11/06/2012 - Segunda-feira
Recebidos por
William Stainton Moses
(A. Oxon)
Seção XXX
(O gosto que os Espíritos têm pelos aniversários me
proporcionou uma grande quantidade de instruções, peculiares às festas da
Igreja. Ofereço como exemplo as que me foram dadas na Páscoa, durante três anos
consecutivos. A comunicação escrita em 1875 e assinada com um nome que não é o
dos outros ditados, parte de um ponto de vista diferente e não é concebido no
mesmo sentido.
Dia de Páscoa de 1874. Eu tinha falado de uma comunicação
recebida no ano precedente na mesma festa, assinado Prudens e Doctor.)
Se tornardes a examinar os vossos sentimentos de então,
comparando-os aos que experimentais hoje, tereis um ponto de mira para apreciar
o vosso progresso. Ensinamos a ressurreição da alma em oposição à do corpo,
explicamos a verdadeira teoria da reedificação do espírito, não no longínquo
futuro, mas no momento da dissolução do corpo. Também vos falamos da missão de
Jesus, a qual prossegue entre vós por meio dos seus enviados, mostramos o
verdadeiro aspecto dAquele que adorais como ignorantes, descrevemos como Ele
era, qual Ele próprio descreveu, um homem como vós, o mais nobre dos filhos dos
homens, o mais aproximado de Deus, o mais puro e o mais verdadeiro ideal da
perfeição humana. Seu corpo não foi raptado, mas Ele não morreu, manifestou-se
em Espírito aos seus amigos, andou com eles, como podemos um dia andar
convosco, e ensinou-lhes uma parte da Verdade.
Sois testemunha agora dos sinais e prodígios que ensaiam para
uma nova dispensação: o advento do Senhor; não como em vão se vos ensinou, em
presença corpórea para julgar uma Humanidade restaurada, mas por sua nova
missão, que completará a antiga. Somos os seus ministros e explicamos um novo
Evangelho sob a sagrada direção de Jesus.
Ultimamente podemos agir melhor sobre vós por causa da vossa
passividade crescente e disposição de espírito mais acessível.
Orai muitas vezes, sede fiel e paciente. Meditai sobre as
comunicações sagradas que Deus envia agora à Terra. Não vos deixeis distrair do
objetivo pelo qual trabalhamos. Não exigimos que abandoneis a vossa tarefa
cotidiana, enquanto não chegue a oportunidade de podermos ocupar-vos por mais
tempo. Esforçai-vos por afastar os obstáculos que se opõem ao progresso, pois
deveis passar por essa prova adicional; lembrai-vos, caro amigo, de que tendes
necessidade de ser arrastado até pelo fogo. Experimentai elevar-vos do nível
terrestre para as altas esferas onde residem os mais elevados Espíritos. Esta é
a nossa comunicação da Páscoa. Despertai e ressuscitai de entre os mortos!
Afastai os grosseiros cuidados do mundo, rejeitai os laços materiais que vos
entorpecem, saí da matéria morta e ide para o espírito vivo, subi da Terra ao
Céu. Assim como o Mestre disse aos seus amigos: “Vivei no mundo mas não sejais
do mundo.” Assim serão cumpridas em vós essas palavras dos vossos sagrados
anais: “Desperta, ó tu que dormes, e ressuscita do meio dos mortos, e Cristo te
dará a luz.”
Falais como se eu perdesse o meu tempo em coisas mundanas?
Não; dissemos que é preciso que o vosso trabalho
terrestre se faça com risco mesmo de retardar a vossa educação moral. Mas
desejamos que dirijais toda a atenção para o elevado ensino espiritual,
abandonando os baixos planos de evidência objetiva, que se tornam inúteis.
Queremos o vosso progresso e o que vos dizemos dizemo-lo a todos.
(Depois de algumas outras perguntas:)
Sim, o desenvolvimento poderia prosseguir até que nos
tornássemos incapazes de trabalhar no mundo; que ficássemos tão sensíveis que
só fôssemos úteis para ser encerrados em uma caixa de vidro; tão absorvidos
pela vida do espírito que ficássemos inúteis sobre uma Terra de labor contínuo.
