13/06/2012 - Quarta-feira
Recebidos por
William Stainton Moses
(A. Oxon)
Seção XXXII
(Acrescento a comunicação seguinte, dada mais tarde. É um
belo exemplo do ensino superior, escrito com uma rapidez muito grande e
publicado tal qual. Enquanto eu o recebia, tinha consciência de que uma
influência muito poderosa e nobre penetrava todo o meu ser.)
Verdade
A bênção do Bem-aventurado esteja sobre vós. Temos hoje uma
ocasião, talvez única, para responder a algumas das vossas perguntas e
ensinar-vos uma verdade necessária. Segundo as cartas que recebeis, vedes que
os tempos de incômodo e de angústia que anunciamos são também esperados por
outros. Preparai-vos para a dor, que virá certamente; as aflições são
indispensáveis. Jesus o sabia e o ensinava, como necessária à educação da alma,
do mesmo modo que a disciplina fisiológica o é à conservação da robustez
corpórea. Sem a prova, não haverá profundo conhecimento algum, sem ela ninguém
poderá escalar os gloriosos cumes. A chave da ciência pertence ao espírito e
ninguém pode arrancá-la se a alma não se tornar ardente, disciplinada pela dor.
Não o esqueçais.
O bem-estar e o luxo são caminhos agradáveis, nos quais a alma
se retarda e deixa passar em sonho o dia da virilidade. Abnegação pessoal e
disciplina íntima são atalhos espinhosos que a conduzem aos cimos e a fazem
atingir o saber e o poderio. Estudai a vida de Jesus e sede discretos.
Demais, atravessamos uma fase de difícil e amargo conflito
entre nós e os nossos inimigos; sentis o reverso dessa luta, que é inerente a
cada desenvolvimento da verdade divina. É, pode dizer-se, a obscuridade que
precede a aurora.
À medida que uma revelação de Deus se torna antiquada, é
sepultada sob os erros do homem e extingue-se gradualmente, pois o que resta
dela é de tal modo desfigurado, que o próprio homem, querendo examiná-la, nada
mais encontra e pergunta como o velho Pilatos: “Onde está a verdade?” Então
nasce uma revelação nova, superior à precedente. As aflições desse nascimento
abalam a Terra, e os poderes do mundo espiritual combatem ao redor do seu
berço. O túmulo e o ruído do refreamento são grandes!
Quando as nuvens começam a dissipar-se, os vigias, cujos olhos
estão espiritualmente abertos para discernir os sinais dos tempos, eles que
estão sobre as torres, percebem os primeiros brilhos e estão prontos a desejar
o alegre despontar da aurora. “A alegria vem com a manhã!” “Cuidados e suspiros
dissipam-se.” Os terrores da morte e “os poderes das trevas” passaram, mas não
para todos. Há homens para os quais a luz só é visível quando o Sol está no
meridiano. Estes dormem, sem se importarem com a claridade que brilha sobre o
mundo.
Não espereis que o que é oferecido a todos seja aceito por
todos. Tal sonho de igualdade nunca se
realizará em vosso Globo e nem é desejável nem possível. Alguns homens,
somente, recebem o poder que lhes permite penetrar sem perigo os mistérios que
outros homens devem evitar. Aos iniciados compete o cuidado de guiar os seus
contemporâneos e o dever solene de lutar sem cessar contra eles mesmos, de ser
exemplos de zelo e de preparação contínua. Não fiqueis desanimados, porquanto
há diferentes graus de verdade, e os médiuns imperfeitos só trazem muitas vezes
uma luz vacilante ou turva. A verdade em seu esplendor não pode ser exposta
publicamente; apresentada à multidão, maculada pela aragem da Terra, perde a
sua pureza e disseca-se; nela o homem aprende, se ele é discreto, que o orvalho
de Hermon se destila no silêncio e na solidão da alma; que a verdade santa e
pura vai diretamente de espírito a espírito e não pode ser proclamada ao mundo
do alto dos telhados.
Há ásperos fragmentos de verdade postos ao alcance de cada
um. São como as pedras dos alicerces, das quais cada operário pode servir-se.
Mas as pedras preciosas, sem máculas, são conservadas em escrínios, para serem contempladas
em silêncio, na solidão. Assim, quando João, o Vidente, falava das muralhas de
jóias e das portas de pérolas da Cidade Celeste, designava as verdades
exteriores que todos podem ver, mas no interior do templo ele só colocava a
Presença e a Glória do Senhor.
O que é para vós a verdade divina representa apenas um átomo
ínfimo, do círculo inteiro intacto,
que vos é dirigido em resposta ao vosso apelo. Tínheis necessidade dele, e ele
veio. O que é para vós a perfeição e Deus, seria incompreensível para um outro,
não o consolaria e não seria aos seus olhos revestido de nenhuma beleza. É para vós, e para vós somente, uma resposta
do Grande Espírito à aspiração apaixonada da vossa alma.
Essa verdade será sempre esotérica, pois só pode ser dada
àquele que está preparado; o seu perfume sutilíssimo é unicamente reservado à própria essência do espírito.
