente de Direção:
Gustavo Cavalieri
Segundo Assistente de Direção (cenas ficcionais):
Cris Moreira
Produção:
Ana Flávia Amaral 
Assistentes de Produção:
Juliana Antunes
Daniel Ferreira William Gomes
Daniel Britto
Ceres Canedo
Henrique Bocelli
Direção de Fotografia e câmera:
Marcello Marques (cenas galpão)
Daniel Ferreira (entrevistas)
Operador de Grua:
Marcello Marques
William Gomes
Daniel Britto
Operador de Steady Cam
Marcello Marques
Fotografia Still
Joyce Campos
Henrique Bocelli
Som direto, mixagem e masterização:
André Veloso
Trilha Sonora Original:
Larissa Matos
Cristian Tunes
Estúdio de Gravação:
Estúdio Cristian Tunes 
Montagem:
Daniel Ferreira
Eletricista:
Tainá Rosa
Assessoria Jurídica:
Viviane Velano
Contabilidade:
Raquino Contabilidade
Assessoria de Comunicação e Imprensa
Junia Rodrigues
Liliane Mendes       
Lorena Scafutto 
Nayara Vianna 
Marcela Martins 
Raquel Braga Músicas usadas até agora:
Pequenas Embarcações – Banda Constantina
Lás Bas – Todos os Caetanos do Mundo

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