Não seria isso, em verdade, a perfeição da mediunidade?
Poderia ser assim com um outro tipo de homem, colocado
em circunstâncias diferentes e dirigido por outros guias. Fizemos a nossa
escolha, depois de reflexão; preferimos arriscar demoras a empregar um
instrumento de inteligência mal regrada, pronto a tornar-se a vítima dos
Espíritos errantes. Contamos com o tempo para atenuar dúvidas e dificuldades e
estabelecer uma firme confiança. Obtido esse ponto, as precauções serão
menores. Não deixaremos de insistir junto dos nossos amigos sobre a necessidade
de nutrir mais elevadas aspirações, pois queremos demonstrar-lhes que a base
material está assentada e que é preciso edificar a superestrutura espiritual.
A mediunidade está longe de ser uma dádiva impoluta; a fé
é sem dúvida necessária; tenho dela tudo o que posso ter e certamente novas
provas físicas acrescentadas às que já recebi hão de aumentá-la de uma
partícula, não é verdade?
A vossa fé não é a Fé, é uma acepção lógica, não é uma
fé espontânea e viva, mas um assentimento intelectual laboriosamente arrancado
e sempre contrabalançado pelas restrições mentais. A vossa fé não moveria as
montanhas, ainda que ela fosse suficiente para tomar um caminho certo a fim de
contorná-las; seria impotente para animar e elevar o espírito, ainda que
pudesse julgar das provas e pesar as probabilidades. Ela assegura a defesa
intelectual, mas não é a fé que resplandece incessantemente na alma interior e
torna-se, pela virtude do seu poder, um atrativo onipotente, um impulso de ação
para grandes e santos projetos. O mundo pode escarnecê-la, os sábios
ridicularizá-la, mas essa fé é a fonte de tudo o que há de melhor na vida do
homem.
Vós o ignorais, mas virá tempo em que haveis de ficar
maravilhado de nunca ter podido honrar, com o nome de fé, essa prudência
calculada, ou de ter sonhado que o seu apelo hesitante podia abrir as portas
que vos ocultam a verdade divina. Esperai e, quando soar a hora, não levanteis
mais essa pálida estátua de mármore no lugar do corpo vivo inflamado pela
convicção e cheio de energia para realizar os projetos mais grandiosos.
Tendes um modo de apresentar as coisas que, ainda que
verdadeiro, é ligeiramente perturbador. Pois que “a Fé é o dom de Deus”, não
posso ver em que sou censurável? Sou conforme me fizeram.
Não, meu amigo: fizestes-vos
a vós mesmo através de uma vida que foi formada ao mesmo tempo do interior e do
exterior. Sois o que as circunstâncias exteriores, as predileções íntimas e
a direção dos Espíritos vos fizeram. Enganais-vos. Só vos censuramos porque vos
gabais de uma fé que não merece esse nome. Ficai satisfeito, caminhai para uma
verdade mais elevada. Retirai-vos, quanto possível, do que é externo,
ocupai-vos do interno e do espiritual. Não deixeis de orar para obter a Fé, a
fim de que o que chamais com justo motivo “o dom de Deus” inunde a vossa alma e
a leve energicamente para o conhecimento superior. Vós vos retardais com a
vossa ansiedade.
† Imperator
(Páscoa de 1875. De manhã tivera eu consciência de me
achar rodeado de grande número de Espíritos. Fiz alusão a isso, e o que se
segue foi escrito pelo Espírito habitual, sob uma influência inteiramente
nova:)
Dissemos que celebramos sempre os aniversários, e a
Páscoa é uma festa, para nós, como o é para vós outros, porém conhecemos melhor
as razões que nos levam a celebrá-la. A Páscoa simboliza a ressurreição, não a
do corpo ou da matéria, mas a ressurreição extramaterial, a do espírito; mais
ainda, a ressurreição do espírito libertado do ornato e das travas materiais, a emancipação da alma abandonando o que é
carnal e terrestre como o espírito abandona o corpo que ele deixa para
sempre.
