sexta-feira, 15 de junho de 2012

COLUNA DO PAULO TIMM(Torres-RS) - IELA lança Coleção Pátria Grande – a Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano


15/06/2012 - Sexta-feira



........entre os
quais esta, sem dúvida alguma, a superação do subdesenvolvimento e da dependência pela via socialista.
Continuação:

É evidente que o academicismo – a derrota acadêmica do intelectual –que sofremos nas universidades não é mero acidente de percurso, um modismo passageiro que a maturidade universitária um dia relegará à peça de museu. Ao contrário, o “espírito acadêmico” que atualmente domina o ambiente universitário é expressão do domínio burguês a que
estamos submetidos, o exercício da velha e famosa hegemonia burguesadestinado a mutilar a capacidade teórica e as energias políticas das novas gerações. É neste terreno que o exemplo de Ruy Mauro Marini deve ser observado e enaltecido, pois o rigor teórico de suas obras é indissociável de seu compromisso militante: no Brasil como fundador e dirigente da POLOP (Política Operária) e no Chile como intelectual e dirigente do MIR (Movimento de Izquierda Revolucionária). Estamos,portanto, diante de um duplo desafio que a geração dos sessentas soube solucionar – embora tenha sido derrotada na política – e para o qual
as novas gerações sequer estão sensibilizadas: a difícil relação entre teoria e praxis.

No momento em que os partidos políticos não mais formulam teoricamente e na prática renunciaram a ambição intelectual, é compreensível que a práxis política de muitos “militantes” esteja marcada quase exclusivamente pela ação no terreno institucional, quase que confinado ao limite parlamentar e aos comitês eleitorais. Contudo, os desafios
da dominação burguesa e os dilemas derivados do capitalismo dependente em um mundo capitalista em crise, mas cedo do que tarde colocarão de maneira dramática opções mais difíceis para as classes sociais em disputa na sociedade brasileira. Os trabalhadores e suas organizações ainda exibem certa “amnésia social”, fenômeno que implica não somente
no desconhecimento de suas grandes batalhas travadas em duras e adversas condições no passado recente, mas também ignoram a herança teórica necessária para atualizar o combate socialista sem o qual a luta política, mesmo quando orientada por espírito combativo, não faz mais do que legitimar a ordem dominante. Neste ambiente, é natural (e
trágico) observar a facilidade com que a grande maioria dos professores e mesmo intelectuais se submeteram rapidamente à razão de partido e/ou à razão de estado. Em muitos casos, atuam como assessores ou formuladores de “políticas públicas” o ocultando convenientemente o caráter de classe do estado ou alugam sem inibição seus serviços para
justificar o partido da ordem no governo; assim procedendo, antes que evitar um “retrocesso político” ou o “retorno do neoliberalismo” terminam, a despeito de suas boas intenções, limitando o destino do país e o futuro das classes subalternas ao horizonte burguês. Este novo tipo de simulação intelectual, autodenominada “acadêmica”, não passa de justificativa para uma atuação marcada pela submissão à ideologia dominante embora, seus defensores, professem todos os dias a “liberdade de cátedra” e acusem o intelectual público e militante como exemplo condenável de “ideólogo”, como se ele próprio não estivesse a serviço do estado e do capital. Com frequência este acadêmico indica a
debilidade dos movimentos sociais e a desorganização da classe
proletária como justificativa para sua respeitável adesão à ordem burguesa sem, no entanto, produzir uma única página de análiserigorosa da composição de classe, do comportamento psico-social, de suas contradições e sua força num mundo em crise. Enfim, o intelectual crítico, vinculado às classes subalternas, arredio ao oficialismo,
comprometido com um projeto revolucionário parecia até bem pouco tempo definitivamente superado entre nós. Nada disso foi desconhecido para Ruy Mauro Marini, intelectual que viveu o suficiente para observar a “direitização das ciências sociais” e a lenta erosão da combatividade da classe operária e dos movimentos camponeses sem, contudo, afrouxar
teoricamente ou aderir politicamente como forma de relevar um estranho “realismo”, funcional a dominação burguesa. A crise estrutural do capitalismo inaugurada em 2007 atualizou a necessidade do intelectual crítico, iracundo, que possui larga tradição na América Latina e que se revelará uma necessidade também no Brasil. Portanto, a crise recriou as condições sociais para a rebeldia e o trabalho intelectual vinculado diretamente aos interesses imediatos e históricos das classes subalternas, tal como expressa a importante obra e o comportamento político de Ruy Mauro Marini. Na mesma medida, ainda que de maneira imperceptível para a maioria, esta se reduzindo no país o
espaço para o “espírito de conciliação” e a “cordialidade” que marca a atuação de políticos e intelectuais, dentro e fora da universidade.

Continua na próxima Edição:

Nenhum comentário:

Postar um comentário