terça-feira, 12 de junho de 2012

Ensinos Espiritualistas – Sayonara(QUARAÍ-RS) – Mediunicamente


12/06/2012 - Terça-feira



Recebidos por
William Stainton Moses
(A.        Oxon)



Seção XXXI

(28 de abril de 1876. Este capítulo é consagrado a um caso no qual a personalidade do Espírito que se comunicava foi estabelecida da mais evidente maneira. Dentre um grande número de exemplos, este pareceu-me notável e, dando o maior desconto à vontade e à possibilidade de enganar, não acho explicável, por uma teoria qualquer de fraude ou de simulação, uma série de provas tão coerentes e completas. A comunicação refere-se à morte, em circunstâncias penosas, de um amigo que eu tinha conhecido intimamente durante a sua vida.
Em uma sessão em casa do Sr. Hudson, a sua imagem aparecera na chapa fotográfica, depois de eu haver notado a presença contínua desse Espírito ao redor de mim. Estava eu em transe no momento em que a fotografia foi tirada, quando me deram o nome do Espírito. Um outro Espírito descrevia ao mesmo tempo a posição na qual a figura se colocara. A revelação da chapa provou exatamente a descrição, sendo que nenhuma hesitação tive em reconhecer tão imperfeita imagem desse meu amigo, no qual eu tinha particularmente pensado antes de vir à casa de Hudson. Havia um outro ponto de reparo ainda mais evidente, que aliás não posso publicar. É-me bastante afirmar que a identidade do meu amigo, em sua forma exterior e com as suas particularidades mentais, ficou distintamente estabelecida em meu pensamento.
A primeira comunicação que recebi a propósito dessa fotografia ocupava-se do método seguido para produzi-lo. Disseram que um Espírito, que estava então muito ativo ao redor de mim, tinha dirigido os invisíveis operadores de Hudson. A roupagem, em forma de mortalha, que caracteriza todas as fotografias de Hudson, foi descrita como um expediente para poupar o tempo e o poder; a cabeça fora completamente formada, o rosto esboçado. Um certo número de operadores espirituais fizera a simples obra mecânica da materialização parcial como se lhes havia ensinado a fazer. Daí uma semelhança de família em todas as imagens produzidas em casa do mesmo fotógrafo.
Ao terminar a manifestação, declaram-na contrária ao desejo de Imperator, “que não desejava ver-me de novo entregue às manifestações físicas”, acrescentando ele: “quando vimos que não pudéramos impedir, ajudáramos”.
O Espírito tinha estado perto de mim, havendo nesse dia razões particulares para que fosse atraído; era assim mais fácil produzir a sua imagem do que a de uma outra entidade. Esta consideração fez-me ir à casa de Hudson com dois amigos, na esperança de obter alguma prova, mais para eles, que para mim.
Tendo-se assentado nisso, o Espírito foi dirigido por M... (que guiava os Espíritos agrupados em casa de Hudson) para moldar a imagem do seu rosto e desenhar a roupa. O simulacro foi feito com substância espiritual, disposto e fotografado; depois disso, Imperator disse:)
Falar-vos-emos do vosso amigo; mas primeiramente opomo-nos a que torneis a voltar às manifestações físicas. Não desejamos que o poder mediúnico volte a essa fase, que nos levou a colocar-vos nas condições em que essa volta possa ser incitada. Já vos explicamos que não deveis ficar no plano material e tínhamos suspendido os nossos encontros. Demais, não desejamos que o vosso amigo se vos ligue, pois o seu estado espiritual é atrasado e seria preferível não o atrairdes; agora que o fizestes, é preciso ajudá-lo a progredir. M... disse com razão que tínheis entrado em sua esfera por associação e conversação, com ..., donde os vossos pensamentos foram fortemente dirigidos para ele. É a lei de atração de espírito a espírito, compreendei.
Sim, mas essa lei não age sempre, ou antes, os seus resultados raras vezes nos são manifestados. Ele é infeliz?
Como poderia ser feliz? Ele levantou mão sacrílega contra o invólucro no qual o Deus sábio tinha colocado a sua alma para que progredisse e se desenvolvesse; abandonou as ocasiões de fazer o bem e destruiu, quanto o podia, o templo onde residia a divina centelha que lhe havia sido concedida; enviou o seu espírito só, sem amigo, a um mundo estranho onde o seu lugar não estava ainda preparado; impiedosamente faltou com o respeito ao Pai. Como poderia ele ser feliz? Ímpio, desobediente, obstinado em sua morte, negligente, preguiçoso, egoísta em sua vida, ainda mais egoísta por sua morte prematura, que dolorosamente afligiu seus amigos terrestres. Como poderia ele estar em repouso? A sua vida perdida pede vingança. O egoísmo que cultivava continua a animá-lo e causa-lhe um extremo mal-estar.