Os cristãos recordam-se de que seu mestre, o Senhor
Jesus-Cristo, foi libertado da morte; eles crêem sem razão que o corpo material
foi reanimado; entretanto, honram, sem o saber, a grande verdade espiritual; a
morte não existe. Regozijamo-nos porque os homens reconheceram particularmente
uma verdade divina; regozijamo-nos também com o poderoso trabalho realizado
nesse dia. Não foi a morte que foi vencida, mas sim o homem que começa a ter
uma vaga visão da vida eterna.
Qual é a significação da vida do Cristo e como é o seu corpo?
A encarnação de um Espírito sublime com o fim de
regenerar a Humanidade não se limita a um só exemplo. O auxílio que a Humanidade
obtém, por esses salvadores particulares, é o de que ela tem necessidade no
momento em que eles aparecem. Essas encarnações especiais, sobre as quais
sereis mais tarde mais bem instruído, diferem até um certo ponto das dos outros
homens. Os corpos dos homens pertencem a todos os graus, uns grosseiros e
sensuais, outros purificados e etéreos. O corpo humano de Jesus era da natureza
mais etérea, mais perfeita. Jesus tinha sido preparado durante trinta anos de
retiro para os três anos de trabalho ativo que Ele devia realizar.
Errais supondo (havia-me
passado pelo pensamento que a preparação era desproporcionada à obra) que o
trabalho feito por um ser encarnado é limitado à duração da sua existência
terrestre. A maior parte das vezes, e tal é o caso de Jesus de Nazaré, o efeito
póstumo da vida é a parte mais real da tarefa que, começada durante esses três
anos, prosseguiu sempre depois.
A majestade e a baixeza de estado foram a nota da vida do
Cristo. A majestade se descobria por momentos, em seu nascimento, em sua morte,
no Jordão, quando a voz do espírito atestou a sua missão.
Os homens reconheceram durante a sua vida que Ele não se lhes
assemelhava completamente, que não era limitado pelos laços sociais ou
domésticos, ainda que a harmonia do círculo social lhe fosse agradável. Os seus
contemporâneos sabiam disso, e sob esse ponto de vista a Bíblia vos dá uma
noção muito imperfeita da influência que Ele exerceu ao redor de si; ela não
insiste bastante sobre o efeito moral que as suas palavras e atos produziam, e
se apóia muito sobre as falsas interpretações provenientes das classes
instruídas e consideradas, que então como sempre foram os mais arraigados
inimigos de toda verdade nova. Os escribas e os juízes, os fariseus e os
saduceus foram os adversários ignorantes e encarniçados do Cristo, como os
vossos homens instruídos, doutores, teólogos e pretensos sábios odeiam a missão
atual que dimana do Cristo e que eles perseguiriam de boa-vontade.
Quando escreverdes a história da nossa obra, não ireis haurir
as vossas instruções entre essas classes de homens. A falta daqueles que
deixaram a única narração que possuís da vida de Jesus, é que eles se apoiaram
muito sobre a perseguição dirigida contra Ele pela ignorância letrada, e não
tanto sobre a dignidade moral da sua existência entre aqueles que viviam perto
dEle. Esses escritores não se aproximaram daqueles que receberam diretamente o
ensino de Jesus, mas tomaram de segundas mãos as anedotas que afluíam. É
importante notar isso.
A vida pública de Jesus compreende três anos e alguns meses;
Ele preparou-se para ela durante trinta anos; comunicava-se sem cessar com o
mundo espiritual; recebia as instruções dos anjos exaltados que o inspiraram
com zelo e amor; e os seus ensinamentos o penetravam tanto melhor quanto o seu
corpo não lhe era obstáculo.
