Rita Foelker
Uma prática efetivamente
educacional requer do educador constante re-estudo e reflexão sobre os temas de
que trata.
O tema “Deus” nos apresenta
dois desafios. O primeiro se refere à revisão de nossas crenças pessoais. Será
que realmente penso e sinto Deus como espírita? Ou ainda guardo idéias trazidas
do catolicismo ou outra religião?
É comum vermos pessoas lendo
o Espiritismo com olhos católicos. Ali encontram o velho Deus disciplinador,
juiz, distribuidor de castigos e recompensas. Um Deus que pontua nossas vidas
de obstáculos, para provar nossas virtudes.
Acreditando neste Deus,
muitos espíritas não mudaram realmente suas formas de pensar, só adotaram novos
nomes para suas mesmas idéias.
Ocorre que o modo como
entendemos Deus é o modo como entendemos a vida. Esta visão de Deus transformou
a reencarnação em pena, numa imagem perversa e vingativa da lei natural, quando
a encarnação apenas se constitui em campo de experiências evolutivas. O céu
virou "Nosso Lar", e assim por diante
Se queremos viver a vida como
profitentes de qualquer religião e usar nomenclatura espírita, somos livres
para isto, mas neste caso não podemos pretender educar crianças e jovens nos
postulados espíritas. Eles são muito atentos ao que dizemos e fazemos.
Para transmitir um conceito
fiel, é preciso que eu o compreenda profundamente e o vivencie, porque só então
minhas palavras e atos serão coerentes com o que pretendo ensinar.
É fundamental, portanto, que
o educador espírita se torne um exemplo vivo do que significa ser espírita e
saber o que sabe, ou viverá a ilusão de transmitir princípios do Espiritismo,
enquanto estará apenas compartilhando a sua confusão íntima e sua insegurança
sobre o assunto.
Leia amanhã, Quarta-feira, 03:
O conceito espírita de Deus
Há um sentimento instintivo
nos seres humanos, a respeito de uma força superior, um poder sobre-humano que
costumamos chamar de Deus. As formas de pensar e compreender que Deus é este, o
que ele faz e como governa a vida dos seres são inúmeras, e deram origem às
religiões.
Numa época de conhecimentos
científicos nulos ou bastante limitados, muitas idéias fantasiosas adquiriram
importância, como se fossem verdades, e a partir daí, desenvolveu-se um tipo de
relacionamento com Deus baseado no medo, nas trocas de favores, na
intermediação por sacerdotes e na realização de rituais. E apesar do progresso
da Ciência desvendar uma realidade diferente, onde muitas crenças religiosas
não se enquadram, a maioria dos seres humanos continua com suas antigas
crenças, agindo com a mesma noção da divindade dos nossos antepassados: como
uma pessoa que devemos agradar para servir aos nossos propósitos, que nos pune
de algum modo se efetuamos escolhas ruins, que intervêm em nossos destinos, que
diz o que podemos ou não fazer.
Uma diferença fundamental do
conceito espírita de Deus, com relação a estes outros é que, mesmo limitado
pela nossa linguagem e possibilidade de compreensão, ele transmite uma visão
totalmente inovadora. Vejamos:
• Para o Espiritismo, Deus não é pessoa ou Espírito, como nós;
não tem forma nem sentimentos humanos. Os Espíritos Superiores que trabalharam
na Codificação definiram Deus como inteligência suprema, causa primeira de
todas as coisas. Esta resposta não explica a natureza íntima de Deus,
inacessível para nós, por enquanto, mas possibilita entendê-lO como poder
criador do Universo. Seus atributos são qualidades atribuídas a Ele pelos
Espíritos, e nos permitem ter uma idéia mais ou menos exata de como atua no
Universo. Ele é eterno (não teve início nem terá fim), imutável (não está
sujeito a mudanças), imaterial (difere de tudo que é matéria e não se comporta
como um ente material), único, onipotente, justo e bom, sendo que todas as suas
qualidades estão num grau máximo.
• O conhecimento da existência de Deus não ocorre pela fé cega,
mas pela análise, observação e constatação do funcionamento harmonioso da
Natureza. Nos processos da Natureza, tudo revela uma força inteligente e uma
precisão que só poderiam resultar da criação de uma inteligência superior a
qualquer outra que possamos imaginar. O acaso não poderia produzir estes
efeitos.
• Deus não precisa ser temido, nem existe para nos julgar, nem
se entristece com nosso comportamento. Em suas deduções a respeito de Deus, os
seres humanos lhe conferiram emoções e atitudes humanas que negam os seus
atributos como qualidades máximas. Por ser superiormente sábio e conhecer
profundamente o ser humano, não haveria sentido em nos julgar, ou entristecer-se
por fazermos coisas próprias de nosso estágio evolutivo. Por ser imutável, não
muda sua forma de agir, não nos oferece perigo, por isso não há motivo para se
ter medo.
• Deus não intervêm diretamente nos acontecimentos, mas age
através das leis sábias que regem o Universo. A ação das leis de Deus em toda
parte, das interações microscópicas no interior do átomo aos movimentos
planetários e ao mais fundo dos seres é, em si mesma, prova de que a criação é
perfeita desde o início, não exigindo providências de Deus para ajustar os
rumos dos acontecimentos e para fazer prevalecer Sua vontade. A relação do ser
humano com Deus é feita sem intermediários, através da prece (pensamentos e
sentimentos). Cada criatura, em qualquer hora ou local em que se encontre, pode
elevar-se a Ele. A principal qualidade da prece corresponde ao sentimento que
transmite, sem uso de objetos ou palavras especiais.
Por tudo isto...
...é importante observar bem
o tipo de histórias que estamos contando, que “imagens” de Deus estamos
possibilitando que nossos alunos criem em suas mentes.
... caracterizar Deus como
pessoa, ou mesmo como Espírito, é criar confusões entre conceitos. Uma
alternativa interessante é utilizar textos que mostrem Deus como poder criador
e mantenedor do Universo, cuja inteligência e amor se manifestam na perfeição
das Leis da Natureza.
... também não caberão na
fala do educador espírita as expressões: Deus está vendo!... Deus castiga!, e
outras, como ameaças diante de condutas indesejáveis.
... dizer que Deus curou, que
Deus atendeu a determinado pedido, não corresponde ao modo como Ele atua no
Universo.
... sempre que falar de Deus,
é importante fazê-lo de forma consciente e madura, sem ingenuidade. Não hesite
em contar porque você confia em Deus, de onde surgiu sua fé, e o quanto esta fé
é realmente insubstituível em sua vida.
Encoraje seus alunos a
compartilhar suas vivências.
Sugestões de Atividades:
Deus: para os pequenos -
Deus: para os maiores
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