Egoísta em sua vida, egoísta em sua morte carnal; miserável, cego e atrasado, não há repouso para ele e os seus semelhantes, até que o arrependimento o penetre e o conduza à regeneração. Ele está fora da lei.
Tem ele esperança de progresso?
Sim, tem esperança, pois ele começa a ter consciência do pecado; vê vagamente através da obscuridade espiritual quanto a sua vida foi má e inútil; tem o sentimento da desolação e desejo de luz; é por isso que ele fica perto de vós. Deveis ajudá-lo, mesmo com prejuízo vosso.
Com muito gosto, mas de que modo?
Pela prece primeiramente. Fortificando as percepções que despertam nele; permitindo ao desventurado Espírito respirar a atmosfera benéfica do trabalho, cuja virtude reconfortante e pura ele ignora. Deveis instruí-lo, ainda que a sua presença vos seja desagradável. Chamaste-o e ele veio. Deveis agora suportá-lo. Não podereis desfazer o que fizestes, malgrado nosso. A vossa consolação será ficar ocupado com um trabalho abençoado.
Não é justo dizer que o chamei, mas farei tudo o que depender de mim. Ele era um louco.
Ele era e é responsável – começa a aperceber-se disso – e já se amaldiçoou, pois preparou o seu pecado final levando uma vida de ociosa inutilidade. Comprouve-se no exame mórbido de si mesmo; retraiu-se, não com o fim de progredir, de apagar faltas ou de adquirir virtudes, mas pelo mais exclusivo egoísmo; estava envolto em uma nuvem anormal de egoísmo; isso tornou-o enfermo. Por fim fez-se a vítima de Espíritos tentadores que, ligados a ele, o conduziram à ruína. Era louco, como o dizeis, mas o suicídio insensato foi o resultado dos seus próprios atos, e agora ele exerce a mesma influência sobre aqueles que magoou por sua morte. Flagelo de si mesmo, torna-se o flagelo dos que ama.
Horrível! É a mais amarga retribuição. Compreendo que uma vida de ociosidade e de egoísmo produza uma moléstia espiritual. O egoísmo não é a raiz de todo pecado?
É a calamidade da criatura, que vitima muito maior número de almas do que imaginais. É a paralisia da alma para quem o egoísmo passivo é o que há de mais fatal. O egoísmo ativo é menos pernicioso, tendo por contrapeso a sua atividade e podendo mesmo tornar-se o motivo de ações que revelem bondade. Há uma espécie de egoísmo que impele o homem a fazer o bem para ter boa reputação, há outra que o induz a ser bom para se não molestar nem inquietar e que cede a qualquer influência para escapar às emoções ou à ansiedade. São faltas que retardam o progresso da alma, conquanto não sejam o pernicioso veneno que devora a sua vida e a conduza ao desespero e à morte. O vosso amigo estava possuído do mais desprezível dos egoísmos, porque era preguiçoso, inútil e estava saciado. Não, ele nem mesmo existiu, pois a sua vida fora corrompida por esse exame mórbido de si mesmo, vida que destruiu até à última fibra. Esse egoísmo era tão cruel aos seus amigos como a ele. Há graus de pecado, e o dele era dos piores. Escutai enquanto essa história é narrada para vossa instrução. Ficai tranqüilo no entanto, pois afastaremos de vós essa influência enervante.
(Eu estava muito incomodado, e caí em um transe profundo, semelhante ao sono; tive uma visão calmante e acordei disposto.)
Não é necessário entrar nas particularidades dessa vida perdida, cuja alma foi consumida pelo cruel egoísmo e seu fim foi a destruição da própria consciência. O vosso amigo era louco, segundo o vosso modo de compreender a loucura. Ninguém se fere mortalmente a si mesmo, se o seu espírito desequilibrado não perdeu a faculdade de julgar. O vosso amigo tinha-se confiado aos inimigos, trabalhando pela sua própria ruína, e o seu caso não é daqueles em que condições hereditárias de moléstia privam o homem da capacidade de governar-se bem, mas é a conseqüência da sua vida de egoísmo preguiçoso.
A lei da existência humana é: Trabalhar para Deus, para o próximo e para si, não para um ou para outro, mas para todos. Transgredir a lei é provocar o castigo. A vida inativa corrompe e contamina as outras; ela é viciosa e ardente, prejudicial à comunidade, por isso que lhe subtrai o que lhe é devido e cria um ponto infeccioso que se torna logo num centro fértil em delitos. A fonte do mal é sempre a mesma, quaisquer que sejam os subterfúgios e as formas que ele assuma.