A maior parte dos espíritos encarnados na Terra, para nela
exercer um ministério, estão em uma condição corpórea que lhes obscurece a
vista espiritual e anula a lembrança da sua existência anterior. Isso não se
verificou com o Cristo, porque o seu corpo dominava tão pouco o sentimento
espiritual que Ele conversava com os anjos como se não os tivesse deixado,
conhecendo as suas vidas e recordando-se da sua precedente encarnação. Nunca a
sua memória foi obliterada; Ele passava uma grande parte do tempo fora do
corpo, em consciente comunicação com o espírito. Prolongados transes, como
chamais ao estado interior, o mantinham sempre pronto a isso, conforme
encontrareis alguns indícios nas desfiguradas passagens dos vossos anais; por
exemplo, a suposta tentação e o que é dito do seu costume de orar e de meditar
sozinho sobre o cume da montanha ou no jardim da Agonia.
Podeis também descobrir, conforme o que vos dizemos, alusões
ao seu estado, antes da encarnação, até mesmo no que se pretende que disse: “na
Glória do Pai antes do começo do mundo”. Essas alusões são numerosas.
A sua vida, pouco embaraçada pelo corpo, que era apenas um
invólucro efêmero, só assimilava o que era necessário para que o espírito
pudesse estar em contato com as coisas materiais; diferente em grau, ainda que
semelhante em espécie, à vida ordinária do homem. Uma tal vida tão
superiormente pura, simples, nobre, amante e amada, não podia ser apreciada em
seu valor pelos contemporâneos. Essas vidas são por necessidade incompreendidas,
mal interpretadas, caluniadas. Isso é assim para tudo o que sai da rotina, mas
particularmente para Ele.
A ignorância e a maldade humanas ceifaram prematuramente essa
vida divina. Os homens não deram valor algum à significação da verdade
anunciada, de que o Cristo veio ao mundo para morrer pelo mundo. Veio ao mesmo
tempo morrer pelo homem e salvá-lo, do mesmo modo, embora em um sentido ainda
mais elevado ao de todos os regeneradores dos homens, que aceitaram uma
existência terrestre por devotamento a uma imperiosa idéia mestra. A vida
terrestre os submete à morte corpórea. Nesse sentido, Jesus veio a salvar os
homens e morrer por eles, não de outro modo. O drama do Calvário é a obra do
homem e não a de Deus, que não tinha concebido de toda a eternidade a intenção
de fazer morrer Jesus quando a sua tarefa estava apenas começada. Essa morte
foi o ato do homem imundo e maldito. Isso é uma verdade capital.
Os homens teriam recebido incalculáveis bênçãos se a ampla
vida de Jesus houvesse tido o seu curso na Terra; eles não eram dignos e
repeliram, tendo apenas experimentado os bens que Ele lhes oferecia. Assim,
para todas as grandes vidas, os homens, não preparados, só recebem o que podem
compreender e deixam o resto aos séculos do futuro, ou se afastam com
impaciência, recusando ouvir o que quer que seja, e nos séculos seguintes
oferecem um culto e veneram o espírito desconhecido durante a sua encarnação
prematura. Isso também é uma verdade capital.
Repetimos ainda que o Supremo não quer impor ao homem uma
verdade para a qual não está preparado. Há para todo o universo de Deus uma progressão
ordenada, um desenvolvimento sistemático. Se os homens estivessem dispostos a
receber as verdades de que falamos, o mundo seria abençoado por uma revelação
tal como ainda não teve, desde os últimos raios de Verdade divina espalhados
por sobre eles pelos anjos. Mas o mundo não está preparado, e só o pequeno número que obteve a sabedoria
receberá agora o suco que as gerações dos séculos futuros absorverão com
alegria.
Guiada pela angélica influência, a Igreja que traz o nome do
Cristo recolheu os germens de verdade que a sua vida simbolizava, mas essas
idéias envelhecidas perderam já seu principal poder.
As três ramificações da Igreja do Cristo estão de acordo para
celebrar festas, em memória de certos acontecimentos da sua vida. Aqueles que,
fora da Igreja, recusaram conservar o jejum e as festas não são prudentes;
separam-se de uma fração de verdade. Mas a Igreja cristã conserva, em
recordação do seu chefe, o Natal, a Epifania, a Quaresma, a Páscoa, a Ascensão
e o Pentecoste, cada uma delas representando um acontecimento da vida de Jesus,
que tem uma significação espiritual oculta.