Lembrai-vos disso como também de que é violência impor a verdade a criaturas
não preparadas, e é fazer-lhes grande e prolongado mal.
Lembrai-vos de que a pesquisa da verdade, por ela própria, é
ao mesmo tempo o objetivo mais afeiçoado, mais desejável e mais elevado a
prosseguir, no plano da vida em que vos achais. Nada na Terra excede a essa
nobre ocupação.
Não consideramos como servindo-lhe de obstáculo os vulgares
projetos que enchem a vida humana, as lutas e ambições que apaixonam os homens,
nascidas da vaidade, nutridas pela inveja, pois acabam deixando só amargura e
decepção e são tão fáceis de reconhecer como as maçãs de Sodoma. Mas uma
tentação mais sutil desliza nas almas cândidas: a de proclamarem com entusiasmo
qualquer verdade que se apoderou da sua vida: possuídas como estão do desejo de
fazê-la conhecer, querem o bem do seu próximo e falam.
Quando a sua nobre palavra está de acordo com as necessidades
da Humanidade, encontra eco em outras almas nas mesmas disposições de ânimo que
a recebem e a desenvolvem até que os homens, elevados por ela, colham
benefício. Mas o contrário pode acontecer, sendo então melhor não bradar no
deserto e consagrar todas as energias à pesquisa da verdade, a aprender com
abundância antes de se dirigir à multidão.
É bom ensinar, melhor ainda instruir-se. Não é, por certo,
impossível fazer as duas coisas simultaneamente. Mas lembrai-vos de que o
estudo deve preceder à divulgação e que é preciso estar certo de que a verdade
que se quer demonstrar é a que a Humanidade reclama. O discípulo da Verdade,
que se submerge profundamente nos mistérios que encobrem o seu brilho, não
violará imprudentemente a solidão na qual esta se encerra, dirá de suas belezas
e as proclamará àqueles que têm ouvidos para ouvir as palavras de pacificação
que o seu senso íntimo descobriu no santuário da Verdade, mas, adorador
respeitoso, ele conservará sempre em si uma reserva sagrada, um santo silêncio,
uma revelação esotérica muito pura, muito íntima, muito querida para ser
expressa.
(Em resposta a uma pergunta pouco importante,
escreveram:)
Não. Sereis informado oportunamente. Não podemos
poupar-vos o exercício que faz parte da disciplina à qual estais submetido.
Ficai satisfeitos de andar no caminho que conduz diretamente à verdade e deveis
segui-lo com cuidado e dificuldade. É útil recolherdes a sabedoria do passado e
aprender daqueles que partiram antes de vós. Previmos desde muito tempo que
aqueles que prosseguissem com assiduidade o estudo das revelações entre o nosso
mundo e o vosso receberiam ásperos choques, em razão das estultícias e
falsidades que se acumulam em torno do assunto apresentado sob o seu aspecto
mais esotérico. Esperamos com confiança o momento em que essas demonstrações
inferiores tomassem um lugar preponderante e preparamo-nos para ela. É preciso
saber que essa ciência tem e deve ter
sempre dois aspectos; tendo examinado um, deveis penetrar o outro.
A esse respeito aprendei quem e quais são os que se comunicam
com os homens; de outro modo não poderíeis decifrar o enigma que vos causa
tanta angústia. Deveis saber como e sob que condições pode obter-se a verdade e
como evitar o erro, a mentira, a frivolidade e a estultícia. O homem deve
conhecer tudo isso se quiser, sem perigo, entrar em relação com o nosso mundo.
E quando houver aprendido ou durante o tempo em que aprender, deve perceber que
dele depende o êxito.
Abata-se o homem, purifique ele o seu espírito
intimamente, expulse de si a impureza como uma peste, eleve as suas vistas à
maior altura possível; ame a Verdade como a sua divindade, diante da qual tudo
se deve inclinar; siga-a sem se inquietar para onde a sua pesquisa pode
conduzi-lo; e ao redor dele os mensageiros do Altíssimo farão círculo e em sua alma interior ele verá a luz.
† Imperator
Em 1874, deixaram de continuar regularmente as
comunicações. As séries estavam completas e o fim atingido. O poder voltava às
vezes sem nunca atingir o vigor sustentado e que se manifesta nas instruções
componentes deste volume. Entretanto, muita coisa foi escrita com interrupções
cada vez mais freqüentes, até 1879, época em que esta forma de comunicação foi
praticamente abandonada para dar lugar a um modo mais simples e mais fácil.
Eu poderia escolher, em meus inúmeros cadernos, outros
ensinos notáveis; mas, para o presente, esta série me parece suficiente,
apresentada como espécime da experiência de um só homem.
As opiniões expostas podem ser repelidas ou aceitas pelo
leitor, mas afirmo que ele se enganará sobre a verdadeira significação deste
volume, se não reconhecer nele o esforço contínuo e justificado de uma
inteligência extra-humana, para influenciar um homem que só se vangloria de ter
sincera e mui laboriosamente tentado chegar à Verdade.
– FIM –
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