Quando o vosso amigo cedeu à influência tentadora que o conduziu ao crime de cortar o fio que o ligava à Terra, a sua alma achou-se em angústia nas trevas e ficou muito tempo incapaz de separar-se do corpo, vagando em torno do túmulo, mesmo depois de fechado; não achava repouso nem acolhimento no mundo, para onde quis vir sem ser chamado. Inconsciente, inerte, fraco, dorido e desolado, sentindo a obscuridade a envolvê-lo, entreviu vagamente as formas de seres congêneres que se tinham também destruído e flutuavam em um insulamento inquieto. Eles se aproximaram, e a sua presença aumentava a angústia do espírito meio-inconsciente.
O primeiro estremecimento da consciência e a sua agitação atraíram os Espíritos benfeitores prontos a dissimular-lhe a angústia e a despertar o remorso; com risco de parecerem cruéis, eles tentaram levá-lo a compreender o seu estado e a gravidade do seu pecado e, embora por muito tempo fossem vãos os seus esforços, chegaram lentamente a despertar-lhe algum arrependimento do pecado, e o Espírito começou a tatear, buscando o meio de escapar a um estado que se lhe tornava odioso. Freqüentes reincidências o retardaram; os tentadores o logravam, nada poupando para que ele sofresse sem remissão a sua penalidade, obedecendo-lhes a instintos degradantes, pois assim são os executores da sentença produzida pelo próprio crime.
A esperança do Espírito é estar bastante fortalecido para ser capaz de entregar-se a algum trabalho benfazejo que lhe permita contribuir para a sua própria salvação. A fim de chegar a isso ele deve passar pelo remorso e sofrer um labor antipático; não há outro meio de purificação. O egoísmo deve ser atenuado pelo sacrifício pessoal; a ociosidade vencida por um trabalho incessante, e o Espírito purificado pelo sofrimento. O seu passado fechara-lhe quase a estrada do progresso, que só lhe pode ser reaberta a preço de esforços reiterados, e a sua perseverança será experimentada pelos recuos e freqüentes quedas.
O socorro dos ministros de Deus não será retirado, pois a sua gloriosa missão consiste em ajudar aqueles que aspiram ao progresso e em amparar a alma enfraquecida, mas se eles devem reconfortá-la, não podem poupar-lhe nenhuma angústia nem diminuir de uma partícula a penalidade em que ele incorreu pela transgressão. Ninguém pode expiar pelo culpado, nem gozar os méritos de um Salvador, nem o devotamento de um amigo. O fardo deve ser carregado pela alma que pecou.
Pode ser que a centelha meio extinta seja de novo acesa e ativada até tornar-se em chama bastante intensa para iluminar a alma em sua ascensão; pode ser que o Espírito ande errante na desolação, surdo às vozes benfazejas, gemendo em sua inquietação solitária, sem ânimo para lutar, até que, à força de passar pelo cadinho dos sofrimentos, ele resgate as suas faltas depois de ter empregado um tempo que vos parece uma eternidade; pode ser também que a alma desperte e se agite antes que a sua condição seja fixada e que, por um esforço de energia desesperada, se atire para a luz, invocando o sofrimento purificador, bastante forte para rejeitar os costumes da sua vida, tornando enfim a nascer para a verdadeira vida.
Isso pode ser, mas é raro. Os caracteres não se modificam tão facilmente. Muitas vezes o que morreu impuro e egoísta fica o mesmo e continua no presente como no passado. Orai para alcançardes a força de ajudar aquele que começa a ter uma fraca percepção do progresso. Orai para que a sua obscuridade seja esclarecida e a agitação acalmada pelos socorros angélicos. Tais preces são os mais poderosos remédios contra a sua moléstia.
(Depois de ter relido o que acabava de escrever, eu disse:)
A descrição é feita para nos encher de desânimo, qualquer que seja o nosso desejo de progredir. O ideal é muito elevado para a Terra?
Não. Não pintamos o quadro em todas as suas minudências, porquanto ele não está colorido além da medida. Não encontramos expressões capazes de exprimir o horror da desolação e a plenitude da angústia da alma despertada depois de uma vida tal como a de que falamos. Não somos responsáveis por ideal algum, nem estabelecemos nenhum. O que fizemos foi apenas indicar mais uma vez o mecanismo de uma lei cuja ação podeis ver ao redor de vós. Não fomos nós que a estabelecemos, mas sim o Eterno e Sapientíssimo.