O Natal celebra o nascimento do espírito cuja encarnação simboliza
o amor e a abnegação. O espírito sublime encerra-se na carne, devota-se animado
pelo amor. É para nós a festa do esquecimento de si.
A Epifania, representação da nova luz no mundo, é para nós a
festa da compreensão espiritual. Ela não proporciona a cada um essa verdadeira
luz, mas esplende bastante alto para que todos possam vê-la e ir até ela.
O jejum da Quaresma significa perante nós os esforços da
Verdade para vencer as trevas, e a Sexta-feira Santa a festa do amor,
triunfando pelo sacrifício.
Já falamos com mais altivez sobre a Páscoa. O Pentecoste, associado
pelo Cristianismo ao batismo do espírito, tem para nós uma grande importância;
simboliza a vasta expansão da verdade espiritual sobre aqueles que procuravam
imitar a vida de Jesus. Essa festa é o complemento da Sexta-feira Santa. A
ignorância humana esmaga a verdade que não pode compreender, mas uma bênção
desce do alto domínio do espírito sobre quantos abraçaram a vida dAquele que o
mundo sacrificou. É a comemoração do espírito espalhada em rios, de graças mais
abundantes, da verdade mais imponente.
A Ascensão é a festa da vida completada; da volta do Espírito
à sua morada, da sua ruptura final com a matéria. Ela fecha a série da qual o
Natal marca o começo. É o fim, não da
vida, mas da vida terrestre, não o termo de uma existência, mas do espaço do
tempo consagrado à Humanidade pelo amor e pelo devotamento. É a festa da
obra concluída.
Se é preciso destruir, é preciso também conservar. Quisemos
completar o ensino que recebestes mostrando-vos as idéias espirituais ocultas
sob as festas aniversárias da vossa Igreja. Do mesmo modo como o Cristo, o
Salvador dos homens, libertou a verdade do jugo da ignorância e da superstição
judaica, salvamo-la hoje do peso esmagador da teologia humana. Como Ele, grande
curador das nações que quebrou os grilhões às almas progressistas e libertou-as
do domínio do mal espiritual, emancipamos o espírito dos laços do dogma humano
e fazemos pairar a verdade libertada de maneira que os homens a vejam e reconheçam
que ela vem de Deus.
Crucificação e Ressurreição. – Abnegação e
Regeneração.
– Comunicação de Páscoa 1876.
(Eu tinha pedido ensinos suficientes sobre a morte e a
vida e os seus aspectos simbólicos.)
Segundo o que dissestes da morte e da ressurreição de
Jesus, gera a morte material a porta da vida, e a morte espiritual simbolizará
a marcha para a regeneração espiritual?
Lembrai-vos do que escrevemos na última festa de
Páscoa. O simbolismo foi explicado, a saber: a ressurreição fora da matéria e não a ressurreição da
matéria. Revede.
(Reli a comunicação de 1875, que explica
simbolicamente as festas da Igreja. O Natal: abnegação, sacrifício. A Epifania:
compreensão espiritual. A Quaresma: conflito espiritual. A Sexta-feira Santa:
amor triunfante. A Páscoa: a vida revelada. O Pentecoste: a difusão do
Espírito. A Ascensão: a obra acabada.)
É assim. O curso inteiro da vida do Homem Modelo é o
emblema do desenvolvimento progressivo da vida começada na Terra e completada
no céu (para nos servirmos das vossas expressões), nascida da abnegação e
atingindo um ponto culminante por sua ascensão espiritual. O homem pode ler na
vida do Cristo a história do progresso espiritual, desde a encarnação à
liberdade. O progresso da alma, pode dizer-se, é um curso de regeneração
resumidamente simbolizada no Calvário e na Ressurreição. O velho homem com os
seus vícios é crucificado, o novo levanta-se para gozar de uma vida espiritual
e santa.
Na vida de progresso não existe parada alguma nem
paralisação, sendo preciso combater energicamente as tendências materiais e
sensuais e desenvolver as faculdades espirituais. O espírito não pode ser
purificado de outra maneira. É preciso
passar pela fornalha do sacrifício de si mesmo. O processo é o mesmo para
todos. Algumas almas mais fundamente inflamadas de zelo chegam rapidamente ao
fim glorioso, enquanto as naturezas mais pesadas devem passar por inumeráveis
ciclos de purificação. Benditos são aqueles que se podem libertar da matéria e
atravessar valentemente as ardentes provas que eliminam as escórias. Para
esses, o progresso é pronto e a purificação certa.
Sim, a luta é severa; mas sabe-se ao menos contra quem é
preciso combater?
Começai no interior. Os antigos descreviam justamente
os três inimigos da alma; o Espírito, isto é, o mundo exterior que o envolve e
os adversários espirituais que sitiam o caminho conducente ao cume; o mundo, a
carne, o diabo. Começai por vós, a carne. Conquistai-a a fim de não serdes
muito tempo cativo dos apetites, das paixões, da ambição.
Quando o egoísmo for
abolido, a alma sairá da sua célula para viver, aspirar e agir na plenitude da
fraternidade universal. É o primeiro passo. O “eu” deve ser crucificado.
Isso feito, a alma terá poucas dificuldades a vencer para desprezar
as coisas visíveis e aspirar pelas verdades eternas.
Mas, à medida que as percepções espirituais se avivam, os
inimigos tomam também um lugar proeminente. Adversários jurados do progresso e
da inteligência espirituais, eles atacarão o discípulo da verdade e serão para
ele uma causa incessante de conflito durante o período de prova. Gradualmente
eles serão vencidos pela alma fiel que quiser adiantar-se e possua o estímulo,
mas a luta nunca cessará completamente durante a vida de provação, pois é por
seu intermédio que as mais elevadas faculdades se desenvolvem e que o limiar
das altas esferas é atingido.
Tal é, em suma, a vida do espírito progressista: sacrifício
de si mesmo, pelo qual o eu é
crucificado; abnegação, pela qual o mundo é vencido; conflito espiritual, pelo
qual os adversários são repelidos; nem repouso, nem finalidade. É um combate contínuo, cujo prêmio é o
progresso perpétuo. É o incessante esforço da luz interior, que quer
brilhar no ar radioso do dia perfeito. Somente assim é que podeis conquistar o
que chamais céu.
“Sic itur ad astra”. É a idéia central do Cristianismo,
do budismo e dos ocultistas. A grande dificuldade é praticar no mundo um
sistema tão abstrato.
É nisso que está o esforço, como Jesus o disse: “Estar
no mundo, mas não ser do mundo.” O elevado ideal é pouco mais ou menos
impossível para aqueles que estão curvados sob o peso do labor diário. É por
isso que buscamos, quanto possível, afastar-vos do lado objetivo das relações
espirituais. É preciso que vos exerciteis a elevar-vos acima do material e a
deixá-lo à retaguarda. A comunhão espiritual só pode existir para os que estão
aptos a isolar-se das ânsias da vida cotidiana.
Desde muito tempo creio que o exercício da mediunidade é
incompatível com uma ocupação diária no mundo; o desenvolvimento tão rápido da
sensibilidade basta para tornar o médium incapaz de suportar os ásperos
contatos do mundo; ao menos essa agudeza sensível não atrairá ao redor dele
influências que o impeçam de trabalhar?
Isso é em grande parte verdadeiro; e, por
conseqüência, retiramos a vossa faculdade mediúnica material, o que
desenvolverá a espiritual, que não oferece o mesmo perigo. Podeis entregar-vos
a nós outros para fazermos o que é conveniente. Os riscos tornam-se sérios
quando os guias não são aptos para desempenhar a sua tarefa. Ficai satisfeito,
porquanto a vossa estrada é clara. Lembrai-vos somente de que já soou a hora e
o poder das trevas. Sede paciente.
† Imperator
(Páscoa, 1877. – A comunicação de 1877 foi o resumo de
tudo o que fora escrito sobre a vida do espírito simbolizado pela vida
terrestre de Jesus-Cristo.)
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