O egoísmo e o pecado comportam a angústia e o remorso até que sejam eliminados. Queremos mostrar aos homens aquilo que eles são inclinados a esquecer e que, se não há julgamento formal diante do universo reunido, cada ato, cada costume, cada pensamento traz em si a sua recompensa ou castigo e constitui o futuro caráter. Não há outro juiz a não ser o Espírito comunicando consigo mesmo e ligando a sua própria sorte, não há outro livro a não ser a consciência, nem outro inferno além da chama do remorso, que devora a alma e a renova.
E isso não se realiza em longo prazo, mas no momento da morte; não é um vago talvez, mas um fato certo, imediato e inevitável.
Ensinamos-vos isso, pois foi dito que o nosso Evangelho suprime o terror religioso, que é o freio da maior parte dos homens e que anunciamos uma fé que importa na salvação de todos, quaisquer que sejam as suas ações ou a crença que professem. Não ensinamos essa doutrina insensata, bem o sabeis, mas tendes necessidade de que se vos repita sem cessar esta verdade: que o homem prepara o seu próprio futuro, constrói o seu caráter próprio, sofre por suas próprias faltas e deve trabalhar para a sua própria salvação.
Firmamo-nos sobre esse assunto porque a história dessa vida perdida incitou-nos a isso. Falamos bastante da abundante misericórdia do Supremo e do terno e solícito interesse incessantemente exercido por aqueles que são os seus intermediários junto de vós, para que seja útil mostrar-vos às vezes a solidão e o devotamento reservados àqueles que sucumbem às tentações, por não saberem resistir aos inimigos.
Tendes necessidade de ouvir que a verdadeira felicidade só pode ser obtida tendo-se por objetivo o mais elevado ideal, que o preguiçoso e o inútil não conhecem, que o homem vicioso ou malfazejo pecador por escolha e por preferência nenhuma parte tem nele; que a paz na Terra reina somente na alma elevada para o céu, a qual vive alegre ante os perigos e dificuldades que sabe superar. Necessitais que vos repitam ainda que os anjos velam por essas almas valentes e que os ministros de Deus estão incumbidos de sustentá-las; nenhum mal definitivo pode ligar-se a eles. A vitória é certa, e virá depois da luta ardente, como a paz sucederá à tribulação e o desenvolvimento aos esforços perseverantes.
É evidente. Mas desde que o trabalho e a pesquisa do conhecimento de Deus e do futuro do homem devem preceder a paz e o repouso, não tomarão tempo à meditação?
Não. A vida é tríplice: meditação e prece, culto e adoração, conflito com o triplo inimigo. A meditação é necessária para aprender sem cessar; a prece é a sua fiel associada, por ela a alma prisioneira se comunica com o Pai dos seres e conosco, os seus ministros. O culto e a adoração, sob qualquer das formas que atraem a alma, seja no silêncio da solidão, sob os céus, em intimidade com a natureza, manifestação exterior da Divindade, seja tomando parte nalgum templo imponente, em um serviço solene de cânticos dirigidos ao Senhor, seja enfim na muda aspiração do coração para o bem, são os socorros necessários no combate contínuo que o homem deve travar. Não os depreciamos, insistimos antes em seu favor. Seria excelente que pudésseis consagrar mais tempo a pensamentos pacíficos. A vossa vida necessita de tranqüilidade.
Quanto à responsabilidade do homem por seus atos irrefletidos, admitis com segurança alguns casos em que ele não seja responsável?
Certamente. Estando abalado, o instrumento humano, viciado, pode transmitir realmente a vontade do ser que ele encerra. Em muitos casos, a loucura é resultado de uma moléstia corpórea. O espírito não pode ser censurado. Um acidente pode destruir o equilíbrio; defeito congênito ou excesso de dor e de ternura. Em tais casos o homem não é censurado por ninguém, ainda mesmo pelo Santo e Justo Uno que não se ocupa do corpo, mas sim da alma. Ele julga segundo a intenção e a causa espiritual. Reprovamos o caso, que foi assunto dos nossos entretenimentos, porque ele foi o fim de uma vida de pecados. O vosso amigo era e é responsável, e já começa a sabê-lo.
Possa o Sapientíssimo nutrir e aumentar o vosso conhecimento.
† Imperator

Leia na próxima Edição:
Seção XXXII

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